25 anos do massacre de Sabra e Shatila

Não se comemora aniversário de massacres mas algumas ocasiões especiais não podemos jamais esquecer, pelo simples fato que massacres como esse do acampamento palestino de Sabra e Chatila, no Líbano, continuam sendo perpetrados até os dias atuais e nã

O apoio de Israel ao massacre


 


Israel ocupou o Líbano e o sul do país, por diversas vezes, desde a proclamação de sua existência em 14 de maio de 1948 por Ben Gurion. O episódio de 1982 tem um caráter e uma lembrança especial. Os dias que se transcorreram o massacre que vamos relatar aqui, tem início no dia 14 de setembro desse ano. O cristão e então presidente do Líbano, Bachir Gemayel é assassinado a tiros num atentado. Falanges e milícias cristãs se enfurecem e radicalizam. Bachir, como se soube, defendia abertamente um acordo de paz com Israel.


 


Quem comandava a ocupação do Líbano por Israel era ninguém menos do que o general Ariel Sharon, ex-primeiro ministro, hoje um morto-vivo, em coma há mais de dois anos. Verdade seja dita, não foram os soldados diretamente que perpetraram o massacre. Mas, o fizeram com as mãos de libaneses inescrupulosos, das falanges de extrema direita e pró-sionistas.


 


Os tanques israelenses deram total cobertura. Cercaram esses dois acampamentos de refugiados palestinos. Israel forneceu até as tochas que iluminaram os acampamentos à noite para que cerca de 600 milicianos entrassem nos campos. Milhares de famílias de palestinos moravam nessas localidades. Durante toda a noite do dia 16 de setembro e o dia todo do dia 17 ouviu-se tiros e explosões. Era o início do massacre. E o massacre foi o mais cruel que se pode ver em toda a história dos massacres que israelenses e cristãos fizeram contra palestinos. Relatos idôneos da Cruz Vermelha Internacional dão conta de mulheres brutalmente estupradas e depois esquartejadas.


 


Sharon sofreu na verdade a sua maior derrota política com esse episódio. Mesmo sendo ministro da Defesa de Israel, acabou tendo que se afastar e alguns dias depois do episódio, onde se estimam tenham morrido mais de três mil jovens, mulheres, crianças e velhos, uma manifestação de 400 mil pessoas pedia punição, em Tel Aviv, pedindo a saída de Sharon. O ex-ministro nunca foi punido por isso, pela sua responsabilidade direta no massacre. Nem ele, nem o general Rafael Eitan, que era mancomunado com os cristãos libaneses de direita.


 


O então primeiro Ministro de Israel era Menachem Béguin, já morto. Ele mesmo um dos autores de outro famoso massacre a uma aldeia palestina, mas há 60 anos, em 1947, em abril, que se chamava Deir Yassim. Nesse caso morreram “só” 250 palestinos. Béguin entende do assunto. Mas, por pressão popular e por decisão de uma comissão de investigação interna do governo, Béguin acabou tendo que afastar Sharon, que amargou 15 anos de ostracismo político, retornando apenas em 1998 e agora vive de forma vegetativa em coma.


 


Os episódios no Brasil


 


Aqui eu quero rememorar algumas coisas que me marcaram muito nessa época. Quando eu menciono que estudo o Oriente Médio com maior profundidade, menciono sempre a data de 1982. E foi exatamente esse episódio que marcou profundamente a minha vida. Nesse dia 16 de setembro, eu era candidato à vereador pela legenda do PMDB, na cidade de Campinas. Recém formado Sociólogo pela PUC de Campinas, havia ingressado no Mestrado em Filosofia.


 


 


Era militante de todas as causas populares, como o era desde a minha juventude quando ingressei, em 1975, nas fileiras do Partido Comunista do Brasil. O Partido, então na clandestinidade à época, seguiu com sua dupla filiação e nós participávamos do então PMDB. Obtivemos algumas legendas e eu fui um dos indicados pela direção para concorrer a uma vaga de vereador.


 


 


 


Fiz muita campanha na comunidade árabe. Foi a época que também tive a honra de conhecer o camarada Ali El Khatib, antigo lutador popular, ainda hoje nas batalhas. Assim como conheci e militamos muito juntos, o camarada Emir Mourad. Nessa fatídica semana de setembro, tomamos conhecimento dos episódios. Isso nos causou uma profunda revolta. Muitas dores, lágrimas, choros. Víamos imagens pela imprensa e pela TV. Corpos crivados de bala, ventres de mães grávidas com fetos arrancados. Um horror. Como era possível que seres que se dizem humanos fizessem aquilo com uma população indefesa de gente que vivia refugiada e banida de sua terra natal?


 


Havia o dedo claro e nítido de Israel.


 


 


Não tivemos dúvidas. Várias entidades estudantis, que tinham maior mobilização, sindicatos, que ainda eram poucos os que mobilizavam estavam nas mãos de gente progressista, como o Sinpro de Campinas, já em mãos combativas, procuramos organizar um grande ato público. E, como sempre, escolhemos o famoso Largo do Rosário. Isso foi no dia 18 de setembro, que caiu num sábado. Nossa resposta foi rápida. Nesse ano a oposição venceria, no mês de novembro, as eleições em vários estados brasileiros e em São Paulo ganharia Franco Montoro, ex-democrata cristão, mas bastante avançado para aquela conjuntura.


 


 


Assim foi meu “batismo de fogo” com relação à causa árabe e palestina em particular. Dessa época em diante nunca mais parei de estudar o Oriente Médio, essa magnífica região do mundo. Aqui, mais uma vez, fica o meu compromisso com as lutas dos palestinos pelo seu direito ao retorno, pelas suas terras, pelo seus estado nacional. Seguirei com eles até isso ser conquistado. Os palestinos estão com a razão e vencerão.

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