Terror no supermercado

Para meu azar, reflito ao fim: aquele supermercado, faz um mês, foi palco de assaltantes contra um carro-forte. Tiroteio pesado. Terror nos olhos do vigilante.

Não sei se a razão foi porque eu acabara de encontrar um leitor entusiasmado com o que escrevo, e de quem até agora não sei o nome (mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa), o certo é que eu estava de espírito leve, querendo abraçar o mundo e suas contradições. O que é justo, mas tem que ponderar, como falaria o velho Machado de Assis. No entanto, eu entrei firme na leveza.

Daí que à saída do supermercado, com as minhas compras parcas, mas ancho, avisto um vigilante. E digo a ele:

– Você, um trabalhador, arrisca a sua vida pra defender o patrimônio dos outros.

O diabo foi que ao lhe falar, o vigilante mal me olhava, ou melhor, mau me olhava, porque seus olhos iam de um canto a outro, passando sobre mim. Então eu fui na direção do seu olhar e vi: naquele exato instante, seus colegas transportavam malotes de dinheiro do supermercado. E refleti adiante, enquanto caminhava: “esse vigilante me tomou como um assaltante que desejava desviar sua atenção”. Contra isso ele estava de espingarda 12, colete à prova de bala contra qualquer solidariedade. Ainda bem que não fui ao ponto de retirar da sacola um iogurte para ele. Receberia bala de 12 de volta pelo gesto suspeito.

Para meu azar, reflito ao fim: aquele supermercado, faz um mês, foi palco de assaltantes contra um carro-forte. Tiroteio pesado. Terror nos olhos do vigilante. Terror de quem eu seria.  Terror no supermercado.

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