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Analistas avaliam que Mercadante ganhou mais do que perdeu

A maioria dos grandes portais tenta qualificar a decisão do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) de se manter na liderança do partido no Senado como um "erro" que vai lhe custar caro politicamente. Para tentar justificar este ponto de vista, os portais foram buscar a opinião dos principais líderes da oposição e dos senadores que fizeram campanha mais ferrenha contra Sarney. Obviamente que todos confirmaram a tese construída pela imprensa.

A repercussão do episódio no Twitter também serviu como argumento para os portalões atacarem o governo, o PT e Mercadante.

Mas para alguns especialistas em análise política, a decisão de Mercadante, amparada num pedido pessoal do presidente Lula, pode ter sido a melhor alternativa para o senador petista.

Para Rubens Figueiredo, cientista político e diretor-executivo do Centro de Pesquisas, Análises e Comunicação (Cepac), a decisão de Mercadante não terá grande impacto nas eleições de 2010 porque a crise do Senado afeta mais diretamente a percepção do público mais informado. O mesmo público que costuma usar ferramentas como o Twitter.

"Com toda essa popularidade do Lula, a crise afeta bem menos o quadro eleitoral do que se fosse um presidente, digamos, comum. O contingente de eleitores que analisa esse tipo [discurso de Mercadante] de fato é minúsculo", afirmou ele ao UOL Notícias. "Hoje o eleitor faz uma análise do quadro na base do gosto ou não gosto. O PT pode perder um pouco com toda essa exposição, mas isso de agora não passa nem perto do escândalo do mensalão, por exemplo."

O professor David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), avalia que a fidelidade de Mercadante a Lula deve contribuir para limitar os efeitos negativos que o impasse causou. "Mercadante tem que enfrentar as urnas. Está mais voltado para São Paulo do que para a bancada do PT no Senado. Mas ele é um fiel membro do PT, Lula ponderou que foi para o bem do partido e não vai faltar a Mercadante, que fez mais um sacrifício por ele, no ano que vem", disse.

Um outro observador da cena política, que preferiu não se identificar, opinou que a decisão de Mercadante foi "eleitoralmente acertada". "Caso mantivesse a decisão de deixar a liderança, Mercadante poderia até conquistar o apoio de uma parcela do eleitorado paulista de classe média que estava indignada com o caso Sarney. Mas nada garante que esse apoio fosse se reverter em votos para o senador petista em 2010, já que trata-se de um eleitorado que, em geral, torce contra o PT."

Esta mesma fonte avalia que por outro lado, se tivesse deixado o posto de líder do PT, Mercadante perderia apoio dentro do próprio partido e isso poderia comprometer até mesmo sua indicação para disputar novamente a cadeira de senador pelo PT de São Paulo. "Diante deste dilema, parece que eleitoralmente, a opção de Mercadante foi a mais acertada. O preço a pagar será o desgaste inicial junto a uma parcela da opinião pública e da mídia, a mesma mídia que o atacou com os dois pés durante a campanha a governador em 2006 com o episódio da suposta –e até hoje nunca comprovada– tentativa de comprar um dossiê contra os tucanos", lembra a fonte.

Berzoini: decisão prioriza projeto maior

Foi também utilizando o Twitter que o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini, saudou a decisão de Mercadante de permanecer na liderança da bancada petista no Senado.

“Mercadante anunciou que fica na liderança do PT no Senado. Correto. A conversa com Lula e comigo ontem foi franca e objetiva”, escreveu Berzoini em uma das quatro mensagens sobre o assunto postadas no Twitter.

Segundo ele, as lutas que o PT terá pela frente são muito maiores que os episódios vividos no Senado nos últimos dias.

“Nós, que há 30 anos construímos o PT, não devemos tratar cada episódio como se fosse o definidor das nossas vidas. Governar é administrar contradições e conflitos. Se você tem um horizonte definido, os obstáculos são superados com firmeza e serenidade”, escreveu Berzoini.

Aproximação com o PMDB

O cientista político Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais, diz que o presidente Lula fez um "cálculo": o de que vale sofrer o desgate de apoiar o PMDB e, assim, ter o respaldo do partido à candidatura da ministra Dilma.

"Ao defender o senador José Sarney, mesmo colocando sua própria imagem em risco, o presidente Lula mostra o quanto ainda precisa de seus aliados no PMDB", diz Reis.

"Essa aproximação condiz com a lógica do nosso sistema político, multipardiário e que, portanto, estimula essas coalizões. O fato de Lula se mostrar solidário a Sarney é algo explicável dentro da lógica do nosso sistema", acrescenta.

O professor Lúcio Rennó, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, avalia que o presidente Lula enfrenta um momento político "delicado", mas diz que isso "está longe de ser um problema para o governo".

"Sim, o presidente Lula tem forte relação de dependência com seus aliados no PMDB. Mas pelos cálculos do governo, o ganho nessa relação ainda é grande", diz o professor.

"Mesmo que esses escândalos criem uma demanda pela moralização na política, na visão do governo Lula o PMDB é fundamental para eleger um sucessor em 2010", conclui Rennó.

Da redação,
com agências

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