A longevidade da China

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Qufu, entrada do "Templo de Confúcio" Foto: José Medeiros

Sempre que tenho oportunidade visito Qufu, a terra natal do meu amigo Confúcio (551-479 a.C.). Já foram cinco visitas, sendo a primeira em 2008, alguns meses depois de ter aportado por essas bandas, e a mais recente em dezembro de 2019, poucas semanas antes do aparecimento dessa epidemia que tem redirecionado o funcionamento do mundo. Assim que entramos na cidade, somos recebidos por uma famosa sentença do mestre chinês reproduzida nos Analectos (Conversações), um livro escrito pelas suas primeiras gerações de discípulos: “Se um amigo vem de longe para nos visitar, não é isso uma felicidade?”

Por ser muito próximo de Qufu, sempre aproveito essas viagens para dar um pulinho até Zoucheng e assim poder saudar o amigo Mêncio  (372 a.C. – 289 a.C.), outro grande pensador e continuador do confucionismo. Aliás, quando se fala em confucionismo, necessariamente se está falando tanto em Confúcio quanto em Mêncio, seus principais expoentes.

Não há na China quem não saiba do papel decisivo da mãe de Mêncio para que o seu filho se firmasse no caminho dos estudos e assim se tornasse em um dos grandes pensadores do país. Não casual, ela continua a inspirar as jovens mães das gerações atuais.

Dessas viagens, a de 2016 e a de 2019 foram para acompanhar dois amigos professores, um da USP, profundo conhecedor do confucionismo e um outro da Unicamp, um profícuo pensador da cultura brasileira e atento observador da civilização chinesa. Nas várias horas que estivemos juntos compartilhamos promissoras reflexões sobre a força desse legado civilizacional chinês e a sua relevância, como fonte de inspiração para pensarmos o Brasil dentro de um horizonte de tempo bem mais alargado.

Em Zoucheng, no ano de 2014, com um descendente de Mêncio

Particularmente, eu gosto de voltar a essa parte da província de Shandong não apenas porque ali é o berço desses dois grandes expoentes do pensamento chinês pelos quais tenho uma admiração muito especial. Na verdade, o que mais me fascina nessas viagens é poder sentir ali que raízes tão antigas continuam vivas e a alimentar, gerações após gerações, essa grande civilização.

E acredito que nisso esteja uma das chaves essenciais para se entender a longevidade da China e sua atual vitalidade, pois é nesse passado que permanentemente se renova que o povo chinês renova suas forças e amplia os seus horizontes.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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