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Edvaldo Nogueira: ´O PCdoB foi quem deu régua e compasso`

Primeiro militante da história do PCdoB a governar uma capital brasileira, o prefeito de Aracaju (SE), Edvaldo Nogueira, está cada vez mais perto do projeto de reeleição. Depois de consolidar seu nome dentro da base aliada, inaugurar com a presença do pre

Levantamento recente do Ministério da Saúde, divulgado na última edição do Globo Repórter, mostrou que a capital de Sergipe desponta em índices como menor número de fumantes e de pessoas com excesso de peso; maior consumo de hortaliças e prática de exercícios físicos. Os excelentes resultados no bem-estar da população foram alcançados graças a uma forte presença do poder público no combate ao sedentarismo com o Programa Academia da Cidade, aos investimentos em quase 40 km de ciclovias, e à melhoria de parques e áreas de esporte e lazer.


 


 “A preocupação da administração de fazer o crescimento vinculado à qualidade de vida desde o primeiro momento foi fundamental nesse processo. O desafio para o futuro é continuar crescendo com qualidade de vida. Lutamos para chegar aonde chegamos e vamos continuar trabalhando ainda mais para não perder o ranking”, explicou Edvaldo Nogueira. Em entrevista ao ‘Vermelho’, o prefeito avalia as experiências bem-sucedidas do PCdoB em Olinda (PE) e Aracaju, do crescimento do partido em Sergipe e da duradoura aliança com o PT, considerada um exemplo para o país.


 


Portal Vermelho – Foi uma surpresa o ranking do Ministério da Saúde que aponta Aracaju como a capital com melhor qualidade de vida do país?


 


Prefeito Edvaldo Nogueira – Surpresa de todo, não. Aracaju já era a capital de melhor qualidade do Norte e Nordeste desde 2003/2004, em pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas [FGV], e vínhamos num processo de melhoria cada vez mais dos serviços. A nossa meta de dar continuidade aos avanços da administração de Marcelo Déda, na qual participei ativamente como vice-prefeito, e melhorarmos todos os índices nos fez passar para a capital brasileira com melhor qualidade de vida. O que me chamou atenção foi que essa conquista ocorreu mais rápido do que imaginava. A tendência de Aracaju, pela maneira como vínhamos conduzindo a administração nos últimos dois anos, num esforço de continuidade e melhoria, era que algum dia chegasse a esse patamar. Só o tempo foi mais rápido do que o previsto.


 


Vermelho – Quais as obras, ações e investimentos nos últimos anos que ajudaram Aracaju a conquistar essa marca?


 


Edvaldo Nogueira – Principalmente os investimentos em saúde. Só no ano passado investimos 18,7% da receita corrente líquida da Prefeitura nesse setor, sem incluir saneamento básico e obras. Se somarmos tudo, corresponde a 33% de todo o orçamento do município, o que representa mais de um 1/3 dos recursos públicos. Pulamos de 64 para 128 equipes de saúde da família; construímos 15 novas Unidades de Saúde da Família (USF), e ainda reformamos as restantes, totalizando 45 postos; temos 98% de cobertura do SUS e outro dado relevante: um milhão de cartões SUS numa cidade com 520 mil habitantes. Além disso, implantamos o Programa Academia da Cidade que atende mais de 5 mil cidadãos em 15 bairros; e melhoramos significativamente o trânsito. Realizamos campanhas educativas para estimular o respeito à faixa de pedestres, a calçada livre, e a diminuição velocidade para 60 km. Isso ajuda na qualidade de vida e diminui os acidentes.


 


Vermelho – Que outras ações se destacam?


 


Edvaldo Nogueira – Também investimentos em ciclovias, – passamos de 5 km para 40 km -; limpeza pública , que é um dos serviços mais bem avaliados pela população e apresenta padrão de qualidade similar nas zonas nobres e menos favorecidas; estimulamos o Programa de Arrendamento Residencial [PAR] para levar a casa própria à classe média baixa; assim como os programas geração de emprego e renda; e, acima de tudo, estamos cuidando da cidade. A preocupação da administração de fazer o crescimento vinculado à qualidade de vida desde o primeiro momento foi fundamental nesse processo. Perseguimos isso, não foi uma coisa aleatória. Todas as nossas ações, em qualquer segmento, combinavam quatro fatores: a ética, com o dinheiro público bem aplicado; a democratização, com a participação da sociedade nas decisões através com o orçamento participativo; a aplicação de métodos de gestão modernos e eficientes; e a realização de obras e serviços voltados para a melhoria da qualidade de vida da população. O desafio para o futuro é Aracaju continuar crescendo com qualidade de vida. Lutamos para chegar aonde chegamos e vamos continuar trabalhando ainda mais para não perder o ranking.


