Cúpula Social do Mercosul tem posição crítica ao acordo com europeus

Celso Amorim, assessor especial da Presidência, disse em entrevista que o acordo oferece pouco e exige muito. Cúpula de Líderes do Mercosul acontece no próximo dia 7

Foto: Tânia Rêgo/Agência BrasilFoto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Na Cúpula Social do Mercosul, que ocorreu na segunda-feira (4) e terça-feira (5), representantes da sociedade civil criticaram o atual acordo que é costurado entre o grupo com a União Europeia.

O presidente Lula cumpriu agenda na Alemanha com a finalidade de fortalecer o entendimento para um desfecho ainda este ano, depois de 20 anos de negociações. Mas no que depender das ideias da Cúpula que serão levadas ao encontro de chefes de estado do Mercosul no próximo dia 7, o acordo não deve ocorrer.

Segundo os debatedores da sociedade civil, o entendimento é que o acordo da maneira que está é desigual, o que cria prejuízos aos sul-americanos. A base do atual texto foi delineada em 2019, sob o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

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Em uma das mesas de debate, Raiara Pires, do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), pede o encerramento das atuais tratativas e que seja realizada nova proposta em outras bases. “Em um acordo dessa dimensão, apenas um ano é insuficiente para rever o texto inicial apresentado pelos desgovernos anteriores. Um recomeço seria mais estratégico nessa desigualdade de relação de forças. Nosso poder de barganha precisa ser fortalecido e aprimorado. Trocas entre nações sempre aconteceram, mas não precisam ser feitas de qualquer forma. Podemos assumir posição de soberania e fortalecer esse governo para ter posicionamento altivo”, defendeu Raiara.

Adhemar Mineiro, da Rede Brasileira de Integração dos Povos (Rebrip), seguiu na mesma linha: “Os movimentos sociais desse nosso lado do Atlântico e os europeus se aproximaram, porque querem discutir acordos em novas bases, que não sejam só comerciais. Temas de solidariedade entre os povos e de sustentabilidade devem ter prioridade. Então, por que insistir em um acordo que reforça a característica primária-exportadora das economias da América do Sul e não buscar um outro modelo de integração?”, questionou.

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De acordo com o embaixador Philip Fox-Drummond Gough, Diretor do Departamento de Política Econômica, Financeira e de Serviços, do Ministério das Relações Exteriores, as negociações atuais visam retirar do acordo o monitoramento europeu sobre desmatamento, deixar a parte de política industrial focada em contas governamentais e retirar setores inteiros do acordo, como o que foi feito com a saúde, como forma de ter liberdade para enfrentar desafios iguais ao da pandemia de Covid-19.

Em carta ao final da Cúpula foi lida uma manifestação crítica ao acordo.

Oferta e exigência

Em entrevista ao Valor, o assessor especial da Presidência da República, Celso Amorim, disse que o acordo “oferece pouco” e “exige muito”. Na entrevista, ele colocou que a decisão com o atual acordo de livre-comércio é difícil e questionou se vale a pena seguir em frente só por seguir, sendo que o tratado não tem agradado parte dos europeus, como o presidente francês Emmanuel Macron, e encontra resistência entre políticos e setores do Mercosul.

*Com informações Agência Brasil. Edição Vermelho, Murilo da Silva

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