Comunistas goianos lamentam a morte de Eliezer
O presidente estadual do PCdoB de Goiás, em nota, comunica e lamenta a morte do antigo militante, Eliezer Alves Bento. Veja a íntegra da homenagem.
Publicado 03/05/2008 13:48 | Editado 04/03/2020 16:44
È com grande pesar que comunicamos o falecimento, nessa manhã de sábado, 3 de maio, do histórico comunista e militante das lutas camponesas de Goiás, Eliezer Alves Bento, 66 anos. Ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Anicuns, morava naquele município, no oeste goiano, onde, juntamente com a esposa, dona Brecholina, filhos e netos, cultivava a terra no Assentamento Rural Baixa Fria, projeto implementado no primeiro Governo de Íris Rezende, em meados da década de 80. O sepultamento está marcado para amanhã, dia 4, às 8 horas.
Era uma das mais antigas lideranças sindicais dos trabalhadores rurais goianos, tendo iniciado sua militância nos anos 70, como membro das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Católica da Diocese da Cidade de Goiás, dirigida na época por Dom Tomás Balduíno, o bispo da luta pela terra. Eliezer lutou contra a ditadura militar e pela reforma agrária. Foi também presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Uruana, onde era meeiro, e participou do CONCLAT – Congresso das Classes Trabalhadoras – em 1981, movimento que resultou na criação da CUT. Nesse mesmo ano tornou-se membro do Partido Comunista do Brasil, deixando o PT, que ajudou a fundar.
Eliezer integrou a diretoria da FETAEG – Federação dos Trabalhadores Rurais do Estado de Goiás a partir de 1984, e deu valiosa contribuição para a criação e consolidação de Sindicatos no norte do Estado e para a constituição da FETAT quando do surgimento do Estado do Tocantins em 1988. A partir de 1982, com a reorganização do PCdoB em Goiás, ainda na clandestinidade, integrou por diversas vezes o Comitê Estadual Comunista. Dotado de grande inteligência e sagacidade, apesar de ter cursado apenas os primeiros anos do curso primário, foi dos alunos mais destacados do Curso de Formação Política e Ideológica realizado pelo PCdoB em Campos do Jordão, SP, durante todo o mês de fevereiro de 1984. Debatia com altivez e interesse temas do marxismo, como Economia Política, Filosofia, Estratégia e Tática.
Recordo-me de Eliezer em um debate sobre a Reforma Agrária, realizado no Sindicato dos Trabalhadores de Morrinhos, talvez em 88 ou 89. Um professor de Direito Agrário falava e falava que a reforma agrária não era só distribuição de terra, que tinha que ter toda uma preparação: crédito, assistência técnica, educação dos lavradores, mercado consumidor para a produção, e que os trabalhadores deviam ter paciência, esperar essas condições, não promover ocupações de áreas, etc. Representando a FETAEG, Eliezer rebateu o doutor, exigindo terra de imediato para os camponeses pobres, com a sua argumentação esperta e simples: “olha, se o senhor quiser viver de criação de peixe, não adianta o senhor escolher muito bem escolhido o tipo do peixe que vai criar, com qual ração vai alimentar o cardume, como é que vai transportar, pra quem é que vai vender o pescado. A primeira coisa pro senhor criar peixe, é saber se tem água, senão o resto não adianta de nada.”
Mesmo depois de ter sofrido um derrame há alguns anos, permaneceu em sua parcela do assentamento em Anicuns, trabalhando a terra. Fazia questão de afirmar: “temos que dar o exemplo, temos que provar que a reforma agrária dá certo”, como bem lembrou o dirigente comunista Fábio Tokarski.
Eliezer Alves Bento, seu nome está gravado na história dos comunistas, dos trabalhadores rurais e camponeses goianos. Obrigado por sua luta e sua dedicação à causa da Reforma Agrária e so socialismo, por seu exemplo de vida e ensinamentos, que marcaram toda uma geração de revolucionários.
* Luiz Carlos Orro é presidente estadual do PCdoB-GO e membro do Comitê Central.