Marchas levam consciência negra Brasil adentro

Marchas ocorreram por todo o país denunciando o racismo que persiste na desigualdade de oportunidades e na violência institucional contra a população negra.

A 20ª edição da Marcha da Consciência Negra em São Paulo reuniu milhares de participantes de entidades do movimento negro, partidos políticos, movimentos populares e sindicatos na emblemática Avenida Paulista. A concentração teve início ao meio-dia, no Vão Livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), marcando o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro em memória de Zumbi dos Palmares.

A Marcha da Consciência Negra não se limitou a São Paulo, inclusive gerando imagens por Campinas, Guarulhos, São Bernardo do Campo, Jundiaí, Sorocaba e outras cidades do interior. No Rio de Janeiro, as celebrações começaram cedo, com atividades no monumento de Zumbi dos Palmares. Diversas manifestações culturais, como capoeira e apresentações do grupo Afoxé Filhos de Gandhi, contribuíram para a atmosfera festiva.

Veja imagem da Marcha de Campinas (SP):

O evento, conduzido pelo Bloco Afro Ilú Obá de Min, conseguiu atrair uma presença predominante de jovens, que homenagearam as gerações militantes anteriores reverenciadas em cartazes e discursos. Além das figuras históricas, como Dandara e Zumbi, a ativista quilombola Bernadete Pacífico, recentemente executada na Bahia, foi homenageada.

A marcha foi marcada por reivindicações contundentes, sendo o fim da violência de Estado contra a população negra e periférica uma das principais demandas. A Operação Escudo na Baixada Santista, destacada como a intervenção formal mais letal da Polícia Militar de São Paulo desde o massacre do Carandiru em 1992, foi duramente criticada. Os agentes do Estado, acusados de tortura e execuções, causaram a morte de 33 pessoas em apenas 46 dias de ação.

Diversas lideranças e membros do movimento negro expressaram seu compromisso e resistência. Monique Brasil, integrante do Movimento Brasil Popular, ressaltou: “Vim somar minha voz às dos meus irmãos e irmãs, não só em um momento simbólico de luta pelo povo negro, que vem sendo perseguido pelo Estado, mas também como demonstração de que, geração após geração, nós estamos de pé.”

Flávio Jorge, da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), ressaltou a tradição da data, criada em 1978, e a importância dos atos de rua. Ele destacou que o feriado estadual em São Paulo, conquistado este ano, é uma vitória do movimento negro.

Os grupos também realizaram eventos e atos em outros regiões de São Paulo. Na Zona Norte, o movimento Luta Popular realizou a Marcha da Periferia da Brasilândia em defesa de educação de qualidade, vida digna, saúde pública, cultura e lazer. O tema do encontro era anticapitalista, anti-imperialista e antirracista.

O Dia da Consciência Negra também foi marcado por homenagens a Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata, figura influente para o surgimento do samba carioca. Um cortejo no Centro do Rio celebrou sua contribuição à cultura brasileira.

Imagem de Fernando Frazão/Agência Brasil na celebração do Rio de Janeiro:

Sergipe

No último sábado, dia 18 de novembro, as ruas do Centro de Aracaju foram palco da Marcha da Consciência Negra, um evento que não apenas celebrou a cultura negra, mas também denunciou o preconceito racial em Sergipe e em todo o Brasil. Em um cenário muitas vezes silencioso sobre o racismo, a manifestação trouxe à tona a urgência de enfrentar e vencer as diversas formas de violência racial presentes no cotidiano da população.

Sindicalistas destacaram a contradição entre a enorme contribuição cultural da ancestralidade negra na formação do povo brasileiro e a persistência de diversas formas de violência racista. Durante o protesto, Carlos Augusto, presidente do Sacema (sindicato de trabalhadores do saneamento), denunciou a venda da Deso (Companhia de Saneamento de Sergipe) como um ato racista. Ele argumentou que privatizar serviços públicos impacta desproporcionalmente a população negra, prejudicando o acesso a serviços essenciais, como educação de qualidade.

A manifestação, que contou com a participação de várias organizações do movimento negro, movimentos sociais e o movimento sindical de Sergipe, foi marcada por uma rica programação cultural desde a concentração na Catedral Metropolitana de Aracaju até o Quilombo Urbano da Maloca. A jornada incluiu manifestações artísticas de grupos de Hip Hop, apresentações teatrais, músicas e culto ecumênico religioso, destacando a riqueza da cultura negra e a importância de se unir contra o racismo.

Abaixo, imagem de Aracaju:

Veja imagens da marcha Zumbi Dandara em Porto Alegre (RS):

Em Florianópolis (SC), a Marcha ocorreu no Largo da Alfândega.

A data, instituída em 2011, é uma homenagem à memória de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra e da luta contra a escravidão. Apesar das conquistas e celebrações, líderes e ativistas ressaltam que ainda há muito a ser feito na luta contra o racismo e na busca por igualdade social. A Marcha da Consciência Negra continua sendo um espaço vital para fortalecer o movimento e inspirar ações concretas na promoção da igualdade racial no Brasil.

Imagem de ato em Teresina (PI):

Acontece nesta segunda (20), quando se celebra o Dia da Consciência da Negra, a 15ª edição da lavagem da Estátua Zumbi dos Palmares, na Praça da Sé, Centro Histórico de Salvador.

O evento é marcado pela presença de baianas que utilizam alfazema, água e flores durante o ato. No candomblé, a lavagem é considerada celebração à ancestralidade.

A ação destaca os 20 anos da Lei 10.639, que institui o ensino da História e da Cultura Afro-brasileira, que dá as diretrizes para uma educação antirracista no Brasil.

O evento é realizado pela União de Negras e Negro pela Igualdade (Unegro). Este ano, a lavagem conta com a participação das escolas públicas Padre José Vasconcelos e Abílio César Borges, e dos bairros de Sussuarana, Uruguai, Alto de Ondina e Pirajá.

Inaugurada no Centro Histórico de Salvador em 2008, a estátua de Zumbi dos Palmares é tida pelo movimento negro como símbolo de representatividade nacional, na luta contra o racismo e pela igualdade.

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