O pensamento de Milton Santos continua vivo e atual
Se estivesse vivo, o geógrafo Milton Santos estaria completando 85 anos nesta terça-feira (3/5). Nascido no município de Brotas de Macaúbas, na Bahia, Santos foi um dos grandes pensadores da nação brasileira da segunda metade do século 20. Hoje, mesmo depois de 10 anos de sua morte, seus trabalhos e pensamentos continuam tão atuais que poderiam ser facilmente usados para debater os problemas das grandes cidades brasileiras, como Salvador.
Publicado 04/05/2011 19:28 | Editado 04/03/2020 16:19

“O geógrafo Milton Santos era um intelectual nacionalista avançado, que entendia a nação do seu ponto de vista popular e é um intelectual que faz muita falta nos debates que estão se travando agora. Ele é uma figura que ajudou muito a refletir sobre as cidades, sobre o espaço ocupado pelo ser humano e o espaço especificamente na cidade. Ele foi um defensor da política de democratização de tudo aquilo que a cidade pode trazer de positivo para a humanidade. A gente está se acostumando com a ideia de que as cidades são caóticas, mas as cidades também são libertadoras, no sentido em que oferecem intercâmbio humano, relações sociais, ações políticas, acesso a serviço e direitos que o ambiente rural historicamente não garante. Então as cidades, elas têm um monte problemas, ma também um monte de possibilidades”, afirma o arquiteto e ex-deputado estadual Javier Alfaya (PCdoB-BA).
Admirador do trabalho do geógrafo, Alfaya ressalta que Milton Santos foi acima de tudo um grande pensador da nação brasileira. Um defensor de que as cidades brasileiras precisavam passar por fortes transformações do uso de seus espaços para poder serem cidades com a civilidade de bom futuro para os brasileiros. “Milton Santos pensou muito o espaço como resultado da intervenção humana. Não como o espaço que existe apenas pela natureza, mas ele só tem sentido muitas vezes com a intervenção humana”, ressalta.
Para o comunista, o pensamento de Milton Santos é muito atual. “A abordagem dos problemas urbanos é de uma contemporaneidade gritante. É assustadora, a necessidade de se refletir e de encontrar soluções para os grandes problemas das grandes cidades como habitações para as grandes maiorias, circulação rápida e confortável para as cidades, diminuição radical da poluição atmosférica, sonora e visual, que são coisas que incomodam muito. Todas estas coisas se aplicam a todas as grandes cidades brasileiras, inclusive à Salvador”, enfatiza Alfaya.
Milton Almeida dos Santos foi uma daquelas pessoas difíceis de definir em poucas palavras. Descendente de escravos sofreu muitos preconceitos. Formou-se em direito, em 1948, pela Universidade Federal da Bahia, e dez anos depois, tornou-se doutor em geografia, pela Universidade de Estrasburgo (França), área em que se destacou mundialmente. Escreveu mais de 40 livros, publicados no Brasil, França, Reino Unido, Portugal, Japão e Espanha. Ao longo da carreira acumulou numerosos títulos honoris causa pelo mundo e foi o único intelectual fora do mundo anglo-saxão a receber, em 1994, o prêmio Vautrin Lud, o "Nobel" da geografia.
Durante o regime militar, Milton Santos combinava as atividades de jornalista e de professor universitário. Na época, defendeu posições nacionalistas e denunciou as precárias condições de vida dos trabalhadores do campo. Por causa de suas posições políticas, acabou sendo demitido da Universidade Federal da Bahia e passou 60 dias preso em Salvador. Só foi libertado porque sofreu um princípio de infarto e um derrame facial. Depois disso, aceitou convite para lecionar no exterior. Foi professor das universidades de Paris (França), Columbia (EUA), Toronto (Canadá) e Dar Assalaam (Tanzânia). Também lecionou na Venezuela e Reino Unido. Só regressou ao Brasil em 1977. Aqui continuou sofrendo muitos preconceitos até ser reconhecido como grande intelectual. Morreu em junho de 2001, vítima de câncer, em São Paulo.
De Salvador,
Eliane Costa