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Veja por que Guga pode ser considerado um fenômeno do tênis

Acabou a carreira profissional de Gustavo Kuerten — o atleta que levou o Brasil ao topo do tênis mundial. Em seu último jogo, Guga perdeu neste domingo (25) para o francês Paul-Henri Mathieu, 19º do mundo, por 3 sets a 0 (6/3, 6/4 e 6/2), na primeira roda

Numa quadra lotada de brasileiros, uniformizados, com faixas e bandeiras, o brasileiro se esforçou para tentar ganhar o jogo até o segundo set, quando chegou a quebrar o saque do francês. Mas o rival — o melhor de todos os que o ex-número um do mundo enfrentou na turnê de despedida — levou a partida com facilidade e abraçou o catarinense no final.


 


Os torneios do circuito profissional acabam para Kuerten, de 31 anos, com 20 títulos e uma marca de 43 semanas na liderança do ranking da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais). Em Paris — onde ele venceu o primeiro dos três Roland Garros, há 11 anos, como número 66 do mundo —, o brasileiro despontou para a glória inédita de um tenista nacional. Ele nunca havia sido campeão de um torneio de primeira linha da ATP e inaugurou sua coleção de troféus, em 1997, justamente com um dos quatro maiores do mundo.


 


Uma brasileira, Maria Esther Bueno, já havia sentido o gosto do título em um dos torneios do Grand Slam — principal série de torneios do circuito, formada pelos Abertos da Austrália, da França, da Inglaterra (Wimbledon) e dos Estados Unidos (US Open). Mas o triunfo dela foi numa época diferente, anterior ao profissionalismo.


 


Números para a história


 


Guga, ao contrário, tornou-se tricampeão de Roland Garros na Era Aberta — os torneios abertos permitem a participação de tenistas amadores e profissionais.  E, desde o primeiro título, já 11 anos, a carreira de Kuerten somou diversas façanhas. Antes de Guga, jamais um brasileiro havia atingido o top 10 do ranking — o brasileiro mais bem ranqueado tinha sido Thomaz Koch, 24º em 1974.


 


Antes de Guga, jamais um brasileiro havia ganhado mais de dez títulos de primeira linha — Luiz Mattar foi campeão em sete nos anos 80 e 90. Com seus 20 títulos, Kuerten tem mais do que a soma de todos os outros cinco brasileiros que venceram torneios — 15.


 


Antes de Guga, jamais um brasileiro havia acumulado mais de US$ 3 milhões em prêmios na carreira — Fernando Meligeni, por exemplo, deixou as quadras com US$ 2,558 milhões. Apenas em 2000, sua temporada mais profícua no quesito, Kuerten acumulou US$ 4,7 milhões. Em toda a carreira, ele ganhou US$ 14,7 milhões, e adicionou outros milhões com muitos contratos publicitários.


 


Antes de Guga, jamais um sul-americano havia terminado uma temporada no topo do ranking mundial. O chileno Marcelo Ríos permaneceu no posto por apenas seis semanas (quatro em março e abril e duas em agosto de 1998).


 


Ao terminar como número 1 em 2000, Kuerten acabou com uma hegemonia americana que já durava oito anos. Desde 1991 — quando o sueco Stefan Edberg encerrou o ano na liderança do ranking, a ATP não coroava um líder de ranking no fim da temporada nascido fora dos Estados Unidos.


 


Antes de Guga, apenas um tenista conseguiu derrotar Pete Sampras e Andre Agassi, dois dos maiores tenistas da história, na seqüência — o americano Michael Chang obteve o feito em Toronto em 1990. O brasileiro, porém, enfrentou tenistas já consagrados (somavam 19 Grand Slams e 373 semanas no topo do ranking na época). Já Michael Chang bateu adversários em início de carreira — os dois ainda não haviam sido número um nem conquistado um Grand Slam.


 


Antes de Guga, nenhum tenista conseguiu conquistar os três Masters Series (série criada em 1990) disputados no saibro (Montecarlo, Roma e Hamburgo) e Roland Garros — o espanhol Rafael Nadal repetiu o feito apenas nesta temporada de 2008.


 


Limite físico


 


Depois de tudo o que conquistou em quadra, Guga gostaria de continuar. “Se estivesse 100%, ainda gostaria de jogar mais. O físico me impôs o limite de competir de igual para igual com os melhores”, afirmou ele, ao anunciar a turnê de despedida em janeiro.


 


O tenista crê que, se não tivesse sido atrapalhado pela lesão no quadril direito, teria tido a chance de se aproximar Agassi, Sampras, Bjorn Borg, Roger Federer e outras lendas mais vitoriosas que ele.


 


“Tive momentos de genialidade. Mas precisaria de mais alguns anos para ter certeza, em termos de resultado, que atingi o nível deles”, completou Gustavo Kuerten, um dos 23 tenistas a ocupar o topo nos quase 35 anos de história do ranking.