O mundo depois do coronavírus: desejos e (in)certezas

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Vamos, poeta,

Cantar, luzir

No lixo cinza do universo…

(Vladimir Maiakovski)

Intelectuais de diversos campos do conhecimento, assim como as pessoas mais simples, exercitam constantemente a imaginação sobre como será o mundo depois dessa crise gerada pelo coronavírus.

Os trabalhadores, na luta pelo pão de cada dia, preocupam-se principalmente sobre o emprego e o futuro da prole.

Os pequenos e médios empresários esperam uma imediata retomada do crescimento econômico, para assim salvar as empresas e se manterem de pé.

Operadores do segmento político, militar e financeiro internacional, aqueles que realmente atuam no topo do gerenciamento das grandes estruturas de poder mundial, anseiam em decodificar o desdobramento da crise para melhor reposicionar suas forças e, assim, continuarem a ordenar a movimentação política e econômica do mundo conforme seus interesses, crenças e ambições.

Poetas, filósofos, e cientistas políticos, de diversas áreas do saber, nos presenteiam com belos textos e reflexões, ligeiramente úteis, principalmente em tempos de “distanciamento social” e esse tipo de vida aprisionada nos mais diversos tipos de cavernas artificiais.

As reflexões apresentam de tudo, desde uma desconfiança mística de que isso é apenas o prenúncio de algo ainda mais catastrófico que interrompa a continuidade da espécie até a algo mais esperançoso, de que a crise servirá para tornar o humano mais bondoso, solidário e mais consciente e responsável com o meio ambiente e as diversas formas de vida ainda existente no planeta. E há ainda aqueles que se debruçam em argumentos sobre qual a melhor forma (ou a mais eficiente forma) de organização política e econômica de nossa sociedade.

No geral, isso reflete os interesses, desejos e horizontes de mundo dos mais diversos agrupamentos humanos. Nesse sentido, por mais brilhante que sejam, no conjunto dessas reflexões, “não há nada de novo debaixo do sol”.

Por mais distintas e pertinentes que sejam, essas inquietudes e desejos revelam que grande parte dos humanos finalmente se deram conta de que apesar dos muitos avanços científicos e tecnológicos, continuamos muito frágeis, não apenas como individualidade (isso cada um bem sabe), mas também como agrupamento. E claro, precisamos fazer algo para avançar sobre nossos medos e assim nos fortalecer enquanto espécie.

Lembraria ainda que nesse exercício de imaginação de reconstrução do mundo, não se pode esquecer dos socialmente mais fragilizados, milhões e milhões, espalhados nas mais diversas partes do planeta, que sequer possuem um abrigo para se proteger ou a garantia diária de uma cuia de alimento para saciar as suas necessidades mais básicas. Nesse caso, mais do que imaginação e desejos, é preciso ações urgentes e concretas.

Que essa crise possa gerar em nós uma capacidade nova de realmente enfrentarmos sem medo nossos verdadeiros problemas, pois somente assim avançaremos no fortalecimento de nossa humanidade.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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