A classe trabalhadora frente ao imperialismo (final)

O modelo neoliberal de desenvolvimento, que na verdade foi uma negação em termos de desenvolvimento, teve como um dos seus principais fundamentos a depreciação da força de trabalho. Em oposição a esta orientação reacionária, o movimento sindical deve leva

Ao contrário do pensamento neoliberal, a valorização do trabalho deve ser concebida e percebida não apenas como um objetivo, mas igualmente como uma fonte do desenvolvimento, um estímulo ao crescimento das forças produtivas através do fortalecimento dos mercados internos, assim como da elevação da qualidade e da produtividade do trabalho. Os interesses da classe trabalhadora e dos povos não se opõem ao desenvolvimento nacional dos países mais pobres.


 


Bandeiras desenvolvimentistas


 


As bandeiras do trabalho devem ser levantadas como bandeiras do desenvolvimento com soberania, igualdade e justiça. A redução da jornada de trabalho sem redução de salários, por exemplo, além de reduzir o nível de desemprego tende a aumentar a massa salarial, fortalecer o mercado interno e elevar a qualidade e a produtividade do trabalho. Seus efeitos favorecem o crescimento das forças produtivas e não o contrário, como supõe o patronato e os ideólogos burgueses.


 


Parece evidente que a evolução das nações latino-americanas na direção de novos modelos de desenvolvimento, alternativos ao neoliberalismo e em oposição ao imperialismo, compreende em primeiro plano a luta contra a Alca e os planos dos EUA para o continente americano, com destaque para os acordos bilaterais de livre comércio.


 


Solidariedade


 


As organizações ligadas à classe trabalhadora sempre estiveram na linha de frente das batalhas contra a Alca e os TLCs e também têm respaldado as iniciativas dos governos progressistas que visam uma integração política e econômica dos países latino-americanos fora da esfera de influência de Washington, incluindo a Alba e o Mercosul.


 


É indispensável lutar para conferir aos esforços de integração um caráter social e um espírito de solidariedade maior. É essencial que a classe trabalhadora tenha um protagonismo mais relevante nas lutas nacionais e no movimento de mudanças que já está em curso.


 


Integração das lutas


 


Isto nos remete à necessidade de integração das lutas e dos movimentos sociais. O Encontro Sindical Nossa América, realizado nos dias 5 a  de maio em Quito (Equador), foi um passo importante nesta direção. O desafio é grande, dadas as imensas dificuldades com que as organizações populares e o sindicalismo, em especial, se defrontam hoje. Mas, é preciso enfrentá-lo.


 


O imperialismo vem sofrendo derrotas políticas significativas. A hegemonia de Washington está em crise, enfraquecida pelo parasitismo econômico e pelo desenvolvimento desigual, que conforme notava Lênin constituem duas leis implacáveis do desenvolvimento das nações sob o imperialismo. A queda do dólar, a valorização do euro e a ascensão da China são sintomas e reflexos da atuação dessas duas leis que promovem a decadência dos EUA. A compreensão desses dois conceitos é indispensável para entender um pouco do que se passa na chamada economia internacional.


 


Parasitismo


 


O parasitismo se manifesta, entre outras formas, através do consumismo desenfreado da sociedade estadunidense, sobretudo das famílias mais ricas, fenômeno refletido no gigantesco déficit comercial, que ultrapassou 800 bilhões de dólares em 2007; na maior divida externa do planeta, estimada em cerca de 12 trilhões de dólares e numa necessidade de financiamento externo que requer a atração de mais de dois bilhões de dólares do exterior diariamente ou a emissão inflacionária das verdinhas.
A outra face do parasitismo é uma taxa de poupança próxima de zero. Tio Sam come, veste e vive à custa alheia. Transformou-se num velho gigante obeso e ineficiente. Sem gerar poupança interna, o capitalismo estadunidense se reproduz à base dos investimentos estrangeiros, provenientes principalmente da China, Japão e União Européia.


