Tanara quer aliar tecnologia de ponta ao desenvolvimento e preservação da Amazônia

A engenheira da UFAM assumiu o desafio da Subsecretaria para a Amazônia, do MCTI, comprometida com a prioridade que o Governo Lula tem dado à região

anara Laushner e a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos

A professora Tanara Lauschner, ex-pró-reitora de Inovação Tecnológica da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), aceitou o desafio para ocupar o cargo de subsecretária para a Amazônia no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e já apresenta sua abordagem para a vinculação entre ciência, tecnologia e inovação e as riquezas e perigos que envolvem a região amazônica. Em uma entrevista ao Portal Vermelho, ela compartilhou suas perspectivas sobre essa nova missão e as expectativas para seu trabalho no governo federal.

A engenheira eletricista Tanara Lauschner, cuja área de atuação está centrada na ciência da computação, descreveu como o convite a pegou de surpresa, considerando seu compromisso com diversos projetos e sua participação no Comitê Gestor da Internet (CGI). Ela é consultora do Programa Meninas Digitais, co-fundadora do Movimento Cunhantã Digital, coordenadora-geral do SUPER – Projeto Samsung/UFAM de Educação e Pesquisa e coordenadora do Programa Youth do CGI.br.

No entanto, o foco do governo na preservação da Amazônia e o aumento dos recursos destinados à região a convenceram da importância de sua participação. Ela destacou a prioridade dada à Amazônia pelo governo, mencionando os projetos de desenvolvimento sustentável em andamento na região. Essa perspectiva a motivou a se juntar à equipe do MCTI, mesmo que isso signifique abrir mão temporariamente de outras responsabilidades.

“Entendendo a prioridade que o governo Lula está dando e vai continuar dando para a Amazônia, os projetos todos que estão sendo pensados, o recurso todo que está sendo disponibilizado para a Amazônia, isso tudo me fez pensar que, realmente, é algo que precisa de alguém que possa tocar. Então, é melhor eu participar dessa equipe e tentar ajudar da melhor maneira possível, mesmo que momentaneamente eu tenha que abrir mão de algumas coisas”, refletiu ela. A nova estrutura pode contar com recursos da ordem de R$ 4 bilhões, levando em conta que terá verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

A pesquisadora expressou sua determinação em contribuir para a gestão da Amazônia no MCTI, apontando que seu papel é provisório e que seu compromisso com a pesquisa e a academia continua. No entanto, ela reconhece a importância de sua nomeação e a oportunidade de trabalhar em prol do desenvolvimento sustentável e da preservação da Amazônia.

A nomeação da professora Tanara Lauschner é vista como uma estratégia para promover o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental na Amazônia, alinhando-se com a prioridade dada à região pelo governo federal. Com sua experiência em ciência da computação e compromisso com o avanço sustentável, ela traz uma valiosa perspectiva para a gestão de questões críticas na região amazônica.

Tanara traz uma abordagem inovadora e multifacetada para seu papel na subsecretaria. Combinando sua experiência em ciência da computação com um compromisso sólido com o desenvolvimento sustentável e a preservação da Amazônia, ela tem a ambição de explorar novas soluções e abordagens para os desafios enfrentados na região. Seu compromisso com o desenvolvimento sustentável e a inovação tecnológica promete trazer uma nova perspectiva para a gestão da Amazônia.

Tecnologia para o desenvolvimento sustentável

No início de outubro, Tanara participou do Fórum sobre Governança da Internet (IGF), da Organização das Nações Unidas (ONU), realizado em Kyoto, no Japão. O encontro aborda temas sobre o futuro da internet e os impactos globais. Essa intersecção entre tecnologia, sustentabilidade e desenvolvimento humano é vital em um momento pelo qual passamos, com a emergência climática afetando milhares de pessoas na Amazônia, fumaça de queimadas sufocando cidades inteiras e o isolamento físico dificultando a logística de apoio”, disse ela, na ocasião.

Ao se referir aos projetos que pretende liderar na subsecretaria para a Amazônia, Tanara identificou áreas-chave, como meio ambiente, biodiversidade e bionegócios. Além disso, planeja explorar como as tecnologias de ponta podem apoiar o desenvolvimento sustentável e a preservação da Amazônia. Sua pesquisa anterior na área de inteligência artificial e monitoramento florestal com sensores servirá de base para essas iniciativas.

Ela revelou que já está trabalhando na formulação de um programa de desenvolvimento sustentável para a Amazônia, com financiamento do FNDCT. Essa iniciativa pretende explorar a ligação entre tecnologia de ponta e a preservação da Amazônia, aproveitando sua experiência na área da computação.

