A extrema-direita nas democracias liberais da Europa

Se olharmos esses governos e mais a Rússia, hoje colocada como uma “autocracia ditatorial”, veremos que a democracia representativa liberal está sendo questionada

Foto: Ansa

Nove países, na Europa, têm mais de 20 milhões de habitantes e eles representam 64,0% da população europeia (545 milhões de habitantes). A Rússia, sozinha, tem 16,9% da população europeia, além de ser a maior em extensão, o que a coloca num espectro geopolítico importante dentro do contexto europeu. A Turquia (78 milhões de habitantes), governada por um sistema de poder ultranacionalista; a Ucrânia (43 milhões de habitantes), com um governo apoiado por forças nazistas, que estão dentro do seu aparelho estatal; e a Polônia (38,5 milhões de habitantes), governada por um partido de extrema-direita reacionária, revelando o peso da extrema-direita na Europa.

Se olharmos esses governos e mais a Rússia, hoje colocada como uma “autocracia ditatorial”, veremos que a democracia representativa liberal está sendo questionada. Mesmo nas democracias liberais ocidentais, nesse conjunto de países (Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha), tem sofrido forte pressão da extrema-direita.

Na Alemanha, há um eleitorado que se identifica com a xenofobia nacionalista do Alternativa para a Alemanha/ Alternative für Deutschland, AfD, que tem apenas 9 anos de vida e obteve 10,1% dos votos, o que não é pouco e o colocou como o quarto maior partido da Alemanha e com seus 83 deputados, o quinto do parlamento. De fato, olhando os números eleitorais, o AfD teve um progresso espetacular, pois na sua estreia, em 2013, teve 4,7% dos votos e nenhum eleito; e em 2017 chegou a 12,7% dos votos e conseguiu eleger 94 parlamentares. Seu pequeno recuo nas eleições do ano passado não afastam o peso que esse partido hoje detém na sociedade alemã, mesmo que o sistema político não lhe permita ter grandes esperanças para chegar ao poder.

Foto: Handelsblatt

Na França, onde vigora um sistema presidencialista, com um parlamento forte, as eleições de domingo (10/04), consolidaram a extrema-direita, com Marine Le Pen, que teve 23,2% dos votos (tivera 21,3% em 2017) e novamente está no segundo turno. Le Pen é a representação da extrema-direita nacionalista e xenófoba e o seu partido, a Reagrupamento Nacional/ Rassemblement national, que até 2018 era chamado de Frente Nacional/ Front national pour l’unité française, tradicional partido fascista francês, que era liderado pelo seu pai, Jean-Marie. A Reunião Nacional, embora tenha uma ínfima participação no parlamento, com 8 dos 577 deputados, teve quase 14,0% do eleitorado francês em 2017. As eleições que se realizarão em breve, condicionarão o papel da França no cenário internacional, mas a extrema-direita francesa parece se consolidar.

Marine Le Pen | Foto: Prensa Latina

No Reino Unido, onde vigora um sistema eleitoral que impõe um bipartidarismo, confirmada nas eleições de 2019, quando trabalhistas e conservadores tiveram nada menos que 75,8% dos votos e 567 dos 650 deputados. Os partidos declaradamente reacionários e de extrema-direita não tem relevância eleitoral, mas dentro do Partido Conservador há uma ala reacionária, liderada pelo atual primeiro-ministro Boris Johnson, cuja força se alimenta de um crítica dura que vários segmentos da sociedade inglesa (não britânica) à União Europeia, especialmente à Zona do Euro.

Foto: Governo do Reino Unido/Wikimedia Commons

Na Itália, são aos coalizões que dominam o cenário eleitoral, tornando o parlamento mais heterogêneo, mas nas eleições de 2018, o Movimento Cinco Estrelas/ Movimento 5 Stelle, nascido em 2009 como “antipolítica” e, embora não deva ser incluído como um movimento reacionário, sua postura oscila perigosamente, entre o centro e a extrema-direita. Sozinho o M5S obteve 32,2% dos votos e elegeu 112 dos 315 deputados, lembrando que na sua “estreia”, em 2013, teve 25,6% dos votos e 109 cadeiras. No campo da extrema-direita “tradicional”, a Liga e a Força Italia/ Lega Nord, já tem 30 anos de estrada e em 2018 teve sua maior votação, com 17,6% dos votos e 58 cadeiras, sendo que em 2013, tivera apenas 4,1% dos votos e 18 deputados, demonstrando que a pauta dessa extrema-direita separatista, cresceu; e o Força Itália, que chegou a ser dissolvido em 2009 e revivido em 2013, pelo magnata mafioso Silvio Berlusconi, chegou, em 2018, a 14,4% dos votos e 57 cadeiras, ou seja, a extrema-direita italiana acaba sendo um componente que precisa ser levada em consideração na montagem de qualquer governo e tem 32,0% do eleitorado.

Foto: Pietro Tasso/Wikimedia Commons

Finalmente a Espanha, as eleições de 2019 trouxeram à tona o Vox, nascido em 2013 e que agregava todo o pensamento reacionário e fascista que vivia nos pequenos movimentos e que se ressentia de espaço, que não tinha dentro do tradicional Partido Popular. Sua trajetória é fulminante. Na sua estreia, em 2016, teve insignificantes 0,2% dos votos; em abril de 2019 saltou para 8,4% dos votos e em novembro, apenas 8 meses depois, chegou a 15,8% dos votos, elegendo 52 dos 350 deputados e tornou-se a terceira força política do país.

Foto: Contando Estrelas/Wikimedia Comons

Portanto a extrema-direita está despontando entre as maiores democracias liberais da Europa e a Guerra na Europa, que ocorre desde fevereiro desse ano, poderá dar força a esses partidos e movimentos.

É esperar para ver o que acontece.

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