Netanyahu em “sinuca de bico”

Quem conhece o jogo chamado “Sinuca” sabe a que me refiro no título acima. Ocorre quando um jogador praticamente não tem como atingir a bola da vez com a bola branca (tacadeira). Acho que é uma boa comparação o que Netanyahu vive no momento. Teria dois as

Diferenças intransponíveis


 


 


Muito se falou e se escreveu sobre a visita de dois dias aos Estados Unidos, feitas pelo primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, mais conhecido como Bibi. Esta ocorreu nos dias 18 e 19 de maio, segunda e terça passada. A mídia internacional deu imenso destaque. Os correspondentes brasileiros dos grandes jornais brasileiros enviaram páginas e página de reportagens. Cabe-nos aqui tecer alguns comentários sobre isso.


 


 


1. Uma mudança de agenda – de forma clara, cristalina, o novo governo israelense quer mudar o foco da agenda política de todo o Oriente Médio. A questão palestina, a criação de seu estado com 62 anos de atraso sai de cena e entra a questão “nuclear do Irã”. Esse país islâmica, que deve iniciar diálogo com os Estados Unidos, passa a ser o inimigo central e os iranianos são pintados como os verdadeiros demônios na terra, com a capacidade praticamente iminente de produzir bombas atômicas – o que se diz de “um Irã nuclear”. Tudo isso é falso. Há um órgão nos Estados Unidos que coordena todas as 16 agências de segurança americana. Todos os relatórios disponíveis dessas agências atestam de forma inequívoca que o Irã não tem capacidade de produzir a bomba. Mas, a imprensa insiste em dizer que tem e – como já se falou – uma mentira dita muitas vezes passa a ser uma “verdade”. Israel quer mudar o foco da questão. Como o governo eleito e empossado em fevereiro passado talvez seja o mais direitista de toda a história de Israel – que completou 61 anos no último dia 15 de maio, por isso o Dia da Desgraça. Analistas também afirmam que é o governo mais avesso á criação de um estado palestino. Tanto que Netanyahu nos dois dias que passou em solo estadunidense, nas várias entrevistas que concedeu, sequer mencionou a palavra “estado palestino”. Uma vez sequer, nem por um lapso. E nem poderia fazê-lo, pois a composição de seu governo, todos os quase dez partidos que o apoiam negam o estado palestino (à exceção dos trabalhistas, que nada mandam nesse governo).


 


 


Israel é a única potência nuclear no Oriente Médio. É o grande perigo para todos os povos da região e o mundo inteiro sabe disso, inclusive Barak Obama, mas nada se faz. É um jogo de hipocrisia, de mentiras, de falsidades. Critica-se o Irã, mas nenhum país tem a coragem de falar das bombas de Israel. Assim, essa agenda é puro despiste. Felizmente, Obama não caiu na armadilha. Ainda que não tenha sido mais duro e enfático contra as posições de Netanyahu, deu declarações públicas em favor da chamada solução de “Dois Estados”. Mas, se olharmos bem essa questão, isso não é novidade. Bush, desde a sua posse em 2001, apoiava essa mesma solução, ainda que nunca tenha pressionado Israel par implementar essa solução. Obama sinalizou que quer mesmo o diálogo com o Irã e não caiu no jogo, na provocação israelense, de falar grosso com o país persa. Em meu ponto de vista, uma derrota para Israel.


 


 


2. Assentamentos judaicos – não é fácil usarmos esse termo, olhando o que ocorre no Brasil, os assentamentos conquistados pelo MST. O que vem ocorrendo na Cisjordânia e parte da Jerusalém Oriental – onde moram apenas palestino-árabes, nada tem a ver com o que para nós significam os assentamentos de trabalhadores rurais sem terra no Brasil. Os assentamentos que vêm ocorrendo na Cisjordânia – proibidos por diversas decisões da ONU – é uma verdadeira provocação de Israel contra os palestinos. De todas as terras originais da palestina, restaram aos palestinos menos hoje do que 20%. Uma verdadeira agressão, que o mundo não tem condições de barrar. Mesmo com a pressão dos americanos. Obama deu, é verdade, uma declaração de que Israel tem que parar esses assentamentos. Mas, Netanyahu fez ouvidos de mercador. Vai prosseguir as construção de conjuntos habitacionais judaicos em terras palestinas. Até porque pelo menos dois partidos da coligação governista, são extremamente fortes entre colonos/ocupantes da Cisjordânia e receberam nada menos do que o ministério da Habitação!


