Descoberta brasileira: nova fonte de células-tronco
Um estudo realizado por pesquisadores brasileiros da Universidade de São Paulo (USP), veiculado na edição on-line da revista Stem Cells e será publicado em breve na edição impressa, demonstrou que o cordão umbilical, jogado no lixo pelos bancos que extrae
Publicado 25/10/2007 13:39
O estudo demonstrou que são mínimas as chances de isolar o tipo de células-tronco de maior interesse quando elas são extraídas do sangue de cordão umbilical, como fazem os bancos. Mas a taxa de sucesso é altíssima quando a extração é feita a partir do próprio cordão, que atualmente é descartado.
Com a descoberta, os bancos de cordão umbilical precisarão rever imediatamente seus procedimentos de coleta, cultivo e armazenamento de células-tronco, de acordo com a pesquisadora que liderou o estudo, Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da FAPESP.
Segundo a geneticista, o cordão umbilical, ao contrário do sangue que ele contém, é muito rico em células-tronco mesenquimais, o tipo de células-tronco adultas que se diferencia em maior número de tecidos, e, conseqüentemente, é o mais promissor para o desenvolvimento de novas terapias.
“Conseguimos isolar células-tronco mesenquimais em uma de cada dez amostras extraídas do sangue. Quando as amostras eram extraídas do cordão umbilical, conseguimos isolar grandes quantidades em todas as amostras”, disse Mayana à Agência FAPESP.
Segundo ela, o sangue do cordão umbilical é rico em células-tronco hematopoiéticas, que têm potencial para formação de sangue. São, portanto, ideais para uso em terapias de doenças sangüíneas como leucemia e anemia falciforme. Mas as células mesenquimais podem formar tecidos como músculo, osso, cartilagem e gordura, aumentando extraordinariamente o potencial de aplicação.
“Nossa angústia é que os bancos coletam e armazenam o sangue e depois jogam no lixo o cordão umbilical, que é precioso por ser rico em células-tronco mesenquimais. Fazemos um apelo para que eles guardem esses cordões”, destacou.
A cientista ainda não sabe que custos uma adaptação das técnicas teria para os bancos. “Ainda estamos estudando como guardar o cordão inteiro. Ao ser processado e isolado, ele gera uma imensa quantidade de células mesenquimais, que depois podem ser congeladas e expandidas. Mas ainda não sabemos se é possível congelar o cordão inteiro e recuperá-lo depois, como se faz com o sangue”, disse.
Mayana lembrou que existem trabalhos anteriores descrevendo o isolamento de células-tronco mesenquimais a partir do cordão umbilical, mas seu potencial não havia sido quantificado. “Por isso, fizemos um estudo pareado, com dez amostras do cordão e do sangue do cordão do mesmo bebê, nas mesmas condições, com o mesmo processo”, explicou.
Segundo ela, já estão sendo feitos estudos em modelos animais para o uso de células mesenquimais na substituição de tecido muscular – o que pode ser útil para o tratamento de doenças degenerativas – e de tecido ósseo, que poderá permitir a recomposição de ossos fraturados.
“As doenças genéticas não podem ser tratadas com as células-tronco dos próprios doentes, mas também seria fundamental coletar o cordão umbilical dessas pessoas para estudar como os genes se expressam em diferentes linhagens, entendendo a doença e testando drogas nessas linhagens”, ressaltou.
Bancos públicos e privados
Tanto os bancos de cordão umbilical públicos como os privados coletam o sangue e descartam os cordões. “Mas, no caso dos bancos privados, as pessoas estão pagando para preservar as células-tronco imaginando que estão garantindo o futuro do filho. Elas precisam saber que a probabilidade de utilização é muito pequena se elas não forem células-tronco mesenquimais”, disse Mayana.
De acordo com a cientista, nas principais aplicações terapêuticas do uso do sangue de cordão umbilical, o transplante autólogo – isto é, de células do próprio paciente – é de pouca eficácia. “Em compensação, se um banco público tiver de 10 mil a 12 mil amostras, estima-se que a chance de se encontrar uma amostra compatível para um caso de leucemia é de 100%. Isso acabaria com o desespero de quem precisa, hoje, procurar um parente para doar a medula óssea em um caso desses. É um imenso benefício”, disse.
As células-tronco mesenquimais, de acordo com Mayana, podem ser importantes de diversas formas. “No caso de uma doença genética como a fibrose cística, não podemos usar células-tronco mesenquimais para corrigir o problema pulmonar que ela causa, mas elas podem ser usadas no futuro para reconstituir um osso ou um dente, por exemplo”, destacou.
O artigo Multipotent stem cells from umbilical cord: cord is richer than blood!, de Mayana Zatz e outros, pode ser lido por assinantes da Stem Cells em http://stemcells.alphamedpress.org/.
Fonte: Agência Fapesp