Os 100 anos do PCdoB são um sinal que ainda há esperança para a democracia em nosso país

No Brasil, comunista sempre rimou com democracia. O Partido Comunista foi e segue sendo força estruturante da democracia brasileira, militante ativo por dias melhores

Foto: Rebeca Belchior

No dia 25 de março cumpriram-se 100 anos desde que 9 pessoas que eram representantes de vários outros reunidos nos estados da federação fundaram na cidade de Niterói, estado do Rio de Janeiro, o Partido Comunista do Brasil. Inspirados pelas ideias que chegavam com os imigrantes europeus e também pela Revolução Russa, os comunistas em nosso país têm sua História amalgamada com a da nossa República.

A começar pelas greves que marcaram as primeiras décadas do século XX, disputando a liderança com os anarquistas, ambos lutavam contra a exploração por parte dos patrões nas primeiras fábricas que se instalavam em nosso território. É também inegável a influência das ideias dos comunistas na concepção e implementação da Semana de Arte Moderna em 1922, um marco na cultura brasileira.

Os comunistas do Brasil cometeram equívocos nos seus primeiros anos, exemplo disso foi na Revolução de 1930, tiveram posição sectária, não apoiaram a revolução democrático-burguesa que levaria Getúlio Vargas à presidência da República, não captando as importantes mudanças trabalhistas que ali foram feitas. Em um segundo momento, Vargas flerta com o nazi-fascismo, monta um governo apoiado em uma Constituição que copiava a da Polônia e estrutura um governo ditatorial, os comunistas enfrentaram e lutaram contra a Ditadura de Vargas, inclusive com o sacrifício de Olga Benário, entregue grávida aos nazistas. Foram firmes nas campanhas contra a Segunda Guerra Mundial e depois viriam a sagrar uma grande bancada parlamentar nas eleições de 1946, elegendo Luiz Carlos Prestes como o primeiro senador da legenda.

Foi nessa Constituinte que o deputado Jorge Amado apresentou o projeto de Lei que define a liberdade de religião e culto como conhecemos hoje, feito de um comunista. Os comunistas deram seu apoio ao governo João Goulart, ajudaram a organizar o povo pelas reformas de base, resistiram quando o presidente foi derrubado e instaurada uma ditadura. Também estiveram presentes também na luta pelo petróleo, durante a famosa campanha “O petróleo é nosso”.

Na Ditadura Militar, os comunistas lutaram do primeiro ao último dia pelo reestabelecimento da democracia no Brasil, resistiram com atos e manifestações, estiveram na Marcha dos 100 mil, fizeram ações pelo movimento estudantil e sindical. A ditadura brasileira foi bárbara, torturou e matou centenas de comunistas. A última alternativa foi organizar a luta armada, com guerrilhas urbanas e rurais, para organizar o povo e resistir aos ditadores frente ao endurecimento do regime.

Cartaz com os desaparecidos da Guerrilha do Araguaia | Foto: Fundação Grabois

Participaram da retomada da democracia ao fim da ditadura, inclusive com a volta daqueles que tiveram que se exilar para fugir das torturas, prisões e assassinatos perpetrados pelo regime militar.

Foram fundamentais na campanha pelas eleições diretas, na derrota dessas votaram no congresso nacional pela eleição de Tancredo contra o candidato dos militares. Participaram ativamente na elaboração da Constituição Cidadã de 1988, dando forma e letra a várias leis que até hoje garantem direitos a nosso povo.

Os comunistas do Brasil foram linha de frente no impeachment de Collor, em todas as campanhas de Lula e Dilma para presidente, resistiram bravamente contra as privatizações dos anos neoliberais de FHC e expressaram suas opiniões fortalecendo e militando permanentemente no movimento de mulheres, negros, LGBTQIA+, bairros, sindical, estudantil, na luta de ideias e na frente parlamentar.

Faixa das entidades estudantis UNE e Ubes durante a campanha Fora Collor | Foto: Reprodução

Resistiram ao golpe contra Dilma, votaram contra o impeachment da presidente, apoiaram o governo até o último dia. Os comunistas tem sido também decisivos na resistência ao desmonte do Estado democrático de Direito perpetrado por Bolsonaro, estão nas ruas e nas lutas para permitir que o país possa inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento social e democrático.

No Brasil, comunista sempre rimou com democracia. O Partido Comunista foi e segue sendo força estruturante da democracia brasileira, militante ativo por dias melhores, celeiro de quadros e lideranças comprometidas com nosso país. Tal fato é reconhecido não só por seus militantes, mas até mesmo por opositores, recentemente isso fica bastante claro na votação do congresso nacional que aprovou a criação das federações partidárias, movimento capitaneado pelos comunistas.

Se há um sinal de que há esperança para o Brasil é o fato de nossa democracia ainda comportar a pluralidade de opinião e os comunistas seguirem sendo força partícipe do Brasil democrático, soberano, representado por um povo que luta e sonha.

Parabéns ao Partido Comunista do Brasil por seu centenário, por sua luta e por sua militância em defesa do Brasil. Um partido centenário de ideias jovens e atuais.

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