O balde de Chico
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Publicado 23/09/2020 10:13 | Editado 23/09/2020 18:15

Uma carcaça de geladeira suspensa, na beira da linha férrea, servia como ponto de encontro para as coisas rejeitadas. Todos os dias aquela carcaça transbordava de sobras de comidas, embalagens e de objetos descartados.
A carcaça era vigiada. Chico morava há 20 passos daquele ponto de encontro. Cotidianamente se encontravam na rua, a carcaça, Chico e seu balde de 20 litros, que um dia tinha tinta e já foi branco.
Na beira da carcaça, Chico, num exercício paciente revirava cada rejeição e atentamente procurava o desconhecido, não porque seja desconhecido, mas porque não sabia o que procurar e aos poucos, o seu balde ia enchendo.
Vai para casa, sobe as escadas e fica na varanda, despeja o balde, senta como índio, acocorado, olha a rua e o que catou na carcaça, Chico escolhe algumas coisas. O que restou coloca novamente no balde de 20 litros que já teve tinta e que já foi branco.
Novamente Chico vai à carcaça, despeja o balde e volta para casa. O balde está vazio, Chico talvez aliviado.
A carcaça fica cheia novamente. É dia de pegar o balde de 20 de litros, que já teve tinta e que já foi branco. Chico não perde tempo, vasculha, cata e enche, entra em casa, sobe as escadas, fica na varanda, despeja o balde, senta como índio e recata. O que não quer colocar no balde, rejeita na carcaça.
Todos dias a carcaça se enche e tudo parece se repetir. Chico nunca fica com o balde cheio, mas parte do ponto de encontro fica com ele.