“Existe um polo muito importante sendo desenvolvido com startups, com institutos de ciência e tecnologia na região, principalmente na região da Amazônia Ocidental. A gente não parte do zero, pois existem recursos humanos e pesquisas sendo desenvolvidas nesse sentido. Mas eu acho que a gente também não deve olhar só pra esse lado. Eu acho que a questão da preservação do meio ambiente, óbvio, é importantíssima, mas tem várias outras pesquisas que são desenvolvidas na Amazônia Legal, que também precisam de incentivo”, ponderou ela.

Ela reconhece prontamente que a Zona Franca desempenha um papel crucial na região, particularmente devido à lei de informática específica para a Amazônia Ocidental, que visa promover o desenvolvimento tecnológico na região, apoiando a produção de bens e serviços de informática e automação.

Tanara esclareceu que, embora a Suframa seja responsável pela Zona Franca, o MCTI também desempenha um papel importante na implementação e fiscalização da lei de informática nacional. Isso garante que as regulamentações estejam alinhadas e que os projetos sejam avaliados de acordo com critérios específicos, criando indicadores para medições de resultados.

Tanara enfatizou que a lei de informática é um tópico significativo para a região, e, no Ministério, ela coordenará as políticas relacionadas a esta área. Ela acredita que o polo industrial de Manaus pode contribuir para o desenvolvimento sustentável da região e identificou o potencial em bionegócios e negócios relacionados ao extrativismo na Amazônia.

Tanara imagina a criação de uma ponte entre o Polo Industrial de Manaus e o desenvolvimento sustentável da região, onde inovações tecnológicas podem contribuir para a promoção de negócios ecologicamente responsáveis.

A Zona Franca tem desempenhado um papel significativo na economia local, atraindo empresas de tecnologia e manufatura para a região. Com o compromisso de Tanara em encontrar soluções sustentáveis, a Zona Franca e o desenvolvimento sustentável podem andar de mãos dadas. Ela acredita que a região pode explorar as sinergias entre o setor industrial e a preservação do meio ambiente, promovendo um crescimento econômico equilibrado e ecologicamente consciente.

Adaptação à mudança climática

A professora Tanara destacou o papel vital da ciência e tecnologia na busca de soluções para enfrentar as secas dos rios e as queimadas e incêndios que assolam a região amazônica. Ela destacou a importância de investir em pesquisa na geografia, meio ambiente, geologia e ciência da computação para lidar com estas crises. Ao prever e preparar as autoridades e comunidades para enfrentar essas crises, a ciência e a tecnologia podem desempenhar um papel crucial.

“Manaus ficou vários dias coberta de fumaça, com pessoas tendo problemas respiratórios e tudo mais, por conta das queimadas. Eu acho que a gente pode fazer algo no ministério em relação a essa tragédia”, afirmou.

Tanara discutiu os avanços em pesquisa e tecnologia, destacando os esforços do Instituto de Computação em áreas como inteligência artificial aplicada ao meio ambiente e sensores para monitoramento da floresta. Ela enfatizou a necessidade de alinhar a tecnologia com a preservação ambiental, demonstrando um compromisso claro com a inovação sustentável.

Ela acredita que a ciência e a tecnologia têm um papel fundamental na previsão de eventos climáticos extremos, como as secas decorrentes do fenômeno El Niño. Tanara salientou que embora a ciência não possa alterar fenômenos naturais como este, ela pode desempenhar um papel importante na prevenção e na preparação para situações de emergência. A capacidade de prever secas e incêndios iminentes e a disponibilidade de soluções criativas e inovadoras são cruciais para mitigar os impactos desses desastres na região amazônica.

A subsecretária também mencionou um projeto em andamento para dragar parte do Rio Negro, permitindo que embarcações naveguem, mesmo durante períodos de seca. Esse tipo de iniciativa é um exemplo de como a ciência e a tecnologia podem fornecer soluções práticas para lidar com as condições desafiadoras da região, garantindo o transporte fluvial contínuo, que é crucial para a economia e a vida cotidiana das pessoas.

A abordagem de Tanara destaca a importância da inovação científica e tecnológica como um meio de enfrentar desafios ambientais e climáticos cada vez mais prementes na região amazônica. Sua visão de utilizar a ciência para aprimorar a prevenção e a preparação pode ser a chave para proteger a floresta tropical e suas comunidades contra as ameaças crescentes.

A pasta do MCTI foi anunciada pela ministra Luciana Santos no início do mandato. O ex-deputado Eron Bezerra, especialista em ciências do ambiente e sustentabilidade, chegou a ser anunciado para assumir o cargo, mas entraves burocráticos impediram sua nomeação. Segundo Tanara, conhecendo seu trabalho, foi o professor Eron que a sondou para o cargo.

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