Paulo Moreira Leite: “Política de juros é isso: política”
Essa postura da diretoria do BC não cria empregos, desanima o consumidor e tira a disposição de investimento do empresário. Pode afetar o “estado de espírito,” mesmo que até agora o tal “espetáculo do crescimento” não possa ser comparado com vizinhos e pa
Publicado 09/04/2008 17:13
Conversando com um dos grandes empresários brasileiros, dias atrás, aprendi que o governo FHC e o governo Lula acumularam várias diferenças – uma delas envolve a visão de crescimento. Não custa lembrar que ocorreram anos de crescimento econômico sob FHC. Em 1997, por exemplo, o número de lançamentos de imóveis em São Paulo atingiu um patamar que não seria alcançado no governo Lula. A diferença é que não havia continuidade.
Culpa da conjuntura internacional, como dizem os tucanos. Não só. Quando a economia dava sinais de crescimento a equipe econômica reagia numa combinação de medo e receio, anunciando rapidamente uma mudança que matava na raiz qualquer chance de prosperidade.
Entre todas as medidas, a alta dos juros ocupava, é claro, a opção principal.
No governo Lula a reação tem sido assim, me diz o empresário: a economia dá sinais de melhoria – e Brasília deixa claro de que, se pudesse, faria mais. “Isso dá vontade de investir, fazer novos negócios, contratar” afirma ele. Isso acontece porque a postura do governo sempre contagia o conjunto da economia — para o bem ou para o mal.
São diferenças de perspectiva, na construção daquilo que já levou o ministro Antonio Delfim Netto a definir o crescimento como um “estado de espírito.”
Há uma nota recente que desafina neste comportamento, porém.
São as mensagens da diretoria do Banco Central, que deixam claro que os juros devem subir 0,25% em 16 de abril.
Conforme a Folha de S. Paulo de hoje, analistas de bancos e consultorias ainda prevêem outras quatro elevações no ano, o que levaria a taxa a fechar o ano em 12,50%. Literalmente um absurdo, pois não se apoia em nenhuma decisão com base racional.
Costuma-se elevar a taxa de juros como uma defesa contra a inflação. Costuma-se abaixá-las quando se quer estimular o crescimento.
O problema é que o risco de inflação não existe – ao menos no momento. Pelos cálculos do próprio governo, os índices continuam apontando para o cumprimento da meta (4,5%) neste ano e um pouco abaixo em 2009.
As exportações crescem – e muitas estão contratadas por longos períodos. Os investimentos vão bem, o consumo tem uma alta compatível, há um esforço para superar ao menos em parte as deficiencias históricas de uma infraestrutura arruinada.
Tampouco se acredita que o descarrilhamento da economia americana tenha assumido no momento uma dimensão capaz de obrigar o Brasil a corrigir seu rumo. Enquanto for assim, para que aumentar os juros?
Essa conversa alimenta uma visão política, de quem considera que o país chegou a um limite – e é hora de fazer meia volta. É uma visão de país condenado a crescer pouco, pois seria incapaz de superar entraves e limites de natureza histórica e até cultural.Embora não seja realista levantar essa hipótese no momento, a perspectiva correta teria de ser trabalhar para seguir na redução da taxa de juros.
Essa postura da diretoria do BC não cria empregos, desanima o consumidor e tira a disposição de investimento do empresário. Pode afetar o “estado de espírito,” mesmo que até agora o tal “espetáculo do crescimento” não possa ser comparado com vizinhos e parceiros de igual condição sócio-economica.
Será que é isso que o Brasil precisa?
Fonte: Blog do Paulo Moreira Leite