O mundo depois do coronavírus: desejos e (in)certezas
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Publicado 10/06/2020 13:19

Vamos, poeta,
Cantar, luzir
No lixo cinza do universo…
(Vladimir Maiakovski)
Intelectuais de diversos campos do conhecimento, assim como as pessoas mais simples, exercitam constantemente a imaginação sobre como será o mundo depois dessa crise gerada pelo coronavírus.
Os trabalhadores, na luta pelo pão de cada dia, preocupam-se principalmente sobre o emprego e o futuro da prole.
Os pequenos e médios empresários esperam uma imediata retomada do crescimento econômico, para assim salvar as empresas e se manterem de pé.
Operadores do segmento político, militar e financeiro internacional, aqueles que realmente atuam no topo do gerenciamento das grandes estruturas de poder mundial, anseiam em decodificar o desdobramento da crise para melhor reposicionar suas forças e, assim, continuarem a ordenar a movimentação política e econômica do mundo conforme seus interesses, crenças e ambições.
Poetas, filósofos, e cientistas políticos, de diversas áreas do saber, nos presenteiam com belos textos e reflexões, ligeiramente úteis, principalmente em tempos de “distanciamento social” e esse tipo de vida aprisionada nos mais diversos tipos de cavernas artificiais.
As reflexões apresentam de tudo, desde uma desconfiança mística de que isso é apenas o prenúncio de algo ainda mais catastrófico que interrompa a continuidade da espécie até a algo mais esperançoso, de que a crise servirá para tornar o humano mais bondoso, solidário e mais consciente e responsável com o meio ambiente e as diversas formas de vida ainda existente no planeta. E há ainda aqueles que se debruçam em argumentos sobre qual a melhor forma (ou a mais eficiente forma) de organização política e econômica de nossa sociedade.
No geral, isso reflete os interesses, desejos e horizontes de mundo dos mais diversos agrupamentos humanos. Nesse sentido, por mais brilhante que sejam, no conjunto dessas reflexões, “não há nada de novo debaixo do sol”.
Por mais distintas e pertinentes que sejam, essas inquietudes e desejos revelam que grande parte dos humanos finalmente se deram conta de que apesar dos muitos avanços científicos e tecnológicos, continuamos muito frágeis, não apenas como individualidade (isso cada um bem sabe), mas também como agrupamento. E claro, precisamos fazer algo para avançar sobre nossos medos e assim nos fortalecer enquanto espécie.
Lembraria ainda que nesse exercício de imaginação de reconstrução do mundo, não se pode esquecer dos socialmente mais fragilizados, milhões e milhões, espalhados nas mais diversas partes do planeta, que sequer possuem um abrigo para se proteger ou a garantia diária de uma cuia de alimento para saciar as suas necessidades mais básicas. Nesse caso, mais do que imaginação e desejos, é preciso ações urgentes e concretas.
Que essa crise possa gerar em nós uma capacidade nova de realmente enfrentarmos sem medo nossos verdadeiros problemas, pois somente assim avançaremos no fortalecimento de nossa humanidade.