Salipi homenageia Torquato Neto

O segundo dia do Salão do Livro do Piauí foiextra-oficialmente o Dia de Torquato Neto. O poeta piauiense homenageado pelo evento este ano teve sua obra abordada como tema de duas palestras. A primeira, “A canção híbrida de Torquato Neto”, aconteceu pela m

Feliciano Bezerra apresentou o conteúdo de seu livro homônimo que faz uma profunda análise da carreira de Torquato como poeta e letrista e sua importância para a música brasileira. “Apesar de ter produzido outros gêneros como crônica e material jornalístico, a poesia era a sua espinha dorsal”, disse o palestrante que abriu a palestra chamando o Anjo Torto de “querido mas não tão amado ou compreendido Torquato Neto”. “Suas poesias e letras são profundamente marcadas por um hibridismo: há um cruzamento de informações estéticas retiradas de vários linguagens”, conceitua. Feliciano citou um comentário do músico e professor José Miguel Wisnik que considera a poesia de Torquato Neto de uma “intensa fluidez entre música e letra.”



A criatividade e a inquietação literária do poeta eram tantas que era comum que ele se reapropriasse de seus versos para criar trechos para outros poemas. “Torquato fazia sínteses poéticas, intervenções em seus próprios textos. Ele repetia frases de crônicas escritas por ele mesmo em outras poesias, letras de música e até mesmo em falas de filmes e vice-versa”, contou Feliciano.



IMAGENS – Não bastasse o grande painel traçado pelo palestrante sobre a vida de um dos ícones piauienses, a palestra foi enriquecida com a exibição de um rico acervo fotográfico com o registro da intensa militância do piauiense na vida cultural do Rio de Janeiro e São Paulo a partir da década de 1960.



Chamou atenção sobretudo uma imagem de Torquato ainda jovem em uma festa na casa de Vinícius de Moraes. O ano é 1966. Vestindo terno e gravata e de copo na mão, ele está rodeado pelo Olimpo da música brasileira: Braguinha, Tom Jobim, Paulinho da Viola, Francis Hime, Zé Keti e Chico Buarque são alguns dos presentes. A imagem expressa bem a afirmação de Feliciano Bezerra ao ressaltar que a Cultura naqueles tempos era feita em grupos. “Hoje ela se tornou individualizada”. E Torquato, como mostrou o palestrante



Outra imagem mostrava um prodigioso Torquato, aos 22 anos, ao lado de Caetano Veloso e Capinan, um de seus muitos parceiros musicais (foto) . “Naquela idade, ele já havia lido todo o acervo do cânone ocidental da poesia e literatura. Foi ele quem teria apresentado os grandes escritores a Caetano e Gil”, exagerou.



Depois de enumerar as muitas parcerias de Torquato Neto com grandes nomes da MPB, Feliciano Bezerra chamou atenção para a retomada de sua obra em duetos póstumos. Zeca Baleiro, Fagner, Sérgio Brito (Titãs) e Luís Melodia são alguns dos nomes responsáveis por musicar letras ainda desconhecidas do piauiense.



Amanhã tem mais Torquato Neto no Salipi: na sala que recebe seu nome serão exibidos filmes da Geração Super 8, jovens que faziam cinema em Teresina na década de 1970. Uma das jóias é “Terror da Vermelha”, dirigido pelo próprio homenageado do V Salão do Livro do Piauí.


 


Com Eugênio Rêgo
Jornal Diário do Povo