Violência policial nas favelas conta com aval da sociedade, alerta pesquisadora
A relação de conflito entre a favela e o resto da cidade, que desconhece e estigmatiza as comunidades mais pobres, associando-as à violência, foi o principal destaque do seminário Favela é Cidade! Violência e Ordem Pública, aberto no dia 29, no Rio de
Publicado 29/10/2007 21:29 | Editado 04/03/2020 17:05
O encontro é organizado pelo Instituto Universitário de Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Iuperj) e Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) para debater os resultados de uma pesquisa divulgada, no dia 25, pelas duas instituições, que ouviu 150 moradores de 45 favelas do Rio de Janeiro, das cerca de 700 que existem no estado, totalizando mais de 1,5 milhão de moradores.
O levantamento concluiu que os moradores de comunidades querem e precisam da presença da polícia, mas condenam ações violentas que vêm sendo realizadas. Segundo o estudo, a maior crítica à ação policial nas comunidades é a de que as operações não distinguem “pessoas de bem” de “marginais”.
De acordo com pesquisador do Iuperj, Luiz Machado da Silva, a pesquisa e o seminário são importantes para dar a voz aos favelados que vivem sob a “lei do silêncio” por medo de traficantes, policiais e membros de milícias.“Os moradores das favelas estão absolutamente espremidos entre várias formas de violência: policial, do tráfico, das milícias. Eles estão silenciados por todos os lados”, afirmou.
Sociedade desconhece realidade das favelas
Para ele, um dos motivos da violência policial é o aval da sociedade que desconhece a realidade das favelas. “A violência policial é defendida, com toda a clareza, por quem não mora nos territórios da pobreza. Ela é respaldada por uma defesa da opinião pública quase universal”, disse.
Dulce Pandolfi, pesquisadora do Ibase e da Fundação Getulio Vargas, afirmou que embora o tráfico seja uma realidade, o clima de guerra criado em torno das favelas está sendo utilizado para acentuar preconceitos e discriminações históricas.
''A favela não é percebida como parte da cidade. É percebida como um quisto que precisa ser eliminado. Ao longo da história do Brasil, do século 20 inteiro, quando surgiram as primeiras favelas, sempre se deu um tratamento de eliminação, por diversas maneiras, ou removendo ou intervindo de forma discriminatória'', afirmou Dulce.
''Com um discurso de que ali é um centro da violência do crime, da marginalidade, nunca foi dado tratamento digno às favelas e hoje está muito pior. Se tem uma proximidade geográfica muito grande e uma distância cultural enorme”.
Integração favela e cidade
A pesquisadora defendeu a integração da favela à cidade e também criticou a polícia. “A polícia e a Justiça são os órgãos encarregados de garantir a cidadania. O problema é que a gente tem instituições muito falhas, todo mundo sabe hoje em dia que a polícia não tem atitudes cidadãs'', aponta.
''Ela não entra na favela respeitando os diretos civis, pelo contrário. O princípio de qualquer sociedade é o respeito aos direitos humanos. Mesmo numa guerra se respeita direitos humanos. Um bandido tem que ser preso e condenado, mas mesmo um bandido tem que ter direitos humanos respeitados''.