Debate: Você se sente seguro nas ruas de Natal?
Artigos sobre segurança Pública publicados no Diário de Natal (O POTI), no dia 13 de maio de 2007, na coluna “Ponto – contra – ponto”.
Publicado 18/05/2007 18:03 | Editado 04/03/2020 17:08
SIM
Carlos Castim – Secretário de Estado de Segurança e da Defesa Social do RN
“Me sinto seguro sim. Se comparada a outras capitais do país, Natal é uma cidade ainda provinciana.”
O sentimento de estar seguro em determinada localidade é uma questão subjetiva. É indiscutível que os fatores psicológicos de cada ser humano, que se alteram sob a forma de emoções, impedem que possa haver uma unanimidade de sentimentos em torno de qualquer aspecto do convívio social.
Sendo assim, duas pessoas que residem em uma mesma localidade de uma determinada cidade, podem ter sentimentos bem diferentes em relação à questão do estado de segurança. É difícil avaliar se Natal é uma cidade segura baseando-se apenas no que as pessoas sentem. A pergunta é indutiva. Alguém que mora na cidade há 30 anos e nunca foi assaltado, provavelmente dirá que se sente seguro nas ruas. Já um turista, que desembarcou em Natal há poucas horas e foi vítima de assalto pouco tempo depois, provavelmente dirá que não se sente seguro. Quem tem a razão neste caso?
Particularmente, me sinto seguro sim. Se comparada a outras capitais do país, Natal é uma cidade ainda provinciana, com ares de metrópole. Observamos alguns hábitos interioranos nas pessoas que aqui residem, como por exemplo, gente que dorme no quintal de casa e cadeiras nas calçadas até tarde da noite.
Quantos seqüestros foram realizados em Natal nos últimos anos? Quantos bancos foram assaltados? Quantos atentados foram praticados contra instituições, sejam elas de caráter público ou privado? Quantas organizações criminosas, do porte do PCC e do Comando Vermelho, agem em nossas ruas? Essas situações, vistas rotineiramente em algumas capitais nacionais, são raras na Cidade do Sol.
Claro que nós enfrentamos problemas em nosso Sistema de Segurança Pública e não negamos isso. Temos dificuldades com alguns policiais que estão nas ruas? Sim, temos. A estrutura do aparelho de segurança é carente de recursos, de equipamentos e de material humano? É sim. Negar essa realidade, que é vista por todos, seria como tentar esconder a verdade.
Apesar de todas as deficiências, Natal ainda pode ser considerada uma cidade segura. Ainda existem pessoas comprometidas com o servir, com o exercício íntegro de sua profissão de agente de segurança. Recentemente, a cidade foi eleita a capital mais segura do Nordeste e a segunda do país. E não foram as autoridades estaduais que fizeram essa eleição.
E para que essa sensação de segurança não se perca, está sendo desenvolvida, dentro da Secretaria da Segurança Pública e da Defesa Social, uma gestão de planejamento estratégico e organizacional, que visa garantir uma prestação de serviço de qualidade à população e resgatar a auto-estima de todos os que fazem parte do nosso Sistema de Segurança.
Em razão das mudanças realizadas no policiamento da capital no último mês, batemos recorde no número de apreensão de armas de fogo. Também tivemos redução de 37% no número de homicídios, em relação a março, na Grande Natal. Esses são frutos do trabalho que começou a ser implantado na PM e na Polícia Civil. Ainda temos muito que fazer e melhorar, mas tenho certeza que as metas serão alcançadas, pois creio nessa nova visão de gestão com ênfase no planejamento estratégico, na Inteligência, na organização e na ação integrada das nossas instituições policiais.
NÃO
Marcos Dionísio -Coordenador de Direitos Humanos da Secretaria de Justiça do RN
“A insegurança urbana é uma herança do pós-guerra e atingindo a todos, é mais perversa em comunidades carentes.”
A chance de um brasileiro perder sua vida de forma violenta é maior do que a de um habitante da Faixa de Gaza ou de qualquer outra região em guerra, excetuando-se o caso particular do Iraque.
A violência de Natal está longe dos índices de Recife e Vitória, todavia, a sensação de insegurança vem crescendo com crimes contra o patrimônio praticados até em condomínios fechados e com a elevação de 20% no número de homicídios de um ano a outro.
Cresce também na esteira da violência contra a mulher, crianças, idosos e homossexuais, das torcidas organizadas, no trânsito, criminosos de transnacionais, seqüestros virtuais e reais, violência policial, grupos de extermínio e nos grampos trazidos à luz pelo diligente Ministério Público.
A insegurança urbana é uma herança do pós-guerra e atingindo a todos, é mais perversa em comunidades como F. Camarão, V. Dourado e M. Luíza, com plêiades de mortes juvenis cometidas com armas de fogo o que já levou a Governadora Wilma de Faria a afirmar que o país vive uma guerra civil, já existindo muitas famílias como a de Dona Socorro e Seu José Felipe, que já contam com dois filhos assassinados.
O medo é realimentado à luz do sol e da lua por assaltos a taxistas, nos ônibus e paradas, feiras, mercadinhos e praças abandonadas pela população que, intimidada, tenta blindar-se , exercitando o que o Cláudio Lembo bem chamou de pensamento burguês branco e egoísta e que, sem saber, vai pegando o atalho mais fácil , segundo a cultura do medo, de Barry Glassner, para a solidão e outras enfermidades.
A explosão do consumo do crack e do álcool aliado à incapacidade das nossas polícias de alcançarem a excelência do atendimento do SAMU e dos profissionais da saúde nos nossos prontos socorros, também somam forte para o medo.
E lembrando da insegurança da nossa indigente educação, nos valemos de Bertrand Russel para quem os homens nascem ignorantes, mas não estúpidos, tornando-se estúpidos pela falta de oportunidade em civilizar-se.
Diferente das outras capitais, Natal retomou o desenvolvimento sem, entretanto, distribuir riquezas, mas concentrando-a e expulsando famílias para a periferia, degradando o meio ambiente e a já precária qualidade de vida.
Em 20 dias, cinco pessoas da minha convivência tiveram celulares ou carros roubados sob ameaças de arma de fogo (em Petrópoles, Tirol, M.Branco V. Dourado e Candelária), assim como lembramos facilmente de episódios em que tiveram carros roubados o pai do ex-governador, o secretário de segurança , vereadores, deputados e empresários. Isso no andar de cima. No andar de baixo, o não registro é a regra, tal a impunidade.
Para romper o atual ciclo, é preciso transversalizar políticas sociais com ações na segurança pública ancoradas no diagnóstico, planejamento e monitoramento social, com criação do consórcio metropolitano de enfrentamento da violência, fortalecimento da ouvidoria e do Gabinete de Gestão Integrada, visando enfrentar o tráfico de armas/ drogas / lavagem de dinheiro e não buscar-se o encarceramento da pobreza, pois a polícia federal vem demonstrando que a origem das nossas mazelas não está nos jovens das periferias barrados nos bailes do consumo, mas num andar um pouco acima.