Estado Palestino Já!

A imprensa, de um modo geral, começa a cobrir os eventos que ocorrerão nos Estados Unidos em novembro. Conforme abordamos na semana passada, a reunião convocada por George W. Bush vai tomando corpo e ganhando sua importância. Esta semana, a secretária Con

Ainda sobre a reunião


 


Há uma diferença entre uma Conferência de Paz Internacional, convocada sob os auspícios da ONU e uma reunião de paz, convocada unilateralmente por uma potência, como são os Estados Unidos. Nos tempos atuais em que vivemos, de total hegemonia norte-americana na política e na economia mundial, um evento dessa magnitude, por si só, chama a atenção de todo o mundo.


 


 


Os palestinos e israelenses estarão presentes. Tenta-se, da parte dos palestinos, envolver outros chefes de estado, mas a presença desses depende de convite formal do presidente americano. Não é provável que ele convide, especialmente Lula. Mas alguns países árabes serão chamados, mas todos fazem o jogo dos EUA e não defenderão firmemente os palestinos.


 


 


Esta semana que passou, a secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleeza Rice esteve na Cisjordânia, Palestina. Por mais de três horas seguidas, esteve no quartel general da Autoridade Palestina, em Ramallah, dialogando com Mahmoud Abbas, presidente da ANP. Para surpresa de muitos, acabou por defender um Estado Palestino. É claro e evidente que tudo não passa de propaganda, para promover o governo Bush, que esta desgastado e isolado. Mas, é bem verdade que essa iniciativa contará a seu favor, ainda que, pessoalmente, veja tudo isso como uma jogada de marketing e de propaganda.


 


 


A reunião esta mesmo confirmada para o dia 15 de novembro, na cidade de Anápolis, no Estado de Maryland. Tanto os palestinos como os israelenses confirmaram a presença com suas delegações. A mídia internacional deve dar ampla cobertura para essa reunião.


 


 


Propostas na mesa


 


 


De forma muito vaga – e os EUA são sempre assim, pois apóiam de forma firme e decisiva seu parceiro e aliado no Oriente Médio, que é Israel – a secretária apoiou a criação de um Estado Palestino. Não fala em detalhes, em fronteiras, mas faz a defesa. Menciona um apelo para que os palestinos abandonem a “violência e as armas” (sic) e apela para os israelenses interromperem os assentamentos e a colonização de terras que são palestinas.


 


 


As três condições básicas para qualquer líder palestino assinar qualquer acordo com Israel são: estabelecimento de fronteiras seguras e definidas (no caso, as anteriores à Guerra dos Seis Dias em junho de 1967, o que daria algo como seis mil quilômetros quadrados na Cisjordânia); ter Jerusalém Oriental como capital do Estado Palestino e direito ao retorno dos refugiados (estimados em quatro milhões).


 


 


Não há da parte de Israel a disposição de aceitar nenhuma dessas três reivindicações. Acredito que os israelenses devem chegar á mesa com a seguinte proposta: soberania limitada na Cisjordânia (algo em torno de 16% e não 22% como se reivindica); certa indenização em dinheiro para os que tiveram suas terras tomadas desde 1948 e capital em Jerusalém Oriental, mas sem o controle pelos palestinos de locais sagrados como a Mesquita de Al Aksa entre outros.


 


 


Não é possível prever o resultado dessa cúpula, mas é quase certo que a liderança palestina não vai aceitar esses termos como eles estão propostos ou pelo menos como vem sendo ventilado pela grande imprensa.


 


 


Uma correlação de forças desigual no mundo


 


 


Há um debate na esquerda no Brasil e no mundo, sobre o poder dos Estados Unidos e mesmo do sistema capitalista em curso, de modelo financeiro e neoliberal. Esse sistema e os EUA estão em decadência ou não? Se estiver em decadência, a “queda” desse império é imediata?


 


 


Recentemente, em entrevista na Folha de São Paulo, o historiador Eric Hobsbawn deu uma espécie de “prazo” para a queda do império: dez anos. Em seguida, o sociólogo e Prof. da UFRJ, José Luis Fiori, contesta, afirmando que não é bem assim. A conceituada revista Carta Capital desta semana, como sempre muito atenta aos acontecimentos centrais e mais polêmicos e importantes mesmo da semana, deu capa sobre esse assunto.


 


 


De minha parte, estou lendo o livro da combativa intelectual canadense, Naomi Klein, com quem estive em um dos Fóruns Sociais Mundiais em Porto Alegre. Já havia lido seu livro excelente em 2002, em julho, quando estive pela primeira vez com o comandante Hugo Chávez em Caracas, no Palácio Miraflores (três meses depois do fracassado golpe de estado). Esse livro era o No Logo (Sem Logo, na tradução brasileira).


 


 


Agora trata-se do excelente livro intitulado The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism (em uma tradução livre, seria algo como “A doutrina de choque: o aumento do desastre capitalista”), da Metropolitan Books, New York (ainda não traduzido no Brasil). De forma resumida, a tese da autoria é que o capitalismo neoliberal, nesta forma financeirizada esta mesmo em crise. Mas, exatamente por estar em crise, que assume formas violentas e usa das armas e mesmo aproveita-se de desastres naturais para implementar da forma mais selvagem possível a sua doutrina. Ela caracteriza o modelo com três questões centrais:a) privatizações selvagens e totais; b) desregulamentação total por parte do governo de tudo para o livre mercado e c) cortes profundos nos gastos sociais e nos impostos (para os ricos no caso).


 


 


Ela estuda em profundidade os métodos usados no Iraque (325-359). Por lá foram privatizados praticamente todas as empresas estatais, mais de meio milhão de servidores foram demitidos, o petróleo foi privatizado e entregue aos grandes grupos e o desemprego atinge até 67% da mão de obra formal. Tem sido assim em vários países do mundo.


 


 


Dou esse exemplo para emitir a minha opinião sobre o tema da correlação de forças. Mesmo em crise, o capitalismo tem muito força e fôlego. Impossível prever a sua queda, o seu fim imediato. Não há no mundo potência alguma de grande ou médio porte que possa confrontar-se com os Estados Unidos, que seguem fortes. Emitem quantos dólares querem, o mundo todo compra seus títulos em troca de juros baixos e possuem o maior exército e forças armadas do planeta. Qualquer ponto da terra pode ser bombardeado por um avião supersônico americano que decola de uma dos nove porta-aviões nucleares capitães de suas nove frotas navais espalhados pelo mundo. Em uma hora e meia ataca qualquer alvo na terra e volta ao porta aviões sem precisar descer em terra firme para reabastecer.


 


 


Assim, mesmo sabendo que não haverá paz e mesmo um documento de consenso dificilmente será assinado, acho importante que a reunião em si ocorra. Não quer dizer que isso é um sintoma de fraqueza da força americana. Mas, é sempre um bom sinal. Cabe a todos os que apóiam a causa palestina seguirmos dando toda a nossa solidariedade a esse povo que merece o respeito de todos os povos do mundo que buscam um mundo de justiça, liberdade e paz.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor