Nazismo na Ucrânia: força reacionária de combate ao novo mundo multipolar 

Durante a visita de Zelensky, o parlamento do Canadá rendeu uma salva de aplausos em pé a um combatente nazista ucraniano de 98 anos

Membros do batalhão Azov com símbolo da Waffen SS. Imagem: reprodução

A queda do muro de Berlim e a consequente destruição da União Soviética provocaram a reorganização da então ordem mundial bipolar que contrapunha os sistemas capitalista e socialista. O primeiro liderado pelos Estados Unidos da América e o segundo liderado pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Após a destruição da URSS e o fim da Guerra Fria, a ordem mundial se orientou na unipolaridade do modelo capitalista sob a liderança dos EUA.

O sistema unipolar capitaneado pelo país norte americano desde o início dos anos 1990 não demorou a apresentar suas incapacidades e insuficiências para com os países emergentes. De fato, a ordem mundial unipolar apresentou-se na prática como uma forma de neocolonialismo contemporâneo que serviu para os países ocidentais garantirem o controle político, econômico e até mesmo territorial dos países do sul global. A governança global foi organizada de modo a atender os interesses do autoproclamado “mundo civilizado” em detrimento dos demais.

Já durante a primeira década dos anos 2000 os países emergentes passaram a se articular de maneira mais assertiva e novas organizações e iniciativas surgiram sem a presença dos países da ordem. A iniciativa BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e a OCX (Organização para a Cooperação de Xangai) são, talvez, os principais exemplos desse novo momento geopolítico e os marcos iniciais da transição do mundo unipolar para o mundo multipolar.

Apesar das constantes negativas de Washington em dizer que tais iniciativas, sobretudo os BRICS, não representam uma rivalidade à liderança dos Estados Unidos no tabuleiro geopolítico, é inegável o fato de que a agenda de desdolarização da economia mundial representa uma grave ameaça à supremacia econômica norte americana.  

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Outro fator que deve ser levado em conta, é a sólida ascensão da economia chinesa que já se tornou a maior do mundo pela paridade do poder de compra e deve se tornar também a maior em números absolutos nos próximos anos. Ainda, do ponto de vista comercial, a China é hoje o principal parceiro de mais de 120 países, o que configura outra clara evidência do fim da hegemonia econômica dos Estados Unidos.

Como parte de um processo natural, a humanidade caminha em direção ao progresso. E a ordem unipolar está transitando para a multipolaridade, com a dispersão dos centros de influência política e econômica pelo globo. Sobre a transição de um velho sistema para um novo, J. V. Stalin afirmou em entrevista à H. G. Wells:

“ … a substituição de um sistema social por outro é um processo revolucionário complicado e longo. Não é simplesmente um processo espontâneo, mas uma luta, é um processo ligado ao choque de classes. 

E cada vez que as pessoas do novo mundo chegaram ao poder, tiveram de se defender contra as tentativas do velho mundo de restaurar o antigo poder pela força.…” (Stalin, 1934).

Na mesma entrevista, Stalin ainda classifica o fascismo como uma força reacionária tentando, através da violência, preservar o velho sistema. Afirmações que, apesar de feitas há quase 9 décadas, ajudam a explicar o conflito entre Rússia e OTAN e que tem como palco central, a Ucrânia.

Ucrânia, epicentro do nazifascismo no século XXI.

A região ucraniana, que antes fora um território do império russo, possui histórico de movimentos separatistas ultra nacionalistas. Durante a II Guerra Mundial, na Ucrânia soviética, se articulou um dos movimentos mais relevantes de colaboracionismo com o nazismo alemão sob a liderança de Stepan Bandera, supremacista ucraniano que organizou ataques ao lado do invasor nazista contra o próprio povo soviético.

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Na Ucrânia, cada vez mais monumentos em homenagem ao notório colaboracionista do nazifascismo são erguidos. E durante as décadas subsequentes ao fim da União Soviética, organizações abertamente nazistas passaram a se fortalecer em todo o país. Durante os anos 2010 a própria mídia ocidental elaborou inúmeras reportagens sobre o tema: BBC, Reuters, The Guardian, Vice. Recentemente, mesmo o The New York Times não pôde ignorar a avalanche de símbolos nazistas entre as tropas ucranianas no fronte de batalha.

Até o Brasil é vítima da explosão neonazi que aconteceu na Ucrânia. Em 2016 a Polícia Federal organizou a Operação Azov, que identificou ramificações do batalhão ucraniano Azov pelo estado do Rio Grande do Sul bem como o recrutamento de neonazistas brasileiros para lutar na guerra da Ucrânia que acontece desde 2014, em decorrência do golpe de Estado financiado pelos EUA e popularmente conhecido como “EuroMaidan”.

