Capistrano: Obama, a questão negra e o 20 de novembro
Faz pelo menos quinhentos anos que ocorreu a diáspora dos negros africanos, não foi uma migração de pessoas por motivos políticos ou religiosos, como a dos judeus. Foi uma dispersão forçada pela brutalidade do comércio de seres humanos como escravos. Sepa
Publicado 19/11/2008 13:20 | Editado 04/03/2020 17:08
O continente africano vem sendo espoliado, saqueado, vilipendiado e palco de verdadeiros genocídios desde que os europeus por lá botaram os pés.
Com o descobrimento das Américas e o incremento do sistema colonial, a mão-de-obra escrava passou a ser o instrumento basilar do processo produtivo e acumulativo das riquezas que iriam proporcionar o fortalecimento do sistema capitalista.
O capitalismo tem a sua história cheia de sangue e suor dos habitantes primitivos das terras conquistadas (índios) e dos povos dos países periféricos, principalmente do negro africano. O capitalismo é um sistema excludente por sua própria natureza, ele se baseia exclusivamente no lucro e, o negro transportado para colônias tanto dava lucro na sua comercialização, como também, através do resultado do seu trabalho feito de forma desumana, o negro escravo foi a base principal da mão-de-obra do sistema colonial.
O negro foi estigmatizado pela cor, foi marginalizado através de um preconceito que até hoje perdura, em muitos países de forma sutil, sem muito estardalhaço, mas na maioria de forma violenta e segregacionista.
O Brasil vem de forma tímida tentando enfrentar essa questão. O nosso país é o país de maior população negra fora do continente africano. Tem um histórico de racismo embutido no comportamento da maioria da população, inclusive a de origem africana, os morenos, partos ou mulatos. O racismo sempre foi muito presente nas atitudes da elite brasileira em relação aos escravos e seus descendentes.
O negro brasileiro, na sua maioria, faz parte da camada mais pobre da população, mesmo com abolição da escravatura ele ficou marginalizado, ao deus-dará, sem políticas de integração e de inclusão. Ser negro em país periférico, ex-colônia, subdesenvolvido, é um sinal claro de que é um marginalizado das riquezas e das oportunidades de crescimento profissional e de status social.
Essa é uma questão complicada, leva tempo para ser superada até por que, além de ser uma questão econômica e social, existe um peso cultural muito forte. É importante uma campanha, através dos meios de comunicação, com o objetivo de abolir qualquer tipo de preconceito, mostrando que a cor é um pequeno detalhe no caráter das pessoas. A cor e o gênero nunca deve ser fator de discriminação. Sem esquecer que a implementação de políticas positivas de inclusão é basilar, ações que eliminem a miséria e a desigualdade social são essenciais, as mudanças estruturais através das reformas de base são fundamentais nesse processo, sem essas medidas fica difícil.
No dia 20 de novembro o Brasil comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, momento oportuno para refletimos sobre a questão a racial e a exclusão social. Esse ano, 2008, com um fator singular na história da humanidade, a eleição de um negro para presidente dos Estados Unidos da América do Norte, país que até bem pouco tempo caçava negros e os enfocava em praça pública. A Klu-Klux-Klan é uma instituição branca, americana, que representa o supra-sumo da intolerância racial.
Mas o que Obama tem haver com isso? Muito. A eleição de um descendente de negro-africano para presidente dos Estados Unidos, a maior potência capitalista do mundo contemporâneo, representa um passo importante na visibilidade do negro como um ser humano como qualquer outro. Obama, mesmo tendo um histórico de vida muito diferente da maioria absoluta dos negros norte-americano, ele não nasceu no Brooklin, nem é filho de descendente de ex-escravo e sim de um negro-africano bem situado e de uma antropóloga americana branca. Obama estudou em Harvard uma das melhores universidades dos Estados Unidos, mas ele tem a pele escura, é descendente direto de um negro e isto tem um significado muito forte na América. Acho que a sua eleição não trará mudanças fundamentais nas relações internacionais do seu país com o resto do mundo, mas já deu uma grande contribuição para causa negra em todo o mundo, a visibilidade do negro como um ser igual a todos os outros seres humanos.
Antonio Capistrano é filiado ao PCdoB