 


Vermelho – Quais os grandes desafios ao assumir a administração iniciada por Marcelo Deda (atual governador do Estado) e os principais avanços desde então?


 


Edvaldo Nogueira – Embora participasse ativamente das decisões, como Déda chegou a declarar recentemente nos jornais, e tenha dado uma contribuição efetiva como vice-prefeito e secretário de Governo, o maior desafio foi substituir o melhor prefeito da história de Aracaju, que realizou uma obra extraordinária em todos os setores. Não foi fácil, mas conseguimos nesses dois anos dar continuidade e ainda assim avançar em várias áreas, com obras, serviços, projetos e ações que estão mudando a face da cidade. A capital melhorou visivelmente e se melhorou é porque conseguimos dar continuidade às obras todas, fazer obras novas e agregar ainda mais qualidade aos serviços públicos. Esse ranking do Ministério da Saúde mostrou que conseguimos evoluir, com a construção do viaduto; os investimentos para reverter os maiores bolsões de pobreza que são o Santa Maria e o Coqueiral; a melhoria e modernização do trânsito com a implantação da bilhetagem eletrônica, a meia passagem aos domingos e feriados, os leads com temporizador nos sinais; o programa Direito de Aprender, que tem dado os primeiros resultados na melhoria da educação. Enfim, a sociedade está vendo o nosso esforço para substituir algo muito bom, continuando e melhorando os índices em várias áreas, e isso se reflete na melhoria da qualidade de vida.


 


Vermelho – A administração bem-sucedida do PCdoB em duas cidades importantes como Aracaju e Olinda revelam ao país um modo ‘socialista’ de governar?


 


Edvaldo Nogueira – Revela o modo de governar um partido comprometido com o desenvolvimento da sociedade, o progresso, a igualdade e os compromissos históricos do socialismo. Essas duas experiências mostram a capacidade de, mesmo num sistema capitalista, governar bem, com qualidade, competência administrativa e aprovação popular. Essa é a maneira dos socialistas governarem.


 


Vermelho – O PCdoB começa a ser visto não apenas com destaque no parlamento, mas como um partido que governa com seriedade, ética e competência. Que fatores justificam esse novo momento, Edvaldo?


 


Edvaldo Nogueira – A presença do PCdoB nas administrações públicas. A partir da eleição de 2000, concorremos em várias cidades e ganhamos a Prefeitura de Olinda, que é a primeira experiência do partido. Depois fomos reeleitos e estamos no comando de uma capital brasileira há dois anos, com a saída do governador Marcelo Déda. Disputar as eleições e governar, sendo aprovado pela sociedade, amplia a visão que se tem do partido. Antes, o PCdoB tinha só presença nas câmaras de vereadores, nas assembléias legislativas e no Congresso Nacional, mas agora também mostra que sabe administrar. Ao chegar no governo com responsabilidade, ética, compromisso e respaldo popular, o partido tende a crescer ainda mais e a conquistar outros desafios. Essas experiências vão surgir para futuras administrações, tendo como referência elementos basilares da ação de cada prefeito.



 
Vermelho – O que faz da aliança entre o PCdoB e o PT em Sergipe um exemplo para o Brasil?


 


Edvaldo Nogueira – Há uma compreensão de ambos os partidos de que unidade é muito importante para a conquista de qualquer objetivo político. Tanto o PT como o PCdoB, pela capacidade das lideranças e a generosidade da militância de cada partido, compreende que a luta não era entre nós, nem entre as nossas correntes, mas contra os adversários poderosos. E era preciso deixar problemas menores, idiossincrasias de lado, para que cuidássemos de um projeto maior. Isso sempre norteou as lideranças sergipanas e permitiu que fizéssemos uma unidade que nunca teve problema do ponto de vista político. Prova disso é que fui seis anos vice, assumi a prefeitura, e nunca tivemos briga ou nenhuma divergência profunda. Esse cenário releva maturidade dos partidos e uma dose de generosidade do PT, que apesar de ser o maior partido do Estado, soube praticar a política de alianças e conseguiu juntar outros partidos numa frente ampla, como o PSB, o PDT, o PRB, o PMDB, podendo até o PSDB participar dessa coligação. Essa capacidade do governador Déda, do ex-senador Zé Eduardo, e das demais lideranças do PT, fortaleceu e aprofundou a idéia de que era preciso construir uma unidade em torno de um programa para que o projeto pudesse ser tocado por pessoas de um ou outro partido. Contanto que tocassem o projeto. Isso é uma maturidade que o Brasil deveria olhar. Damos em Sergipe um exemplo de unidade e maturidade para o restante do Brasil e a esquerda brasileira.


