Lula diz que Mercadante é “imprescindível” ao governo
A permanência do senador Aloízio Mercadante (SP), como líder do PT no Senado, foi resultado de mais um dos pedidos que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, fez a ele ao longo de sua vida política-partidária. E como das outras vezes, Mercadante não tinha como dizer “não”. Após ler a carta que recebeu do Presidente Lula, em que o considera como imprescindível ao governo, ele anunciou a sua decisão de permanecer no cargo de líder. "Não tenho como dizer não", afirmou.
Publicado 21/08/2009 15:52
Não foi apenas do Presidente Lula que ele recebeu pedidos para ficar. Ele disse que ouviu inclusive apelo da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, e das lideranças da base aliada e também da oposição. Até o Zér Dirceu, com quem eu não falava há muito tempo, me ligou pedindo para ficar, disse Mercadante.
A decisão de Mercadante exigiu dele pedido de desculpas à família, que queria sua saída, e também a alguns companheiros que esperavam que ele deixasse o cargo, reafirmando que ficaria por que Lula mais uma vez o deixava em situação em que não poderia dizer não.
Mercadante disse que pensou em deixar a liderança do Partido por ter perdido uma certa condição de interlocução política na Casa, principalmente com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). A situação-limite ocorreu na reunião da Comissão de Ética quando ele discordou da orientação do presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), para que os três senadores da sigla votassem a favor do arquivamento das representações contra o presidente Sarney.
“Essa Casa errou, meu governo errou, meu partido errou, nós erramos porque essa não é uma solução que o Brasil espera e precisa. Só espero que a gente aprenda com esses erros e sejamos capazes de construir novas descobertas”, disse o senador, insistindo na defesa do afastamento do Presidente da Casa até que fossem concluídas as investigações.
Desiludido e descrente
O senador iniciou o discurso se dizendo desiludido e descrente da política, sentimento que ele compartilha com a maioria do povo brasileiro. Ele também se disse frustrado como líder de bancada que lutou com todos os instrumentos para construir uma alternativa à crise do Senado, sem aceitar o "caminho fácil da condenação sem defesa, do prejulgamento e do tribunal de exceção", porque considera que esse não é o caminho da democracia.
Lembrou também que a função constitucional do Parlamento é preservar os direitos e garantias individuais e que isso não acontece sem o direito de defesa. Por isso, continuou ele, a bancada sustentou que o melhor era a licença do presidente do Senado do cargo, para que as denúncias relativas à instituição fossem apuradas.
Conforme destacou Mercadante, os atos secretos violam o artigo 37 da Constituição, que trata do princípio da publicidade e da transparência, e, por isso, ponderou ele, seria necessário aprofundar a investigação sobre o assunto. Tal aprofundamento, disse, deveria ser feito sem considerar o presidente Sarney como o único responsável por irregularidades, apesar de seu papel devido ao fato de estar no terceiro mandato como presidente da Casa.
Mercadante disse reconhecer a importância do Senado para a República e para o equilíbrio federativo, mas ressaltou que a instituição acumulou vícios inaceitáveis nesses 183 anos de existência, e que a solução desse problema é uma pauta sobre a qual todos os senadores devem se debruçar.
Cartada decisiva
Em sua carta enviada nesta sexta-feira a Mercadante, Lula, depois de uma conversa de cinco horas com o senador na noite da quinta-feira (20), que varou a madrugada, afirma que “você tem todo o apoio de nossos senadores e senadoras. A bancada e eu consideramos você, Mercadante, imprescindível para a liderança."
Mercadante relembrou, em seu pronunciamento, todas as outras ocasiões em que, atendendo a pedidos de Lula, mudou o curso de sua vida, como em 1994 quando integrou a chapa como candidato a vice-presidente e abdicou de concorrer à reeleição de deputado federal.
Mais adiante, ao relembrar a caminhada de 30 anos que ambos têm em comum, Lula diz: "Em nome dessa história e dessa caminhada, fique na liderança. Esse é um pedido sincero de um velho amigo e sempre companheiro."
Elogios e apoio
A decisão de Mercadante foi elogiada pelo senador Augusto Botelho (PT-RR), que falou em nome dos senadores Tião Viana (PT-AC), que acompanha visita do presidente Lula ao estado e de Eduardo Suplicy (SP), que tem compromisso no início da tarde em São Paulo, reafirmou apoio ao líder.
"Estou satisfeito que continue como líder porque manifestamos isto logo após a reunião do Conselho de Ética", disse. "Continue contando com nosso apoio irrestrito", acrescentou.
Marina Silva também reconheceu a importância que Mercadante tem não apenas para a liderança do PT, mas para o Senado. Segundo ela, que defendeu o posicionamento da bancada do PT que sugeria o afastamento de José Sarney (PMDB-AP) da presidência da Casa para permitir maior transparência às investigações, essa tese tinha um princípio de justiça baseado não em vingança, mas naquilo que as instituições devem fazer para reparar seus erros.
De Brasília
Com agências
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