Eleições na Polônia geram incerteza na direita e otimismo na oposição

Partido que controla de forma autoritária a mídia e o judiciário enfrenta o crescimento da centro-esquerda e o risco de não conseguir formar o governo.

O opositor Donald Tusk foi recebido como se estivesse num comício da vitória em Varsóvia na noite de domingo.

As eleições gerais realizadas na Polônia neste domingo (15), deixaram o país em um estado de incerteza política, com o partido populista de direita Lei e Justiça (PiS) a caminho de conquistar a maioria dos assentos no parlamento, mas enfrentando desafios significativos para garantir um terceiro mandato. O líder do PiS, Jaroslaw Kaczynski, admitiu publicamente sua incerteza sobre a capacidade do partido de manter o poder.

Independentemente dos desdobramentos futuros, as eleições na Polônia sinalizam uma divisão profunda na sociedade polonesa e uma necessidade urgente de encontrar soluções que garantam a estabilidade política e a representatividade do governo.

De acordo com uma sondagem de boca de urna, o PiS obteve 36,6% dos votos, enquanto a oposição centrista, liderada pela Coligação Cívica de Donald Tusk, conquistou 31%. Embora isso dê ao PiS a liderança, é importante observar que esses números refletem principalmente as áreas rurais e cidades menores, historicamente leais ao partido. Uma segunda pesquisa da Ipsos reforçou esses resultados. O resultado oficial será confirmado na terça-feira, mas já suscita várias questões cruciais para o futuro político da Polônia.

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A vitória da Coligação Cívica é uma vitória significativa para Tusk e seu partido, que buscavam encerrar oito anos de governo do PiS. Ele prometeu melhorar as relações da Polônia com a União Europeia e desbloquear fundos de recuperação da pandemia que estavam congelados devido a reformas judiciais polêmicas conduzidas pelo PiS. Se as sondagens à boca-de-urna se confirmarem, a Coligação Cívica poderá ter uma oportunidade de formar uma coalizão ampla, incluindo a Terceira Via e a Lewica (Esquerda).

O comício da vitória de Tusk em Varsóvia foi marcado por um clima exultante, com o político proclamando o fim dos “tempos difíceis” e do governo do PiS. No entanto, a disputa política na Polônia está longe de terminar, já que vários desafios surgem no horizonte.

Uma das principais incertezas diz respeito à formação do governo. Tradicionalmente, o presidente Andrzej Duda, aliado do PiS, nomearia o líder do maior partido para tentar formar um governo. Neste caso, isso significaria que o PiS teria a primeira oportunidade de construir uma coalizão. No entanto, o PiS parece não ter um caminho claro para garantir uma maioria no parlamento. Com base nas sondagens à boca-de-urna, eles teriam apenas 198 lugares, abaixo dos 231 necessários para uma maioria. Mesmo se contassem com o apoio do partido de extrema-direita Confederação, ainda ficariam aquém.

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Enquanto isso, a oposição, formada por uma coalizão diversificada da Coligação Cívica, Terceira Via e Esquerda, parece ter uma chance maior de formar um governo com maioria, contando com 248 cadeiras potenciais.

Formar uma coalizão entre partidos tão heterogêneos da oposição pode ser um desafio. Eles têm visões diferentes em questões-chave, como aborto e a influência da Igreja Católica nas instituições do Estado. Além disso, qualquer tentativa de reformar o sistema judicial e os meios de comunicação público, que foram criticados por sua falta de independência, pode enfrentar oposição do presidente Duda e do Tribunal Constitucional, que é controlado por juízes afins ao PiS.

Instituições da República sob controle

Uma das questões fundamentais que surgiram nestas eleições é a independência do sistema judicial e da mídia pública. Observadores internacionais, incluindo a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), destacaram a cobertura tendenciosa dos meios de comunicação estatais e o uso indevido de fundos públicos que beneficiaram o PiS. A independência judicial também é uma questão crítica, com o controle do partido sobre o Tribunal Constitucional levantando preocupações.

Além disso, as eleições na Polônia tiveram uma participação notável, atingindo aproximadamente 72,9%, a mais alta desde a queda do socialismo em 1989. A maioria dos eleitores jovens, entre 18 e 29 anos, compareceu às urnas, sinalizando um crescente engajamento político entre a juventude polonesa.

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No entanto, o PiS, apesar de liderar na pesquisa, pode não ter uma maioria no parlamento, o que poderia levar a desafios para a formação de um governo eficaz. Além disso, o desempenho abaixo do esperado do partido de extrema-direita Confederação dificulta ainda mais a formação de uma coalizão estável.

Se nenhuma solução for alcançada, o presidente Duda poderá convocar novas eleições, o que poderia resultar em meses de instabilidade política. Com uma Polônia dividida e a incerteza em relação ao futuro político do país, a batalha pela liderança do governo e a direção que o país tomará em questões-chave, como sua relação com a União Europeia e a independência das instituições democráticas, continuam no centro do debate.

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