Amazônia, Poesia & Socialismo

A 61ª edição da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) recém realizada em Manaus (AM) contou, dentre a sua eclética programação, com uma mesa sobre “Amazônia, Ciência e Cultura”. A mesa foi organizada em parceria com a Fundação Mauricio G

Num auditório bastante concorrido, com uma platéia igualmente diversificada, cada expositor se empenhou em tratar a complexidade amazônica sob a ótica proposta.


 


 


Hugo Valadares enfatizou a importância de se conhecer a Amazônia e, ao mesmo tempo, registrou o profundo desconhecimento da região pela maioria da sociedade brasileira, até mesmo no ambiente acadêmico em que freqüenta.


 


 


Enio Candoti destacou a necessidade de se considerar e respeitar a cultura milenar de que são detentores os povos da Amazônia. Destacou, como reforço de seu argumento, a recente descoberta arqueológica que identificou restos humanos de mais de 9 mil anos na região. O que significa, segundo sua sustentação, de que a Amazônia é possuidora de uma civilização milenar, o que até hoje não era ou é reconhecido.


 


 


De minha parte, voltei a insistir naquilo que considero a essência de qualquer debate sobre a Amazônia: reafirmação da soberania nacional sobre a mesma e a correta compreensão das correntes que a polemizam e as suas motivações ideológicas. Ressaltei o papel da ciência e do conhecimento tradicional como forma de ocupá-la adequadamente, partindo da premissa de que não é possível imaginar a região como santuário e nem tampouco adotando um processo produtivo nos moldes tradicionais das demais regiões do país e de boa parte da própria Amazônia.


 


 


Cada um, a seu modo, fez um grande esforço e deu sua contribuição.
Thiago de Melo foi além. Ouviu com extraordinária atenção a todos os demais expositores, reforçando aqui e ali alguma observação que considerava pertinente. Na sua intervenção propriamente dita começou chamando a atenção da necessidade da academia e dos intelectuais falarem de forma mais compreensiva para o povo, denunciando – mesmo que não fosse essa a sua intenção – o enorme elitismo que tem caracterizado a produção acadêmica em nosso país e, certamente, no mundo.


 



Em seguida, como que para demonstrar de forma didática como se faz isso, recitou um poema de sua autoria – não sem antes solicitar que se retirasse da sala os que eventualmente não podiam se concentrar, pois a poesia exige silêncio e atenção.


 



Após o belo poema, discorreu sobre a sua vivência na Amazônia, seus encantos e as dificuldades por que passam os povos da Amazônia. Denunciou a ausência do estado, enquanto poder público, especialmente nos anos de política neoliberal.


 



Mas, disse em tom de desabafo, é preciso continuar lutando, buscando um novo rumo. E por isso “continuo socialista e, apesar de eventuais reparos, tenho em Cuba uma referência daquilo que considero mais justo para a humanidade”.


 



Não precisava dizer mais nada. O auditório quase veio abaixo. Sinal dos tempos.

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