A dor invisível

Assunto bem difícil este que teimei em escolher. Afinal, para falar sobre drogadição, campanhas, prevenção danos provocados e mais aspectos ainda o que não nos faltam são informações genéricas, trazidas pela mídia, por revistas de caráter, digamos, técnico.

Temos os assombrosos números da violência para corroborar quaisquer conclusões acerca da realidade, enxergamos nas madrugadas os pervas(¹) desfilando seus olhos arregalados, buscando, de alguma forma remediar o sofrimento da abstinência.

O que deixamos de enxergar é o que me preocupa. As mulheres que acompanham estes pervas, e mesmo junto a eles são absorvidas pela invisibilidade que antes os negros, os índios, os gays, os portadores de necessidades especiais.

A 2ª Guerra foi palco e incubadora para várias drogas. Estadunidenses recebiam tabaco e uísque, alemães se mantinham alertas consumindo anfetaminas e soviéticos aqueciam-se com vodca.

Em outras guerras outras drogas já tiveram seu uso, mas aqui o importante é ressaltar o uso das drogas ditas lícitas, o álcool, anfetaminas e tabaco. A propósito, na Alemanha nazista mulheres fumantes eram mal vistas e geralmente descartadas enquanto procriadoras. Os impostos sobre o cigarro eram altos, e seu uso desaconselhado.

Com o fim da guerra, com a volta dos soldados estadunidenses, o tabaco e o cigarro tiveram seu uso popularizado. Como parte do plano Marshall, os EUA repassavam, na forma de contrabando, cerca de 70 toneladas anuais de tabaco para a Alemanha. E se antes da guerra mulheres fumantes eram consideradas de má fama, na década de 50 já eram aceitas como liberais. Também o uso de álcool era tolerado e por vezes glamourizado, desde que respaldado por uma companhia masculina.

Grupos de homens bebendo após o trabalho, em comemorações, para aliviar tensões sempre foram vistos com naturalidade. E as mulheres? Não é possível obtermos índices confiáveis sobre alcoolismo entre mulheres nas décadas de 50 e 60 por uma razão simples: Mulheres só bebiam socialmente e acompanhadas. Os truques eram muitos. Destilados em garrafas de vinagre ou detergente, o mascar constante de balas, cravos, e alho, a “soneca” depois do almoço que durava quase até a noite. O tabaco, mais aceito e não tão desmoralizante, acompanhava o álcool.

Também os anorexígenos, à base de anfetaminas e os barbitúricos, depois substituídos pelos benzodiazepínicos. Todas elas drogas legais, lícitas, fazendo girar a economia e a indústria farmacêutica.

Nos anos 60, com a disseminação da heroína, LSD e outras drogas, ficou explícito seu uso por homens e mulheres. Mas quando a sociedade ou a polícia se referia aos usuários, na ficção, na literatura, eram os homens que percorriam as estradas, contestavam valores, viciavam-se.
O efeito das drogas no organismo da mulher é bem mais intenso do que nos homens.

O tempo de tratamento, o grau de dependência e a letalidade também são maiores. Segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em 2012, SP, duas em cada dez mulheres costumam abusar regularmente do álcool. Paradoxalmente, apenas sete das oitenta vagas do Caps (Centro Psicossocial de Atenção ao abuso de Drogas e/ou Álcool) são ocupadas por mulheres.

Os dados contrastam com a média dos levantamentos feitos por institutos, universidades e o próprio CAPS.De acordo com o levantamento realizado pelo Centro de informações de Saúde e Álcool (http://www.cisa.org.br/), a proporção de mulheres maiores de 18 anos que consumia bebidas alcoólicas era de uma para cada sete homens. Hoje, o número é igual.

É necessário entender os fatores sociais, econômicos, profissionais, aliados ao preconceito e a vergonha em admitir a dependência. Afora o fato que muitas mulheres, enquanto maridos ou afeto buscam tratamento, mantém casa e família com os recursos da prostituição, o que praticamente inviabiliza o tratamento próprio.

Pervas – usuários de crack que só saem à noite, oferecendo e cobrando as companheiras em troca de drogas.

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