Saúde na capital permanece um problema

Artigo de Júlia Roland, presidente do Comitê Municipal de São Paulo do PCdoB

Em 2004 Serra teceu severas críticas à situação do sistema de saúde na capital, jogando papel importante para derrotar Marta Suplicy. Apresentou propostas com certo impacto na mídia e na opinião pública, algumas eram novidades e outras representavam programas já existentes mas com nova roupagem.


 


Na categoria de novidade, merece destaque a proposta de enviar pelo correio os medicamentos dos usuários do SUS. O programa chamado “Remédio em casa” foi implantado para diabéticos e hipertensos controlados. A cada 75 dias o paciente deve passar por nova consulta. Mas, se o paciente usar outro tipo de medicação terá que ir buscá-la na UBS (unidade básica de saúde). Não é sem razão que dos pouco mais de 60 mil cadastrados a metade desistiu do programa. De outro lado, as unidades tem metas de pacientes para incluir nos programas e por isso cadastram pacientes que moram ao lado e como a demanda de consultas com clínicos é maior que a oferta, os pacientes “não controlados”(necessitam de mais consultas), encontram mais dificuldades para serem atendidos.Não existe também nenhuma avaliação do programa na qualidade de vida dos pacientes e com frequência faltam medicamentos nas unidades de saúde . Essa falta não se dá por escassez de recursos para adquirir os medicamentos. Mensalmente são destinados 7,6 milhões entre recursos municipal , estadual e federal. O problema fundamental está na distribuição. Em dezembro o almoxarifado foi terceirizado pela atual gestão.   A qualidade do serviço piorou, apesar da informatização das unidades, processo iniciado na gestão anterior.


 


Outro programa,  o “Mãe Paulistana”, repaginou o “Nascer bem”. Substituiu o vale-transporte em papel pelo cartão magnético personalizado para a gestante usar nas consultas durante o pré-natal e oferece algumas peças do enxoval do bebê, mas a garantia da maternidade nem sempre ocorre.


 


As AMAS ,apresentadas como a grande solução, é um Pronto Atendimento, que assim como o fracassado PÁS começa a mostrar suas fragilidades. O CRM realizou pesquisa que revela , em mais da metade das unidades, mais de 1 hora o tempo de espera pela consulta; a maioria dos pacientes que demandam outras necessidades não tem continuidade no tratamento e passam a recorrer com freqüência ao pronto atendimento, sem solucionar seu problema . A gestão terceirizada das Amas tem “quarteirizado” a contratação de médicos para burlar os direitos trabalhistas.


 


A gerencia do SAMU  ( Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) é precária. Faltam funcionários e ambulâncias para garantir a rapidez indispensável  nestas situações e sobra recursos em aplicação no mercado financeiro.Em 2006 dos 20 milhões repassados pelo governo federal só 3,2 milhões foram utilizados enquanto morrem pessoas por falta deste serviço.


 


O atendimento por especialistas é outra novela. A gestão atual centralizou a distribuição de vagas, passando por cima da regionalização do SUS, fazendo com que o paciente cruze a cidade de São Paulo para ter uma consulta em determinada especialidade.


 


Também não houve investimento no PSF (Programa de Saúde da Família), crescem os casos de dengue e malária na capital.


 


Portanto, os problemas existem em todos os níveis de atenção à saúde. A imagem vendida de que Serra, “o melhor ministro da saúde”, resolveria a saúde de São Paulo foi mais um  engodo que iludiu os mais desavisados. Em agosto será realizada A Conferencia Municipal de Saúde. Cabe à população organizada exigir que o poder público cumpra os preceitos constitucionais de que a saúde é dever do estado e direito do cidadão.


 


Respeitar as características do SUS garantindo profissionais necessários nos postos de saúde e no PSF; investir fortemente nos ambulatórios de especialidades em todas as regiões da cidade, principal gargalo do sistema na capital ; assumir com competência a gestão do serviço de urgência são medidas indispensáveis para avançar na construção de um sistema de saúde com qualidade.