Eliana Gomes – Dom Hélder Câmara: Uma vida por justiça e paz
“Quando dou pão aos pobres, chamam-me de santo, mas quando pergunto pelas causas da pobreza, chamam-me de comunista”, costumava dizer um cearense de Fortaleza que completaria cem anos no próximo dia sete de fevereiro de 2009, Hélder Pessoa Câmara.
Publicado 10/02/2009 11:07 | Editado 04/03/2020 16:35
Hélder entrou no Seminário Diocesano de Fortaleza quase menino, aos 14 anos, e lá foi ordenado padre oito anos mais tarde, em 1931. Ainda em Fortaleza, nos primeiros anos como padre, fundou a Legião Cearense do Trabalho e a Sindicalização Operária Feminina Católica, já demonstrando a opção pelos excluídos que seria marca de sua trajetória de fé.
No Rio de Janeiro, onde chegou em 1936, o padre foi nomeado bispo e bispo auxiliar, nos mais de vinte anos em que se dedicou às atividades apostólicas naquela cidade e estado.
Em 1964 assumiu a Arquidiocese de Olinda e Recife, onde foi comunicado por agentes da ditadura, que haviam tomado o poder naquele ano, sobre uma lista de religiosos que deveriam ser transferidos por ele dali. O já experiente Dom Hélder respondeu que faltava o seu nome na lista, deixando claro de que lado o sacerdote estava naquela luta desigual. Tal resposta e as ações de Dom Hélder em defesa do povo e da liberdade fizeram o regime vigente colocar seu nome em outra lista: a de pessoas que não podiam ter seus nomes citados nem suas atividades divulgadas por toda a imprensa e meios de comunicação, proibição que durou até o final da ditadura. Na mesma lista constavam outros nomes de lutadores e lutadoras que dedicavam suas vidas a causa das liberdades democráticas, dentre elas e eles muitos comunistas. A parede externa do quarto de dormir da casa, onde o religioso morava naqueles tempos, foi crivada de balas, em mais uma tentativa infrutífera de intimidação. Mesmo silenciado e vítima de intimidação, o religioso foi voz ativa na luta pela abertura democrática e na denúncia dos crimes da ditadura, exigindo a elucidação das muitas mortes e desaparecimentos. Nunca conseguiram calá-lo.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e O Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), tiveram Dom Hélder como um de seus fundadores. Os eventos da Igreja Católica que deram rumo progressista as atividades da instituição tiveram sua presença firme e destacada.
A defesa da justiça e dos direitos humanos fez Dom Hélder ser indicado quatro vezes para o Prêmio Nobel da Paz. Infelizmente não venceu, por pressão da ditadura e seus aliados, mas a vitória maior já estava consolidada: seu nome e sua luta estavam escritos definitivamente na história do nosso povo.
Vereadora e militante de um partido que teve Dom Hélder como aliado constante na luta contra a ditadura, por justiça e em defesa dos direitos humanos não poderia deixar de lembrar o centenário deste grande fortalezense. Minha militância nas causas populares começou nas organizações da igreja católica que procuravam e procuram esclarecer e unir nosso povo para defender seus direitos. A força das palavras e ensinamentos do religioso sempre foi presença marcante naquelas atividades de fé e libertação.
Como parte das muitas atividades que celebrarão o centenário de Dom Hélder Câmara (requerimento 0015/2009, de minha autoria) será realizada uma sessão solene no dia três de abril (sexta-feira), às 15 horas, na Câmara Municipal de Fortaleza. Em um momento histórico em que o mundo, o Brasil, o Ceará e Fortaleza precisam reforçar a luta dos povos por justiça e paz, a vida e a obra de Dom Hélder precisam ser lembradas.
Eliana Gomes é Vereadora – PCdoB