 


Baixa acumulação


 


Esta situação indica uma taxa de acumulação de capitais interna bem inferior às verificadas no interior das potências rivais e expõe a crescente dependência e vulnerabilidade da maior economia do mundo. Se os governos e empresários estrangeiros decidirem não mais financiar o parasitismo ianque, o país vai mergulhar na estagnação, terá de reduzir drasticamente o consumo e poupar mais. Um ajuste interno nesta direção, similar ao realizado no Brasil durante a crise da dívida externa, pode ser precipitado pela decomposição do padrão dólar.


 


É interessante apreciar a interação do parasitismo e da decadência do império com a evolução econômica das outras potências, no curso do desenvolvimento desigual das nações. Ao longo do tempo, o déficit comercial norte-americano, recorrente desde 1971, corroeu a competitividade da indústria doméstica, enquanto estimulava o crescimento da produção em outros países, notadamente na Ásia, onde se destaca a expansão extraordinária das exportações chinesas.


 


Ascensão e queda


 


Assim, o parasitismo e a decadência dos EUA funcionam como uma contrapartida necessária da ascensão da China, da Alemanha e do Japão. Muitos economistas já notaram que o déficit comercial que o centro do imperialismo mundial vem acumulando despreocupadamente ao longo das últimas décadas é a via preferencial para a realização do capital asiático e europeu.


 


A expansão imperialista do capital japonês e alemão, assim como a ascensão da China, não seriam viáveis (pelo menos nos moldes da atual “globalização”) sem as condições econômicas criadas pelo irrefreável parasitismo da sociedade norte-americana, com seu apetite insaciável por mercadorias importadas e o vício inebriante de viver além dos próprios meios que produz. Ascensão, de um lado, e queda do outro são parte de um mesmo movimento histórico.


 


Contradição bizarra


 


Refletindo o parasitismo, o consumo já responde por mais de 70% do PIB nos EUA e chegou a crescer inclusive na recessão de 2001, enquanto a produção interna declinava. A contradição bizarra entre consumo e produção, neste caso, se explica pelo aumento das importações e, conseqüentemente, do passivo e da dívida externa, que acentuaram a decomposição do padrão dólar. Em função do consumo e das importações excessivas, já se disse que a economia estadunidense é movida a cartão de credito.


 


Em certo sentido isto é verdade, mas longe de representar um progresso ou uma tendência natural do desenvolvimento e das economias mais maduras (como sugerem os ideólogos capitalistas), trata-se de uma aberração, um sinal de decadência e parasitismo A expansão do credito estimulou a invenção de novas modalidades de investimentos financeiros, a especulação e a irresponsabilidade da banca internacional. Certamente a crise financeira atual tem muito a ver com isto.


 


Desenvolvimento desigual


 


Como já foi dito, o parasitismo anda de mãos dadas com o desenvolvimento desigual. O entrelaçamento desses fenômenos torna irresistível a decomposição do império. No passado, o parasitismo americano alimentou a expansão imperialista do Japão e da Alemanha. Atualmente, ajuda a ascensão da China, que tem um sentido histórico distinto.


 


Interligada à crise dos EUA observa-se a emergência e o aguçamento de problemas e contradições que ampliam a crise do capitalismo internacional. É o caso da nova crise do petróleo, do aumento dos preços dos alimentos e do desemprego em massa que acompanha a expansão capitalista e a crescente concentração da renda entre as nações e no interior destas entre as diferentes classes sociais. As potências européias patinam no baixo crescimento e o Japão ainda padece os efeitos da estagnação dos anos 1990.


 


Ascensão da China


 


O capitalismo não parou de crescer e se expandir, porém o desenvolvimento desigual, que hoje favorece principalmente a China e os países ditos emergentes da Ásia e da América Latina, está alterando o equilíbrio de forças entre as nações e promovendo de forma objetiva, independente da vontade dos imperialistas, transformações de vulto no cenário econômico e diplomático mundial, criando uma conjuntura promissora que pode favorecer as forças progressistas e antiimperialistas.


