Indígenas seguem mobilizados para conclusão do marco temporal no STF

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) diz que, apesar da vitória, as propostas que serão apreciadas prejudicam os povos originários. STF avalia a sugestão do ministro Alexandre de Moraes para indenizar os ocupantes das terras indígenas

Indígenas acompanham sessão do STF (Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)

O movimento indígena volta a pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quarta-feira (27) durante a conclusão do julgamento que derrubou a tese do marco temporal. A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) diz que, apesar da vitória, as propostas que serão apreciadas prejudicam os povos originários.

Serão avaliadas a sugestão do ministro Alexandre de Moraes para indenizar os ocupantes das terras indígenas e outra, do ministro Dias Toffoli, que permite aproveitamento dos recursos hídricos, orgânicos e minerais delas.

Na quinta-feira (21), por 9 votos a favor contra 2, os ministros derrubaram o marco temporal, tese pela qual os povos originários só teriam direito aos seus territórios caso estivessem em sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição.

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Prevaleceu o direito originário constitucional dos povos indígenas sobre suas terras ancestrais.

De acordo com a entidade, mesmo com uma posição contrária à tese, Moraes levantou uma proposta “altamente” ameaçadora para os povos indígenas.

A Apib considera que há uma pequena parcela de proprietários que adquiriram as terras de boa-fé, mas a proposta da indenização supõe uma premiação aos invasores ilegais que representam a maioria das propriedades.

Com base nos dados do Incra e dos relatórios “Os Invasores” realizados por De Olho nos ruralistas, a entidade diz que são 1.692 sobreposições de fazendas em terras indígenas, o que representa 1,18 milhão de hectares e, desse total, 95,5% estão em territórios pendentes de demarcação.

“Com a sua proposta, Moraes ignora a vasta história de grilagem de terras no Brasil e a ação criminosa de ruralistas, que tem provocado um aumento da violência contra os povos indígenas e um crescimento do desmatamento. Entre 2008 e 2021, 46,9 mil hectares foram desmatados em áreas de sobreposição de fazendas em terras indígenas, segundo apontam os dados do relatório previamente mencionado”, diz nota da Apib.

No caso da proposta de Toffoli, a entidade diz que o ministro, ao contrário dos demais, apresentou uma temática alheia à discutida no processo.

“No último momento, o ministro trouxe uma questão que muito nos preocupa enquanto movimento indígena. O ministro preceitua teses sobre exploração econômica em terras indígenas.  A gente entende que não é momento para fazer esse debate e a forma que ele fez isso, em alguma medida, flexibiliza o usufruto exclusivo dos povos indígenas”, diz o coordenador jurídico da Apib, Maurício Terena.

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