Democratas de todo país, uni-vos
Um domingo de micareta, shows de trios elétricos e muita festa povoaram diversas capitais do país neste último domingo (13). Poderia ser esta as manchetes dos jornais se por trás de toda esta badalação e confusão não estivessem presentes apenas a elite branca e parte da classe média urbana brasileira interessada apenas na manutenção de seus históricos privilégios.
Publicado 14/03/2016 10:41
Com cobertura digna de capítulo final de novela, a mídia burguesa reproduziu ao longo de todo o dia o chamamento que aconteceu por toda a semana, desta vez, entretanto, com patrocínio da iniciativa privada de maneira direta, assim como a presença de artistas globais, mudança na grade dos campeonatos estaduais de futebol e shows gratuitos.
Obviamente que o direito de manifestar existe, e jamais quero aqui atacar o direito democrático de não concordar com algo, entretanto, uma manifestação é muito diferente de discursos de ódio, depredação de sedes de partidos políticos de esquerda, invasão de sindicatos e pichação da sede da UNE. Isso não é exercer o sagrado direito constitucional de se expressar, isso tem outro nome: Fascismo.
Não saber respeitar o outro, inflamar cânticos racistas, machistas ou homofóbicos não podem ser tolerados, nunca é demais lembrar que Adolf Hitler, até a segunda metade da década de 20 não tinha seguidores, a massa acéfala que o seguiu instaurando o regime nazista na Alemanha se formou exatamente por um bando de insatisfeitos, uma pauta com os mesmos dizeres (acabar com a corrupção) e uma raiva descabida dos mais humildes, como se estes fossem os culpados (e não vítimas) de todos os males da sociedade.
Entre os irresponsáveis que convocaram estas manifestações, estão figuras conhecidas da política brasileira, como o senador Aécio Neves (PSDB- MG), o deputado Paulinho da Farsa Sindical (SDD-SP) e o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB-SP). Curiosamente, todos estes são acusados, minimamente, de corrupção e superfaturamento em obras públicas, coisas que os dizeres da do ato mais atacavam.
Entretanto, mais preocupante que corruptos famosos estarem em um ato anticorrupção, é perceber figuras destacadas por seu discurso de ódio contra minorias serem aplaudidos e exaltados como aqueles que podem salvar o Brasil de todos os males como os deputados federais Jair Bolsonaro (PSC- RJ) e Marcos Feliciano (PSC-SP), além do Pastor Silas Malafaia.
Obviamente, que dói bastante para qualquer defensor do estado democrático de direito (como eu), perceber que pessoas famosas por seus discursos inflamados contra negros, gays e mulheres serem vistos como heróis ou salvadores da pátria. Mas é preciso sufocar o estômago e analisar com calma o perigo real que estamos vivendo.
Desde o golpe militar de 1964 não se via a sociedade brasileira tão polarizada, com argumentos tão parecidos para a derrubada do poder de um governo do campo popular. E desde as diretas já (em 1985) não se notava uma ameaça tão real para nossa democracia como esta que agora se coloca, com o judiciário tomando medidas arbitrárias, coagindo e prendendo pessoas sem prova e a mídia (como sempre) colocando o país em uma convulsão social desnecessária.
É preciso uma resposta por parte da esquerda que faz parte do governo Dilma contra as ações golpistas, mas não só dela. É fundamental a ampliação da Frente Brasil Popular (FBP) para uma Frente em Defesa da Democracia, fazendo deste o verdadeiro canal contra o golpe em curso! Além de diversas entidades representativas da sociedade civil e de partidos como o PC do B e o PT, é preciso que se busquem mais aliados contra a cirurgia golpista em andamento! Este é o momento, não se pode cair no erro de se transformar a FBP em Frente Lula 2018, isso é passar com o carro à frente dos bois, é cometer um erro grave que pode deixar sequelas profundas!
Muitos que são defensores da democracia como Ciro Gomes e o PDT, setores do PSB, Roberto Requião e a ala mais progressista do PMDB, o PCO e até mesmo o deputado federal Jean Wyllys e a APS (corrente majoritária interna) do PSOL poderiam se somar a esta frente, pois todos estes são contra qualquer golpe, apesar de não ser (hoje) Lula 2018.
Não temos tempo para vacilações, é preciso ampliar o leque de alianças, qualquer um que queira respeitar os 54 milhões de votos que a presidenta Dilma teve em 2014 e que percebe tanto a importância política como a veracidade jurídica de sua eleição precisa ser tratado como aliado somando forças contra qualquer risco de impedimento do mandato presidencial! Respeitar as urnas é resguardar a democracia, a vontade soberana do sufrágio e ainda o estado democrático de direito.
Não podemos nos dar ao luxo de cair em sectarismos e disputas internas sem sentido, o cerco está se fechando, logo o golpe terminará literalmente de ser dado. Ou se amplia, ou se perde! É agora ou nunca! Antes que seja tarde!
Democratas de todo o país, uni-vos!
Até a próxima!