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Greve do Instituto de Pesquisas Nucleares completa 55 dias

Os servidores do Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) de todo o Brasil estavam em greve desde o dia 17 de outubro. Agora, somente os representantes paulistas, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), continuam em greve. Isso foi de

O Ipen é um órgão que usa a tecnologia nuclear em pesquisas e produção de medicamentos e tratamentos médicos. Além do Ipen de São Paulo, até a reunião da última quinta (6), em Brasília, os Institutos de Poços de Caldas, Belo Horizonte, Goiânia, Recife e Rio de Janeiro (que fazem parte da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN), também estavam em greve. A penúltima negociação com o governo foi em 9 de outubro.


 


A negociação sobre a nova tabela salarial para o setor já se arrasta com o Ministério do Planejamento desde 2006. A última proposta do Planalto para os servidores colocava o índice em torno de 26%, mas com o pagamento dividido em 2008 e 2009. Para diretor do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal do Estado de São Paulo (Sindsef) e membro do comando de greve do Ipen, Hidetochi Takiishi, essas negociações não trouxeram avanços.


 


Reivindicações


 


De acordo com Takiishi, a reivindicação é que a tabela salarial se aproxime com a do serviço público relacionado ao Ministério de Ciência e Tecnologia.


 


“O governo apresentou uma proposta, mas foi intrasigente, propondo um novo conceito de tabela e jogando para fora tudo que havia sido negociado anteriormente”, salienta o diretor do Sintrasef.


 


Segundo os servidores do Sindsef, a nova tabela salarial é reivindicada ao governo desde 2006. A partir do dia 28 de novembro, a greve se intensificou. O Ministério de Ciência e Tecnologia anunciou que vai cortar o ponto dos grevistas e que exige a manutenção de um número mínimo de servidores no trabalho.


 


Farmacos


 


Ainda que a adesão do setor de produção não implique em prejuízos concretos à saúde das pessoas, os servidores, por decisão da Justiça, passaram a manter o funcionamento mínimo no órgão, com 40% dos trabalhadores.  Com o impasse, estão sendo prejudicadas a produção e a pesquisa de ''rádiofármacos'', substâncias usadas em diagnósticos e tratamentos de câncer. Setores importantes relacionados à diagnóticos de raios-X e tomografias em geral também ficaram debilitados.


 


Hoje, no entanto, parte da produção do Ipen fornece serviço e materiais de alta complexidade para hospitais privados de alto padrão, em alguns casos. Os servidores do Ipen defendem que as pesquisas e os medicamentos produzidos pelo Instituto sirvam aos hospitais públicos e atendam à maioria da população que paga seus impostos.


 


Benefícios a hospitais privados


 


A greve dos servidores do Ipen tem colocado também em evidência uma política polêmica do instituto: a venda de substâncias usadas em tratamentos e diagnósticos de câncer apenas para hospitais privados, sem beneficiar o Sistema Único de Saúde (SUS).


 


Os servidores do Ipen defendem que as pesquisas e os medicamentos produzidos pelo Instituto sirvam aos hospitais públicos e atendam à maioria da população. Segundo eles, os chamados “radiofármacos” não deveriam ser vendidos a peso de ouro apenas para quem pode pagar, pois ''são um patrimônio dos brasileiros”.


 


Um exemplo disso é o FDG (fluordeoxyglicose), radiofármaco que não pode ser estocado e perde a eficácia 110 minutos depois de produzido. Essa substância, feita no Ipen, é utilizada em exames PET (tomografia por emissão de pósitron que consegue “filmar” o caminho do flúor pelo corpo). Tal técnica serve identifica doenças oncológicas, cardíacas e neurológicas.


 


Exame custa até R$ 6 mil


 


No caso do câncer, permite saber, após uma rádio ou uma quimioterapia, quais partes do câncer foram neutralizadas ou não. É capaz também de mostrar com precisão se o paciente se curou. A ressonância magnética e a tomografia não têm essa eficácia.


 


Um exame desses não está disponível no SUS e custa entre R$ 4 mil a R$ 6 mil, em instituições como a Beneficência Portuguesa e hospitais privados como o Albert Einstein. Um aparelho de PET custa R$ 4 milhões e, cada dose do flúor, perto de R$ 1 mil.


 


Com a greve, a produção do FDG foi suspensa, o que preocupou as clínicas e os institutos de saúde mais ricos do país. Segundo a assessoria de imprensa do Ipen, no entato, os servidores já deciram retomar a produção do flúor, mesmo durenta a paralisação. No Brasil, apenas o Instituto de Engenharia Nuclear (IEN), no Rio de Janeiro, também fabrica a substância.