Lula defende ações do governo: “Não tem mágica na economia, nem pirotecnia”
Em entrevista coletiva, presidente comenta recuo no IOF, juros altos com Galípolo, fraudes no INSS, licenciamento ambiental, sanções dos EUA, redes sociais e conflitos internacionais.
Publicado 03/06/2025 16:15 | Editado 04/06/2025 17:22

Ao responder às críticas e polêmicas da semana, durante entrevista concedida a jornalistas em Brasília nesta terça-feira (3), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurou mostrar disposição para o diálogo, defendeu a responsabilidade fiscal com justiça social, reafirmou compromissos com a democracia e a soberania e se posicionou como liderança internacional em defesa da paz e dos direitos humanos. “Eu não falo só como presidente do Brasil. Falo como ser humano”, disse ele ao final, após criticar o genocídio em Gaza.
Diante das críticas à medida provisória que previa o aumento do IOF para compensar a desoneração da folha, afirmou que não houve erro por parte do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e que o governo agiu com agilidade diante de um impasse criado no Congresso: “Foi uma resposta rápida para dar tranquilidade à sociedade”, disse .
Segundo Lula, o aumento do IOF era apenas uma entre várias alternativas em debate para cumprir a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que exige compensações fiscais. Ele ressaltou que medidas como essa devem ser amplamente discutidas com os líderes do Congresso antes de serem enviadas. “Não tem segredo. Estamos reunindo os líderes, discutindo alternativas. O Brasil precisa colocar as contas em ordem. E economia não tem mágica”, afirmou.
Sobre os benefícios fiscais, Lula criticou os efeitos da desoneração para setores mais ricos: “Você desonera quem pode e prejudica quem não pode? Não gerou emprego, não gerou estabilidade. Precisamos governar para todos, não para 35% da população”.
Juros altos e Galípolo no Banco Central: “Confio que vai fazer o necessário”
Lula afirmou que a recente manutenção da taxa de juros básica pelo Banco Central, sob a presidência de Gabriel Galípolo, já era esperada pelo governo. “A gente já sabia que ia acontecer”, disse, ressaltando que a inflação está sob controle e que espera em breve uma queda dos juros.
Mesmo com taxas elevadas, o presidente vê crescimento econômico e crédito circulando, especialmente para pequenos e médios empreendedores. “Se para controlar a inflação for preciso ter fome, não é possível aceitar. É preciso outro caminho. E eu tenho 100% de confiança na idoneidade do Galípolo, que vai fazer o que precisar”, declarou.
Fraudes no INSS: “Nada de pirotecnia, mas vamos ressarcir os aposentados”
Sobre as fraudes em descontos ilegais em benefícios do INSS, Lula criticou o espetáculo midiático com que casos assim geralmente são tratados e afirmou que seu governo está agindo com seriedade e responsabilidade. “Podíamos ter feito um show, mas preferimos investigar com a Polícia Federal, CGU e AGU”, disse.
Lula garantiu que os aposentados lesados serão ressarcidos e que as entidades envolvidas só serão responsabilizadas após a comprovação de irregularidades. “Quem errou vai pagar. Mas não vamos crucificar ninguém sem provas. Quem não pode ser punido são os aposentados.”
Licenciamento ambiental: “Atritos sempre vão existir, e o Ibama tem responsabilidade”
Ao comentar críticas sobre a lentidão nos processos de licenciamento ambiental, Lula defendeu o papel técnico do Ibama e afirmou que o governo trabalha para recompor o quadro de servidores dos órgãos ambientais. “A Marina Silva me consulta sobre tudo”, disse ele sobre as reações recentes da ministra no Senado. “O Ibama tinha 700 funcionários a menos do que em 2010. É óbvio que há atrasos.”
O presidente afirmou que divergências entre os que querem licença e os que devem concedê-las são normais e que é preciso equilíbrio para evitar tanto omissões quanto autorizações precipitadas: “Se o Ibama errar, o Ministério Público vai para cima. Eles têm muita responsabilidade.”
Sanções dos EUA contra Alexandre de Moraes: “Respeitem a soberania do Brasil”
Lula criticou com veemência as declarações de autoridades americanas e a possibilidade de sanções contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, chamando a postura de “inadmissível”. Para ele, nenhum país deve interferir nas decisões da Suprema Corte de outro.
“Os Estados Unidos têm que compreender que o respeito às instituições é fundamental. Vamos defender nosso ministro e nossa Suprema Corte. O que é grave é ver deputado brasileiro ir aos EUA pedir intervenção na política brasileira. Isso é antipatriótico, é provocação.”
Redes sociais: “Não é liberdade de expressão promover mentira e ódio”
Em defesa da regulamentação das redes sociais, Lula afirmou que o ambiente digital não pode ser um território sem lei. “Não é possível que dois ou três cidadãos que comandam plataformas queiram determinar as regras da sociedade”, declarou.
Segundo ele, é preciso separar liberdade de expressão de ataques à democracia e à dignidade das pessoas. “Estamos tirando a liberdade de espalhar safadeza. O golpe de 8 de janeiro não foi liberdade de expressão. Vamos vencer essa batalha e regulamentar com participação democrática.”
Conflitos internacionais: “O que ocorre em Gaza é genocídio”
Lula reafirmou seu posicionamento crítico à ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza, classificando a situação como genocídio: “Não é guerra, é um exército matando mulheres e crianças”. O presidente ressaltou que até ex-líderes e militares israelenses têm denunciado os abusos.
Sobre a Ucrânia, reiterou que o Brasil defende uma solução diplomática e a paz negociada. “O Brasil sempre defenderá a autodeterminação dos povos e a paz. Nenhum povo é cidadão de segunda classe. O povo palestino tem direito ao seu Estado e a viver com dignidade.”