A Síria poderá assinar a paz com Israel?

Na semana que passou, a notícia que ganhou a grande imprensa foi a possibilidade de um acordo de paz entre Israel e a Síria. Isso envolveria a devolução das famosas colinas de Golã, tomadas pelos israelenses na Guerra dos Seis Dias de 1967. Envolto na pos

Colinas de Golã


 


As Colinas de Golã sempre fizeram parte, histórica e geograficamente falando, à Síria. Elas ficam situadas na tríplice fronteira dos países árabes Síria, Jordânia e Líbano. Na famosa Guerra dos Seis Dias em junho de 1967, quando Israel ocupou a Península do Sinai, toda a Palestina, parte do Sul do Líbano e essas famosas Colinas, que são estratégicas. Em 14 de dezembro de 1981, sob o governo de Menachem Béguin, então primeiro Ministro de Israel, as Colinas, por Lei aprovada pelo Parlamento de Israel, o Knesset, estas foram incorporadas definitivamente à Israel. A Síria nunca aceitou essa decisão e luta até hoje pela sua devolução.


 


Na semana passada veio a público, pela primeira vez em 41 anos de ocupação, a notícia de que Israel estaria disposta a devolver as famosas Colinas se a Síria assinasse um acordo de paz. Tecnicamente esses dois países estão em guerra, ainda que não tenha havido troca de tiros há décadas. A Síria não reconhece Israel e sempre defendeu um acordo de paz global no Oriente Médio. Isso nunca ocorreu. Primeiro, porque o Egito assinou um acordo de paz unilateralmente com Israel para ter de volta suas terras na Península do Sinai. Depois a Arábia Saudita. Não há unidade política entre os países árabes.


 


Essa notícia da devolução de Golã é bombástica e foi confirmada pessoalmente pelo presidente da Síria Bashar El Assad na semana passada. A informação vem de um intermediário, a Turquia.


 


Aqui devemos expressar uma opinião sobre esse assunto polêmico e não apenas noticiar o fato que foi amplamente divulgado. Não acredito que isso vá ocorrer. Até porque, para a opinião pública israelense, com o atual primeiro Ministro Ehud Olmert, muito enfraquecido, uma decisão dessa natureza, em uma localidade como Golã que é estratégica na defesa das fronteiras israelenses, isso seria visto pelo povo judeu como um grande sinal de fraqueza por parte do já enfraquecido governo de Israel.


 


Tanto os Estados Unidos como Israel continuam classificando a Síria como um país que apóia o “terrorismo” internacional, até pelo fato de que em Damasco estão sediados os escritórios dos principais grupos palestinos e libaneses, insurgentes, que lutam pela libertação tanto da Palestina, como do Iraque e do Líbano. Washington e Tel Aviv sabem que a Síria apóia o grupo Hezbolláh em sua jornada de luta pela oposição ao governo pró-EUA que manda no Líbano hoje.


 


O mais interessante nisso tudo é que na mesma semana que veio à tona essa trepidante notícia da devolução de Golã, os meios de comunicação controlados pela burguesia internacional divulgaram, através da Casa Branca, um suposto acordo nuclear que teria ocorrido entre Damasco e a Coréia do Norte. Fotos de satélite mostraram à imprensa o que poderia ser um reator nuclear desativado ao Norte do país. Tanto o embaixador sírio nos EUA, Imad Moustapha, como o embaixador na ONU, Bashar Jaafari, desmentiram categoricamente essa notícia, classificando-a de fantasiosa.


 


Não tenho dúvidas de que tais notícias, plantadas e produzidas artificialmente, vão no rumo de dificultar o diálogo necessário na busca da paz. Não vejo nenhuma possibilidade hoje de que Israel concretize essa devolução de terras sírias ainda neste ano.


 


E quanto à Bush, o presidente com a menor popularidade na história americana, vai concluir os poucos dez meses que lhe restam de mandato, tentando assinar um acordo de paz entre palestinos e israelenses. Mas, também neste aspecto, não vejo nenhuma possibilidade, pois tanto o presidente americano, quanto o primeiro Ministro israelense, seguem como pessoas fracas e sem condições políticas e morais de assinar acordos de paz. Isso tudo em meio à notícia, também prejudicial à Bush, de que este assinou uma autorização para que Israel prosseguisse nos assentamentos judaicos na Cisjordânia que estavam congelados até 2004. Tal carta foi enviada ao então primeiro Ministro Ariel Sharon. Disso, resultou hoje em quase 450 mil israelenses morando em terras palestinas. Um barril de pólvora e não vejo solução em curto prazo.

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