 


 


3. Estado Palestino – não há no momento, a hipótese de que o governo israelense venha a aceitar a solução de dois estados e que concorde em apoiar a criação de um estado palestino independente, convivendo ao lado de Israel. Até porque, Netanyahu fez campanha e venceu eleições dizendo que não era a favor da criação do estado palestino. E fez alianças com partidos que são contra a criação desse estado. Não há como avaliar no momento a possibilidade dele ceder às pressões tanto do governo americano, como da ONU, da União Europeia e da Rússia, que formam o chamado “Quarteto”. Pessoalmente, acho que não há força no mundo hoje capaz de demover esse governo a uma discussão de paz. O que se fala é uma “paz econômica” (sic) com os palestinos, ou seja, Netanyahu quer que os palestinos sejam consumidores de produtos israelense, quer que os países árabes reconheçam Israel e que estabeleçam relações comerciais com o Estado judeu.


 


 


Mas, Netanyahu quer mais do que isso. Impõe o que seu chanceler fascista apregoou durante a campanha eleitoral. Quer que os palestinos, para chegar a um acordo de paz, reconheçam o caráter do Estado judeu de Israel! Não há do lado palestino a menor possibilidade de que isso venha a acontecer. Até porque dentro das fronteiras israelenses (se é que podemos dizer que Israel tem alguma fronteira reconhecida…), vivem 1,2 milhão de palestinos que nunca jurariam fidelidade a um estado de caráter judaico. Os seja, de forma resumida, como tenho dito, a paz continua cada dia mais distante.


 


 


Para não dizer que não falei de flores…


 


 


Os que nos acompanham nesses anos nesta coluna sabem de meu pessimismo com relação à possibilidade de paz na Palestina. Não vejo luz no final do túnel. A correlação de forças ainda não mudou a nosso favor, não pendeu ainda para as forças populares e progressistas da humanidade. A direita segue sendo forte. O modelo neoliberal se é verdade que sofreu um imenso baque, ainda tem fôlego para resistir ao controle dos estados nacionais sobre a livre movimentação de capitais financeiros e especulativos. Assim, a paz segue distante.


 


 


Não poderia deixar de comentar duas coisas esta semana.


 


 


1. Visita do Papa na Terra Santa – indaguei a um grande amigo americano por e-mail semana passada, Steve S., sobre o jogo de quem o Papa faz com suas declarações dúbias, dando sempre uma no cravo e outra na ferradura. Ele respondeu-me curto e grosso: “faz o jogo dele mesmo”. Bingo! É bem verdade que o Papa defende a solução de “Dois Estados”. Mas, não foi enfático. É como se não estivesse convencido da proposta. Claro, foi recebido com frieza pela comunidade judaica em Israel. Visitou o museu do Holocausto, condenando esse episódio da história que alguns insistem em negar. No entanto, também não foi enfático, o que gerou polêmica em Israel e abriu brechas para ele ser criticado por líderes judaicos. Alguns até lembraram o passado da juventude do Papa quando ele teria sido adepto da juventude hitlerista, prontamente negado pela Santa Sé. De qualquer forma, pesando em uma balança de pratos, os aspectos positivos e negativos da visita papel, acho que foi positivo e contribuiu para criar uma ideia força a favor dos palestinos e de seu Estado nacional.


 


 


2. Al Nakba – quase todos os anos, nos últimos que colaboro com o portal Vermelho, sempre trato do dia 15 de maio, considerado o Dia da Desgraça para os palestinos. Nesse dia, estimativas da ONU indicam que quase um milhão de palestinos foram deslocados de suas terras no dia 15 de maio de 1948, data da proclamação do Estado de Israel. Hoje são quatro milhões de palestinos deslocados, refugiados, que vivem como favelados em países vizinhos de Israel e fora do Oriente Médio. Pesquisas indicam que quase 500 aldeias palestinas foram dizimadas, destruídas e muitos de seus moradores foram brutalmente assassinados. Não poderia deixar de lembrar neste espaço essa data.


 


Vejam estes dois impressionantes vídeos num site de apoio aos palestinos e emocionem-se:


 


 


http://palestinethinktank.com/2009/05/15/61-years-of-nakba-418-palestinian-villages-destroyed/

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