Como os brasileiros veem o trabalhador do setor público

De acordo com o Datafolha, 63% afirmam que os funcionários públicos não são respeitados. Para 55%, os servidores, por regra, não têm boas condições para atender o cidadão.

Ao avaliar o trabalho dos servidores públicos no Brasil, a sociedade em geral é mais justa do que os políticos. Enquanto o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), tenta ressuscitar uma reforma administrativa que retira direitos, a maioria dos brasileiros defende a valorização desses trabalhadores.

É o que aponta a pesquisa Datafolha divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo nesta sexta-feira (27), véspera do Dia do Servidor Público. De acordo com o levantamento, 63% afirmam que os funcionários públicos não são respeitados. O Datafolha não fez distinção entre servidores federais, estaduais e municipais, nem entre trabalhadores do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.

Na opinião de 55% dos entrevistados, os servidores, por regra, não têm boas condições para atender o cidadão. Essa falta de estrutura nos equipamentos públicos parece despertar empatia nos usuários. Para 84% dos brasileiros, suas vidas podem melhorar se houver funcionários públicos “bem preparados em cargos importantes do governo, como diretores de hospitais, diretores de escolas e coordenadores de áreas sociais”.

Há muitos mitos sobre o trabalho no setor público, e um deles foi detectado pelo Datafolha: 25% acham que todos os servidores – ou a maioria deles – ganham salário superior ao teto estabelecido pela Constituição (de R$ 41.650,92). Na realidade, somente 0,06% tem remuneração acima do teto, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2022.

“Uma minoria inexpressiva com muitos privilégios contamina a visão que a população tem do servidor. Isso prejudica a reputação da maior parte dos funcionários públicos”, analisa a cientista social Clarissa Malinverni, diretora do Movimento Pessoas à Frente. Dos 11 milhões de servidores no Brasil, 70% recebem salários de até R$ 5 mil.

Embora a pesquisa não questione diretamente os entrevistados, parece haver pouca adesão à ideia (falsa) de que o serviço público no Brasil tem trabalhadores em excesso. Os 11 milhões de funcionários públicos no País representam apenas 12,4% da população brasileira economicamente ativa. Segundo o República.org, esse índice é inferior ao dos Estados Unidos (13,56%), da Argentina (19,31%), da França (20,28%) e da Dinamarca (30,34%).

Mas os brasileiros concordam que faltam estímulos às diversas carreiras no setor – até mesmo para combater práticas criminosas. Para 79%, a profissionalização do serviço público “contribui para o combate à corrupção”. Daí o apoio majoritário a medidas como a realização de concursos públicos, a progressão profissional e mais oportunidades de desenvolvimento.

Ao mesmo tempo, cobra-se transparência nos dados sobre cargos comissionados e de confiança, que dispensam concurso público. Um total de 82% de entrevistados afirma que o governo deve fornecer mais informações à população sobre esses servidores não concursados.

As políticas afirmativas, tão combatidas sob o governo Jair Bolsonaro (PL), recebem significativo apoio popular. Conforme a pesquisa, 86% defendem “ações para promover e garantir igualdade de gênero no serviço público”. As políticas de inclusão racial têm apelo ainda maior: 89% concordam com essas ações afirmativas específicas.

Encomendada pelo Movimento Pessoas à Frente, a pesquisa Datafolha sobre entrevistou 2.025 brasileiros, de 11 a 18 de setembro, em todas as regiões do País. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

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