 


Vermelho – Essa união tem impulsionado o crescimento do partido no Estado? Faça um balanço da presença do PCdoB na capital e no interior. Quais as projeções para as eleições municipais? Quantos vereadores e prefeitos devem ser eleitos?


 


Edvaldo Nogueira – Essa união permitiu um crescimento muito grande e a chegada do PCdoB na prefeitura consolidou ainda mais esse processo. Temos crescido no movimento social e sindical, na associação de moradores e na filiação partidária. A cada dia importantes lideranças e intelectuais se filiam ao partido para dar sua colaboração, pensar a cidade e o Estado. Esse ano podemos fazer uma chapa com 40 candidatos em Aracaju, coisa nunca antes vista. No máximo disputavam um ou dois candidatos. Agora temos dezenas de nomes fortes, lideranças sociais, populares e da área intelectual. Vamos ter candidato a prefeito da capital, em cidades do interior, e devemos lançar candidatos a vereador em pelo menos 70% dos municípios. O PCdoB vai sair da aliança municipal fortalecido. E esse crescimento se deu a partir da aliança com o PT, da nossa chegada na Prefeitura e da chegada de Marcelo Déda ao Governo do Estado. Saber governar com ética, dignidade, competência e democracia traz uma admiração grande da sociedade, que aos poucos começa se filar e a demonstrar simpatia pelo nosso partido. A partir de Aracaju, o partido vai se espalhando pelo interior, num processo de aliança e de unidade, sem fazer esforço para atropelar os aliados. Ao contrário, crescemos todos juntos, unidos. Essa é a essência: conseguimos fazer uma unidade em que todos crescem, sem distinção. Sou muito otimista com relação ao futuro e acredito que vamos nos consolidar cada vez mais no cenário político.


 


Vermelho – Que fatores explicam o rápido crescimento do seu nome nas pesquisas?


 


Edvaldo Nogueira – Basicamente a trajetória política do militante que iniciou o PCdoB em Aracaju e coordenou a campanha das Diretas Já, do presidente do DCE da Universidade Federal de Sergipe, do vereador por dois mandatos que lutou por causas importantes, com a Lei de Incentiva a Cultura e o passe livre aos domingos e feriados. Depois, como vice-prefeito atuante, secretário de Governo da administração de Marcelo Déda e agora nesses dois anos administrando a cidade. Toda essa história apresenta elementos que vão moldando o crescimento do meu nome nas pesquisas. A essencialidade foram os dois anos na Prefeitura, com a continuidade do projeto, a melhoria em diversas áreas, a resolução dos problemas da população, o desenvolvimento da cidade e essas conquistas na área de qualidade de vida, atestadas pelo Ministério da Saúde. As obras que estamos realizando e as nossas ações mostram nossa capacidade administrativa, o compromisso com o social e a ética. O resultado disso tudo é o reconhecimento da sociedade ao trabalho que estamos realizando em Aracaju.


 


Vermelho – Como é possível definir o estilo Edvaldo Nogueira de governar?


 


Edvaldo Nogueira – É um estilo baseado nos compromissos políticos e ideais que sempre defendi, na relação com o PT e os demais partidos aliados, nos seis anos como vice-prefeito e agora como prefeito. Para mim o dinheiro público é sagrado e deve ser aplicado em benefício da população. Não abro mão de governar com ética e democracia, permitindo que a sociedade se coloque e entendendo que o governante não é o senhor do povo, mas sim o contrário. Governar com compromisso, principalmente para os mais pobres, definindo prioridades e planos de ações. Uma característica pessoal é governar com paciência e humildade. E, por fim, fazer um governo que tenha resultado, que as coisas se materializem em melhoria da qualidade de vida. Gosto de ver as realizações em benefício da sociedade e evito ficar só no discurso, no plano das idéias. O PCdoB foi quem deu régua e compasso na minha formação ideológica, que foi enriquecida pela militância política, a luta no movimento estudantil, o envolvimento com os movimentos sociais.