Profissionais de saúde apelam à ONU pelo cessar fogo no Oriente Médio

Entidade com 130 associações insta líderes mundiais a intercederem pela vida e segurança de civis na região atingida pelo conflito

Policial palestino socorre bebê durante conflito entre Israel e o grupo extremista Hamas | Foto: Mahmud Hams/AFP

Profissionais de saúde de todo o mundo, representados pela Federação Mundial de Associações de Saúde Pública (The World Federation of Public Health Associations – WFPHA em inglês), enviaram uma carta ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, nesta segunda-feira (16), solicitando o resgate de vítimas civis no conflito entre o Hamas e o Estado de Israel, no Oriente Médio.

Representada no Brasil pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), o documento, assinado por Luis Eugênio de Souza, presidente da WFPHA, destaca a preocupação com as milhares de vidas perdidas e os feridos em meio a uma luta que afeta principalmente civis inocentes, incluindo crianças, mulheres e idosos.

A carta descreve a situação como uma “luta insana e desumana” e faz um apelo emocionado pela saúde e vida dessas pessoas. O grupo não toma partido nas complexas diferenças políticas que levaram ao conflito, mas enfatiza a necessidade urgente de pôr fim à violência injustificável.

Os profissionais de saúde pedem aos líderes globais e às partes envolvidas que usem todo o seu poder, influência e voz para impedir a continuidade do sofrimento. “Todos sabemos que o paradigma olho por olho e dente por dente só levará a mais perdas e sofrimento. Isto tem que parar. Use seu poder para que isso aconteça”, diz trecho do documento.

A carta que é endereçada nominalmente ao presidente do Conselho de Segurança, o embaixador brasileiro Sergio Danese, ao secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, ao presidente de Israel, Isaac Herzog, ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, e às autoridades palestinas, incluindo Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina. O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom, o Papa Francisco e os ministros da Saúde das nações envolvidas também estão entre os destinatários.

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Além disso, a WFPHA também insta as autoridades a tomar medidas emergenciais, como o realocamento de “mulheres e crianças para terras ou mares seguros nas proximidades, seja em campi hospitalares, navios-hospitais ou mesmo navios de cruzeiro que possam acomodar a todos sob a supervisão das Nações Unidas”. A organização destaca a grave escassez de alimentos, energia, água e insumos de saúde na região, enfatizando a importância de restabelecer essas necessidades essenciais.

O grupo expressa preocupação com a destruição de serviços de saúde, incluindo hospitais, e a interrupção do acesso a água potável, alimentos e medicamentos, além da falta de eletricidade e combustível que agrava ainda mais a crise humanitária na região.

“Como defensores da paz para que a vida e a saúde possam reinar, registamos com imenso pesar a destruição de serviços essenciais de saúde, incluindo as indispensáveis instalações hospitalares, a interrupção do acesso à água potável, à alimentação e ao fornecimento de medicamentos, vacinas, soros, sangue e outros suprimentos de saúde. A interrupção da eletricidade e do combustível impede que a vida continue e que os serviços que a protegem permaneçam operacionais.”

A carta foi enviada no dia em que o Conselho de Segurança realiza sua terceira reunião em pouco mais de uma semana na tentativa de aprovar uma resolução que permita a assistência humanitária na Faixa de Gaza, que se encontra à beira de um colapso.

A seguir, leia a íntegra traduzida da carta.

Caro senhor/senhora,

Nós, membros da Federação Mundial de Associações de Saúde Pública (wfpha.org), uma entidade com 130 associações nacionais e mais de 5 milhões de profissionais de saúde em todo o mundo, lamentamos profundamente o sofrimento humano causado até agora pela guerra entre o Hamas e o Estado. de Israel: cerca de 10 mil vidas humanas perdidas e mais de 15 mil feridos, mutilados e deficientes, além de milhares de afetados mentais para sempre. A maioria são civis inocentes: crianças, mulheres e idosos.

Como defensores da paz para que a vida e a saúde possam reinar, registamos com imenso pesar a destruição de serviços essenciais de saúde, incluindo as indispensáveis instalações hospitalares, a interrupção do acesso à água potável, à alimentação e ao fornecimento de medicamentos, vacinas, soros,

sangue e outros suprimentos de saúde. A interrupção da eletricidade e do combustível impede que a vida continue e que os serviços que a protegem permaneçam operacionais.

Perante esta horrenda situação humanitária e sanitária, como profissionais de saúde que defendem prioritariamente a vida, decidimos dirigir-nos aos líderes mundiais e às partes em disputa – arrogando-nos falar em nome de todos os seres humanos de boa vontade que habitam esta típica casa que é o nosso planeta Terra – com a seguinte mensagem:

Viemos até vocês para implorar pela saúde e pela vida de civis palestinos e israelenses inocentes, idosos, mulheres, homens, crianças e bebês apanhados nesta luta insana e desumana entre o Hamas e o Estado de Israel.

Nesta conjuntura, não tomamos partido nas diferenças políticas da situação complexa que levou ao que vemos e testemunhamos como violência injustificável contra vidas humanas.

Isto tem que parar agora, imediatamente. Como seres humanos, não podemos normalizar o sofrimento dos nossos irmãos e irmãs, sob pena de nos tornarmos menos humanos.

Tudo o que queremos de você é usar todo o seu poder, influência e voz para impedir esta manifestação insana de puro mal. Você pode trazer luz onde há sombra, esperança onde há desespero e ajuda onde há necessidade.

Atenda às advertências e apelos do Secretário-Geral e de muitas agências especializadas das Nações Unidas sobre as consequências atrozes das hostilidades. Use seu poder para acabar com eles imediatamente. Acabar com os bombardeamentos, a principal causa de morte, ferimentos e mutilação entre a população civil inocente.

Use a sua influência para levar as mulheres e crianças para terras ou mares seguros nas proximidades, seja em campi hospitalares, navios-hospitais ou mesmo navios de cruzeiro que possam acomodá-los a todos sob a supervisão das Nações Unidas.

Os meios financeiros são necessários e estão, sem dúvida, disponíveis, dependendo da boa vontade da comunidade internacional.

Todos sabemos que o paradigma olho por olho e dente por dente só levará a mais perdas e sofrimento. Isto tem que parar. Use seu poder para que isso aconteça.

Atenciosamente,

Luís Eugênio de Souza
Presidente da WFPHA

Geneva, 16 de outubro 2023

O documento original, em inglês, pode ser acessado aqui.

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