Candidato governista desiste de concorrer à eleição no Chile
A corrida eleitoral chilena ganhou novos ares de incerteza, com o anúncio de que o governista Pablo Longueira renunciou à sua candidatura presidencial, o que deixa a direita momentaneamente sem um nome, a exatos quatro meses do primeiro turno – que ocorrerá no próximo dia 17 de novembro.
Por Victor Farinelli*, no Opera Mundi
Publicado 18/07/2013 11:04

Após vencer as primárias da Aliança (coalizão governista), Longueira viajou para Osorno (sua cidade natal, no sul do país), afirmando que iria descansar por duas semanas antes de retomar a campanha para o primeiro turno eleitoral. A coletiva realizada na tarde da última quarta-feira (17) pela UDI (União Democrata Independente, seu partido), que deveria ser a do retorno das férias, mudou de cenário quando os filhos do candidato surgiram no palco e anunciaram que ele abandonou a disputa pela presidência devido a um quadro de depressão diagnosticado pelos médicos da família.
A notícia caiu como uma bomba sobre o governismo chileno, já que, faltando pouco tempo para o primeiro turno, o cenário eleitoral já era claramente favorável à ex-presidenta Michelle Bachelet, que conseguiu 53% dos votos nas primárias do último dia 30 de junho, contra 14% de Longueira.
A notícia gerou reações das mais diversas. O presidente chileno, Sebastián Piñera, afirmou que “não é fácil para um homem com a vocação de Pablo Longueira tomar esse tipo de decisão, mas se a tomou, tenho certeza de que foi pensando no bem do Chile e no da Aliança”. O mandatário também pediu ao seu conglomerado político que a busca pelo substituto seja a mais cordial possível. “Não é tempo de mesquinharias nem de divisões, pelo contrário, o que precisamos agora é de unidade, grandeza e generosidade. Que saibamos atuar como o país espera que façamos”.
Bachelet também se manifestou sobre o ocorrido com o candidato da direita: “a notícia me surpreendeu muito e desejo à família de Pablo Longueira a força necessária para superar logo este momento doloroso que está vivendo”.
Oficialismo dividido
Após a vitória de Longueira nas primárias, ficou evidenciada a tensa relação entre os dois partidos da coalizão governista: a UDI, de Longueira, e a RN (Renovação Nacional), a qual pertence o presidente Sebastián Piñera.
O anúncio das listas de candidatos para o legislativo, na semana passada, foi um exemplo disso, já que a RN lançou Andrés Allamand como candidato a senador pela Região Metropolitana de Santiago, no mesmo distrito onde a UDI esperava ganhar tranquilamente com o ex-prefeito da capital, Pablo Zalaquett.
Segundo Gonzalo Müller, cientista político e professor da UDD (Universidade do Desenvolvimento, entidade símbolo dos intelectuais de direita do Chile), “esse episódio demonstrou que a Aliança está dividida, mas não impede que se recupere a unidade na direita. Talvez a divisão mais importante seja a dos que defendem a coesão dentro do setor e os que pretendem forçar uma divisão, por motivos pessoais”.
A Lei de Primárias do Chile prevê que, caso um candidato vencedor das primárias desista da sua candidatura, esta deixa de ter qualquer efeito e os partidos ficam livres para tomar a determinação que quiserem.
A UDI marcou uma reunião para decidir o nome com que o partido pretende substituir Longueira. Especula-se que a favorita é a atual ministra do Trabalho, Evelyn Matthei, pelo fato de que o partido registrou o domínio de internet “Matthei2014.cl” na manhã desta mesma quarta-feira
Não se descarta, porém, que o partido possa retomar a candidatura de Laurence Golborne, ex-ministro de Minas e Energia, que foi um dos protagonistas do resgate dos 33 mineiros, em outubro de 2010. Golborne foi o candidato da UDI nas primárias governistas até o final de abril, quando um escândalo por uma suposta conta secreta sua nas Ilhas Virgens o fez deixar a disputa, sendo substituído por Pablo Longueira.
Porém, na RN a tendência é que se defenda a ideia de que, sem Longueira, o candidato natural da coalizão governista é Andrés Allamand, que foi o segundo colocado nas primárias.
O professor Gonzalo Müller vê um clima pouco propício para que os partidos cheguem a um acordo sobre o novo presidenciável da Aliança, o que poderia terminar inclusive com cada partido lançando seu próprio candidato. “Com a confiança abalada, os presidentes dos partidos precisam ter sensibilidade para alcançar um consenso e evitar o cenário com a direita dividida entre dois candidatos, pois isso facilitaria ainda mais o caminho para Michelle Bachelet”.
Victor Farinelli é correspondente do Opera Mundi no Chile