CPI Bumerangue
Um orador experiente sabe que não se deve oferecer aparte sobre assunto que não lhe seja familiar, sob o risco do vexame de uma intervenção rasa, sem conteúdo, ou da simples desmoralização.
Publicado 19/02/2008 15:47
Alguns, porém, procuram compensar a superficialidade ou até mesmo a incoerência de sua abordagem com uma retórica extremamente agressiva. Se o interlocutor não tiver a necessária segurança teórica ou se intimidar, ele acaba vencendo “no grito”, como se costuma dizer.
Na luta política, especialmente na luta de classes, essa lógica é rigorosamente aplicada e os exemplos são fartos.
Para a grande mídia, o chamado “mensalão” mineiro, praticado a exaustão pelo PSDB e o PFL não teve a menor importância, nem mesmo “existiu”. O “mensalão” do PT virou escândalo nacional. Os dois foram acusados do mesmo crime, mas o tratamento da chamada grande mídia em relação a um e outro episódio é completamente distinto. Por quê?
Porque o que move esse debate e anima a pauta editorial dessas publicações não são fatos de natureza moral, ética. Eles se movem e se pautam por interesses de classe. Defendem os privilégios dos seus.
O recente episódio dos “cartões corporativos” é igualmente emblemático. A direita, usando a velha tática de manter o governo na defensiva, fez um grande alarde em torno de uma CPI para investigar esses fatos como parte dessa ofensiva classista contra o governo, independente de seu comportamento. Parecia que o apocalipse se aproximava quando alguém começou a lembrar do uso desse instrumento no governo FHC e especialmente agora pelo governo de São Paulo, sem qualquer transparência e com valores proporcionalmente muito superiores ao do governo federal.
Foi o suficiente para a direita vociferar contra a investigação do período FHC, revelando que nesse, como nos demais episódios, ela nunca quis investigar e sim fazer a permanente luta de classes.
Montesquieu imaginava um Estado composto por três poderes harmônicos e interdependentes. Marx definia o Estado como sendo um instrumento de dominação da classe dominante contra as demais classes sociais.
A história e os fatos deram razão ao marxismo.