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Movimento negro quer feriado nacional em homenagem a Zumbi

Organizações do movimento negro querem tornar feriado nacional o dia 20 de novembro, data em que o ícone da resistência negra à escravidão, Zumbi dos Palmares, foi assassinado. A proposta foi discutida na 3ª Assembléia Nacional do Congresso de Negras e

“Achamos que Zumbi dos Palmares também merece um feriado da mesma forma que Tiradentes. Um feriado dá um sentido mais simbólico porque é uma data importante para o movimento negro, mas não é tão conhecida pela sociedade em geral”, diz Julião Vieira, membro da coordenação nacional do congresso e da União dos Negros pela Igualdade (Unegro).


 


Ele lembrou que em alguns municípios o dia 20 de novembro já é considerado feriado. Segundo Julião, em São Paulo, são 15 municípios, além da capital do Rio de Janeiro. As organizações do movimento negro querem agora fazer uma campanha em favor da instituição do feriado por meio de camisetas, seminários e debates.


 


A Marcha


 


Em São Paulo, segundo o coordenador nacional da Unegro, Edson França, os movimentos devem mobilizar cerca de 50 mil pessoas no dia 20 de novembro.


 


''No ano passado mobilizamos 20 mil para a Marcha do Dia Nacional da Consciência na capital paulista. Neste ano, nossa expectativa é que 50 mil participem da manifestação. O tema prinicipal da marcha será a violência. Vamos denunciar o genocídio à juventude negra que ocorre pelas mãos do tráfico e do Estado em todas as capitais brasileiras'', disse Edson ao Vermelho.


 


O tema da violência também apareceu com força no Encontro Nacional da Juventude Negra (Enjune), realizado no mês passado. Protestos, em várias cidades do país, registraram a insatisfação da juventude com a violência que tem sido praticada, dentro e fora das comunidades, à população negra.


 


A 3º Assembléia


 


Os cerca de 600 participantes, de 20 estados, da 3ª Assembléia Nacional Congresso de Negras e Negros também defenderam isenção do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) para casas que funcionam como templos de religiões africanas, como o candomblé. Foi discutida ainda a possibilidade da realização de uma campanha contra a discriminação a religiões africanas no Brasil e também sobre violência contra jovens negros.


 


Os ativistas ainda defenderam a votação do projeto de lei que institui o Estatuto da Promoção da Igualdade Racial, proposto pelo senador Paulo Paim (PT-RS), em tramitação no Congresso Nacional.


 


Segundo Julião, a dificuldade de tramitação da proposta está na criação de um fundo para financiar a promoção da igualdade racial. Segundo ele, ainda não há consenso entre os parlamentares sobre essa proposta. “Mas não há como viabilizar políticas afirmativas sem verba”, pondera.


 


Na sexta-feira (12), durante a abertura da 3º Assembléia, a ministra da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Matilde Ribeiro, defendeu a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial e reivindicou um novo marco jurídico no Brasil, capaz de ampliar o espaço para as ações afirmativas.


 


Além destas pautas, a assembléia também evidenciou as diferentes concepções latentes no movimento negro.


 


Concepções


 


''Há três concepções que disputam opinião no movimento negro. Uma é aquela que podemos chamar de 'afrocentrada', já que defende que a principal contradição humana é a racial, mesmo considerando a relevância da questão econômica. Outra concepção é a que defende que o racismo e o debate de classe andam casados, ou seja, sempre haverá racismo enquanto houver capitalismo. E uma última, a mais conservadora de todas, é a que acredita que o racismo é um problema individual e são as soluções individuais que poderão superar o dilema de raça'', explicou Edson.


 


Contudo, a marca da 3º Assembléia, segundo o ativista, foi busca pela mais ampla unidade do movimento.


 


''A avaliação é que nós passamos por um período de grandes dificuldades. A unidade não é um ato de vontade, mas um desafio político a se construir, ainda mais em um país continental como o nosso. Eu costumo dizer que estamos em um momento da 'construção progressiva da unidade'. Há também um sentido profundo da busca dessa unidade. Por isso, penso que esse processo todo de preparação ao Conneb tem sido muito positivo. Esticamos a corda até o limite e estamos conseguindo dar cabo ao processo de construir estratégias para o movimento negro, que é muito maior do que as nossas diferenças. Esse para mim, foi o grande ganho desta 3º assembléia'', acrescentou.


 


Congresso cumulativo


 


Já foram realizadas três assembléias nacionais preparatórias ao Conneb e centenas de plenárias regionais e estaduais que as antecederam. Ao todo, o movimento estima já ter mobilizado 15 mil pessoas até o momento.


 


A próxima assembléia nacional está prevista para fevereiro de 2008 no Rio Grande do Sul. O estado do Pará também deverá abrigar outra assembléia prevista para abril. A última a se realizar será na Bahia, também no próximo ano.  


 


''Conforme estamos divulgando há algum tempo, são cinco assembléias nacionais e vários seminários que darão corpo ao Congresso de Negros e Negras. Por isso, o sentido das assembléias não é o de definir resoluções, mas sim de ir acumulnado para que lá na Bahia a gente possa produzir um documento final que poderá servir como orientação geral a todas as entidades do movimento negro'', destacou Edson.


 


As três maiores entidades nacionais do movimento, Conen (Coordenação Nacional de Entidade Negras), MNU (Movimento Negro Unificado) e a Unegro, participam da Coordenação Política Nacional do Conneb, integrada também pelas demais entidades nacionais e mais dois representantes por estado.


 


Foto: Jesus Carlos/Imagem Latina


 


Fonte: da Redação, com informações da http://www.ciranda.net/spip/