 


É no rastro histórico da decadência dos EUA que cresce o movimento pela emancipação dos povos da América Latina. Mesmo a ALCA perdeu força em função do declínio estadunidense. Aí também se compreende a ascensão da China, que embora desperte contradições em certos ramos da indústria latino-americanas (especialmente no México e Brasil), é substancialmente diferente da expansão imperialista das potências capitalistas.


 


Contraponto ao imperialismo


 


A China pratica um modelo de desenvolvimento que seus dirigentes denominam de “socialismo de mercado”. Há décadas cresce de forma ininterrupta e ainda não conheceu as crises cíclicas típicas do capitalismo. O governo comunista incrementa com sucesso o crescimento das forças produtivas com uma orientação diferente do neoliberalismo, como sugere a nova legislação trabalhista aprovada em outubro do ano passado. É também solidário com Cuba, com a Venezuela e outros governos progressistas da nossa região, constituindo um contrapeso importantíssimo ao imperialismo estadunidense.


 


Embora em crise, o imperialismo não está morto e reage com violência para recompor sua hegemonia. Acontecimentos recentes, dos quais cabe destacar a violação do território equatoriano pela Colômbia e as iniciativas separatistas na Bolívia, indicam que o imperialismo, em aliança com as forças conservadoras locais, procura criar condições para a contra ofensiva. Os golpes de abril (em 2002 na Venezuela) e a tradição intervencionista dos EUA revelam até onde os imperialistas querem e podem chegar neste sentido.


 


Luta pela paz


 


É conveniente lembrar que o capitalismo, em sua fase imperialista, ao contrário do capitalismo concorrencial, não promove o livre comércio e muito menos relações harmoniosas entre as nações. É francamente hostil à paz, favorece o protecionismo cínico das grandes potências, objetiva tão somente a maximização dos lucros das transnacionais e conduz inapelavelmente à guerra.


 


As duas guerras mundiais podem e devem ser debitadas na conta do imperialismo. O pós guerra não foi um período muito pacífico e hoje vemos recrudescer claramente o caráter belicista do sistema, com os conflitos infames movido pelos EUA e outras potências capitalistas contra os povos do Iraque e Afeganistão, que já resultaram em milhões de mortos e refugiados. Sabemos, por aqui, o quanto o governo Bush aposta na divisão e na guerra. Podemos estar certos de que enquanto viver sob o imperialismo, a humanidade não conhecerá a paz. A luta conseqüente pela paz mundial, que ganha maior relevância com o declínio americano, é, em essência, uma luta antiimperialista.


 


Consciência de classe 


 


O neoliberalismo também não foi definitivamente derrotado. É necessário ampliar a mobilização e conscientização das massas trabalhadoras para lutar, ao lado de outras forças progressistas, por dois objetivos interligados: derrotar a reação neoliberal e impulsionar ações transformadoras. A luta no plano ideológico, pela conquista dos corações e mentes da classe trabalhadora e elevação da consciência social, não é coisa simples ou fácil, principalmente quando temos em mente a força e influência da mídia capitalista, que joga no sentido oposto.


 


Os trabalhadores e trabalhadoras, incluindo camponeses e indígenas, devem assumir a direção da luta pela conquista da efetiva soberania, contra o imperialismo e o neoliberalismo, luta que tem caráter nacional e deve envolver outros setores da sociedade, mobilizar a juventude, as mulheres, os negros, os homossexuais, refutando todas as formas de preconceito e discriminação, usados pelo capitalismo para dividir os povos, aumentar o grau de exploração e maximizar os lucros.


 


Protagonismo
 


 


Não só o movimento sindical, mas as organizações e os movimentos sociais de uma forma geral, os ambientalistas, os patriotas, organizações governamentais e governamentais, precisam ser engajados nesta luta.


 


O processo de mudanças só avançará e consolidará o seu sentido progressista, abrindo caminho à valorização do trabalho e ao socialismo do século 21, se lograrmos elevar o protagonismo da classe trabalhadora e das amplas massas oprimidas nas lutas políticas nacionais e no conjunto da América Latina. Eis o grande desafio do movimento sindical e dos partidos e organizações progressistas.

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