União pode continuar ação contra invasores de terra indígena, decide Barroso

Determinação reverte decisão tomada pelo ministro Nunes Marques para que governo parasse operação de desintrusão, em favor de associações de produtores rurais da região

Indígenas Apyterewa. Foto: Thiago Gomes/Agência Pará, via Agência Brasil

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, determinou que a União deve dar prosseguimento à retirada de invasores das Terras Indígenas Apyterewa e Trincheira Bacajá, no Pará. A decisão reverte posicionamento adotado pelo ministro Nunes Marques em defesa da paralisação dessas ações. 

Nunes Marques havia determinado a suspensão da retirada dos intrusos, em especial do uso da força pela polícia, a pedido de duas associações de produtores rurais da região. O ministro escreveu que deveria ser assegurado aos “colonos” o “livre trânsito” na área.

Diante dessa decisão, a Advocacia Geral da União (AGU) comunicou o gabinete da presidência do STF que a decisão de Nunes Marques, tomada por meio de um recurso extraordinário, continha uma contradição com o que foi determinado pelo Plano de Desintrusão.

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A AGU argumentou que o objeto da ação da União era assegurar a reintegração da posse das terras dos índios Parakanã, da aldeia Apyterewa e impedir que alguma conduta contrária à medida fosse adotada ou que fosse dificultada a definitiva demarcação da terra indígena.

Em sua decisão, Barroso apontou que o Plano de Desintrusão das Terras Indígenas Apyterewa e Trincheira Bacajá, que atualmente se encontra em fase de execução, “foi elaborado por determinação deste relator e devidamente homologado”, e “não está sujeito a decisão revisional de outro ministro”. 

A decisão de Barroso foi tomada no âmbito da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 709, que tem por objeto ações e omissões por parte do Poder Público que colocam em risco a saúde e a subsistência da população indígena no país.

Operação

A operação de desintrusão das terras indígenas Apyterewa e Trincheira Bacajá, que entrou em sua segunda fase no dia 9 de novembro, consiste na retirada de pessoas que estão irregularmente dentro dos territórios tradicionais, assim como combater atividades ilegais, entre elas extração de madeira e garimpo. Estima-se que mais de 3 mil invasores estejam na região.

Desde que a operação teve início, órgãos do governo federal apreenderam agrotóxicos, madeira ilegal, armas de fogo, drogas e gado criado de forma ilegal. Em novembro, a Polícia Federal prendeu o presidente de uma associação de trabalhadores rurais acusado de incentivar a invasão das áreas indígenas.   

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A operação foi iniciada em no início de outubro, em cumprimento a decisão judicial devido à ocupação irregular, por não-indígenas, de parte das terras Apyterewa (homologada em 2007)  e Trincheira Bacajá (homologada em 1996) localizadas entre os municípios de São Félix do Xingu, Altamira, Anapú e Senador José Porfírio, no Pará. 

Cerca de 1.600 famílias viviam ilegalmente na região, algumas envolvidas em atividades ilegais como criação de gado e garimpo, além de destruírem a vegetação nativa.

Nas terras homologadas vivem cerca de 2.500 indígenas das etnias Parakanã, Mebengôkre Kayapó e Xikrim, distribuídos em 51 aldeias. Há também registros de indígenas isolados e de recente contato no território.