Paquistão: Território estratégico das guerras do imperialismo
"A morte de Baitullah Meshd, líder dos talibãs paquistaneses, será um grande acontecimento para Washington e Islamabad". Este comunicado que, uma vez mais, anuncia a morte de um ser humano causada pela guerra, é lógico que alegre os estrategistas dos países ocidentais que ocupam ilegalmente um país soberano da Ásia Central desde 2001.
Publicado 04/11/2009 20:23
Esta notícia faz com que os que fazem esta guerra de conquista manifestem, por breves instantes, a sua alegria e demonstrem a eficácia das suas mortíferas intervenções no terreno. Mas convém acrescentar uma outra interpretação a este acontecimento.
O desaparecimento do líder dos talibãs paquistaneses viria a somar-se aos elementos que justificam a extensão da guerra de ocupação que arrasa o Afeganistão e o vizinho Paquistão. E contribuiria para legitimar, definitivamente, perante a opinião pública mundial, os atos de guerra perpetrados por Washington e o exército nacional do Paquistão sobre o território paquistanês, ainda que convencer da utilidade da guerra contra os talibãs se tenha convertido numa tarefa muito fácil para Washington, depois de passar tantos anos a fabricar o "inimigo", atualmente encarnado pelos talibãs, aos olhos da população mundial.
Neste contexto é importante estar consciente de que o motivo real dessas guerras não é a erradicação dos talibãs, mas antes a criação das infra-estruturas e instalações necessárias para uma ocupação permanente da região por parte de Washington e das restantes potências ocidentais. Essas guerras só terminarão quando o regime de Cabul for capaz de assegurar o controlo militar total do território afegão, e isso só será possível com a ajuda do exército nacional paquistanês, necessário para controlar as zonas tribais fronteiriças com o Afeganistão, como Waziristão, a província da fronteira noroeste, incluindo o distrito de Swat.
As acções bélicas paquistanesas surgem como parte da "guerra contra o terrorismo" decretado pela administração de George W. Bush e ligadas à guerra do Afeganistão. O vale de Swat caiu sob domínio dos talibãs em dezembro de 2008 e depois foi objeto de operações militares com o objetivo de os desalojar ou pura e simplesmente "fazê-los desaparecer".
Esta guerra dirigida pelo exército nacional paquistanês com a ajuda do exército estadunidense não foi oficialmente declarada. Desenvolve-se no quadro da denominada "guerra preventiva" contra o terrorismo e permite às potências ocidentais aumentar o seu controlo em todas as regiões do Paquistão, o que não conseguiram fazer durante a presidência de Pervez Musharraf, entre junho de 2001 e agosto de 2008.
Balanço da guerra em 2009
Alguns relatórios recentes deram conta dos repetidos ataques na região contra os talibãs e os insurrectos procedentes do Paquistão, o que provocou um êxodo massivo das populações para o interior do país. A utilização de "drones" (N. do T.:aviões não tripulados) pelos Estados Unidos para eliminar os presumíveis locais de refúgio dos terroristas já causou um número de vítimas considerável.
Segundo dados recentes, esses ataques e outras intervenções teriam causado mais de 1.500 mortos entre os talibãs. No conjunto das regiões afetadas pela guerra observou-se a deslocação de mais de dois milhões de pessoas. "Até agora, os custos são muito elevados; dois mil mortos e mais de dois milhões de pessoas deslocadas por causa dos combates no vale de Swat e noutros lugares". Segundo o Pakistan Body Count do mês de agosto de 2009, as bombas e os ataques dos drones causaram quase 10.000 vítimas e entre estas contar-se-iam mais de 3.300 mortos. E acrescenta a observação de que "quer se trate de um atentado à bomba ou do ataque de um drone o resultado é o mesmo: um paquistanês morto".
Este sitio proporciona a história completa e a cronologia dos atentados à bomba e dos ataques dos drones. Os dados são recolhidos dos relatórios dos media, hospitais e outros sítios da Internet. Todos os dados estão disponíveis ao grande público e nenhum deles é confidencial. Isto permite ter uma ideia da intensidade dos atentados com bombas e os ataques perpetrados pelos drones.
Segundo Bill Van Auken, é importante que recordemos no passado mês de Maio "O governo de Obama está a considerar, cada vez mais, o aumento da sua intervenção no Paquistão como uma guerra específica contra a insurreição, e para a qual teria de pedir o mesmo tipo de poderes militares que já obteve Bush para o Afeganistão e o Iraque". Esses poderes poderiam permitir ao Pentágono, entre outras coisas, dar uma ajuda militar ao Paquistão na ordem de 400 milhões de dólares.
Referências:
- AFP e AP 2009. "La mort du chef des talibãs pakistanais semble se confirmer", Le Devoir, 8 e 9 de Agosto de 2009: http://www.ledevoir.com/2009/08/08/262081.html
- CTV.CA News Staff. 2009. "As deaths rise, Pakistan struggles against Taliban" 28 de junio de 2009: http://www.ctv.ca/servlet/ArticleNews/story/CTVNews/20090628/Taliban_Pakistan_090628/20090628?hub=TopStories
- Durfour, Jules, 2008 "Les guerres d’occupation de l’Afghanistan et de l’Irak: un bilan horrifiant de portée mundiales". 22 de julio de 2008. Montreal, Centro de Investigación sobre la globalización (CRM) http://www.mondialisation.ca/index.php?context=va&aid=9645
- Lind, William S. y L. Rockwell. 2008. "Pakistan. Une victime collatérale des guerres américaines". Alternatives Internationale. 17 de enero de 2008: http://www.alterinter.org/article1623.html?lang=fr.
- Operaciones militares contra os talibães en Pakistán: http://fr.wikipedia.org/wiki/Guerre_au_Waziristan
- Pakistan Body Count: http://www.pakistanbodycount.org/
- Pervez Musharraf: http://es.wikipedia.org/wiki/Pervez_Musharraf
- Tisdall and Saeed Shaa. 2008. "Reported US attack pushes Afghanistan war into Pakistan. Up to 20 die in attack by commandoes on village near known Taliban and al-Qaida stronghold", guardian.co.uk, 3 de septiembre de 2008: http://www.guardian.co.uk/world/2008/sep/03/pakistan.afghanistan1
- Van Auken, Bill. 2009. "Le gouvernement d'Obama cherche à obtenir des pouvoirs militaires extraordinaires au Pakistan". 7 de mayo de 2009. Montreal, Centro de Investigación sobre la globalización (CRM). http://www.mondialisation.ca/index.php?context=va&aid=13528
*Jules Durfour, é doutor em Filosofía e professor emérito da Universidade de Québec em Chicoutimi. Este texto foi publicado em: http://www.mondialisation.ca/index.php?context=va&aid=14719
Tradução de José Paulo Gascão para o site ODiario.Info