No último dia 22 de setembro durante a visita de Zelensky, na presença do primeiro ministro canadense Justin Trudeau, o parlamento do Canadá rendeu uma salva de aplausos em pé a um combatente nazista ucraniano de 98 anos. Mesmo que tenha oficialmente se desculpado, por conta da pressão exercida pela comunidade judaica, a intenção em homenagear um soldado nazista foi clara e não deve simplesmente ser ignorada.

A definição de Stalin sobre o nazifascismo está sendo ratificada pela atual conjuntura política e pela sucessão de fatos das últimas duas décadas. Por que os senhores do mundo unipolar apostam tão alto no neonazismo ucraniano? Ora, se o nazifascismo é a força reacionária disposta aos métodos violentos para preservar o velho sistema, então é o nazifascismo o aliado de primeira hora daqueles que buscam interromper a ascensão da ordem multipolar, o novo sistema de governança global.

A resistência russa no Donbass.

Imediatamente após o golpe de Estado de 2014 acontecer em Kiev, o povo etnicamente russo em Lugansk e Donetsk se recusou a reconhecer a legitimidade do novo governo e, ao lado da Crimeia, realizaram referendos populares onde prevaleceu o voto pela separação do governo central da Ucrânia.  

         E isso se deu ao fato pela imediata repressão e perseguição por parte dos nazistas ucrânianos contra as minorias étnicas do país, onde os russos acabaram se tornando o alvo prioritário. A guerra do Donbass que acontece desde então havia vitimado mais de 14 mil pessoas antes mesmo da intervenção russa no território ucraniano.

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         A Federação Russa, buscou resolver a situação por meios diplomáticos através dos Acordos de Minsk. Por 8 anos a Rússia advogou pelo cumprimento dos acordos nos mais diversos espaços e fóruns internacionais. Os acordos, no entanto, nunca foram cumpridos e até mesmo a ex-Chanceler alemã, Angela Merkel, admitiu que o único objetivo dos acordos era possibilitar que a Ucrânia ganhasse tempo para se desenvolver e conseguir o apoio necessário do ocidente.

A memória sobre a agressão nazista que custou a vida de 27 milhões de soviéticos durante a 2ª Guerra Mundial segue vívida entre o povo russo. Quase todas as famílias têm um ente que lutou contra o invasor durante a Grande Guerra Patriótica, como é conhecido o conflito na Rússia. Portanto, uma resposta firme à uma nova agressão de caráter nazista seria simplesmente inevitável.

A operação militar especial deflagrada pela Federação Russa no território ucraniano tem como objetivo desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia, proteger os russos étnicos dos recorrentes ataques neonazistas na região do Donbass, além de prezar pela integridade territorial da própria Rússia. O início da guerra, contudo, veio acompanhado também de uma resposta civil.

Em setembro de 2022 aconteceu o referendo popular pela adesão das regiões de Lugansk, Donetsk, Zaporozhye e Kherson à Federação Russa. Tal qual aconteceu com a Crimeia em 2014, a população das quatro regiões votou a favor de se tornar parte do território russo. Imediatamente a comunidade internacional condenou a realização do referendo e o classificou como ilegítimo.

Curiosamente, essa mesma comunidade internacional reconheceu, na Venezuela, um sujeito que se autoproclamou presidente da República Bolivariana sem ter tido um único voto sequer para isso. Foi o caso de Juan Guaidó, que foi recebido com pompas de chefe de Estado por diversos países ocidentais após tentar um golpe de Estado fracassado e sem apoio popular.

Ainda, essa mesma comunidade internacional organizou missões de observação eleitoral internacional para manipular relatórios e interferir em processos eleitorais, tal qual aconteceu na Bolívia em 2019. Após o relatório fraudado pela Organização dos Estados Americanos, acusando Evo Moralez de fraude eleitoral, Jeanine Áñez se autoproclamou presidenta do Estado Plurinacional da Bolívia e também foi prontamente reconhecida pelos países ocidentais, sem ter tido um único voto sequer para isso.

O reconhecimento internacional de processos internos é importante, mas apenas quando serve para ratificar a vontade popular expressa em tais processos. Quando serve de instrumento para a promoção de interferências externas e para manipular a opinião pública, perde toda a legitimidade. Afinal, o maior fator legitimador de qualquer processo político é o povo.

E novamente o povo do Donbass deu seu recado à hipócrita comunidade internacional, onde têm voz apenas os países ocidentais. Durante as eleições regionais que aconteceram entre 8 e 10 de setembro na Federação Russa, a participação expressiva dos residentes do Donbass no processo eleitoral teve papel legitimador de todo o processo histórico que se desenrola na região.

Mesmo num momento tão delicado de conflito armado, a população do Donbass foi às urnas para eleger seus representantes municipais e regionais, além de integrar-se definitivamente ao sistema político da Federação Russa. Ou seja, independente das opiniões externas, o povo russo do Donbass segue firme na resistência contra a nova agressão nazista e em seu retorno para casa, que tende a ser um caminho sem volta e o grande marco de ruptura da velha ordem unipolar para o novo mundo multipolar.

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