Assalto ao céu

Não se trata de um arroubo saudosista pelo retorno a um período de trevas e escuridão, na sua plena concepção. Mas o fato é que, hoje, mais de dois bilhões de pessoas em todo o mundo não enxergam mais a Via Láctea. Mais um sintoma da degradação ambiental que tão bem caracteriza o capitalismo na atualidade.

Em defesa do céu noturno e pelo direito à luz das estrelas, astrônomos de todo o mundo, reunidos na 27ª Assembleia Geral da União Astronômica Internacional (IAU, na sigla em inglês), abrigados sob o céu do Rio de Janeiro entre os dias 3 e 14 de agosto, lançaram a campanha pela racionalização da iluminação das cidades.

Apenas um detalhe sobre o céu acima mencionado, da cidade anfitriã do encontro. Segundo Augusto Damineli, representante brasileiro do IYA2009 (Ano Internacional da Astronomia), em entrevista concedida ao jornal Estado de São Paulo no dia 14/08, diz que seria possível ver a olho nu, em um passado bem recente, até cinco mil estrelas, mas com a poluição luminosa calcula-se que hoje não passe de 150 as observadas.

Trata-se de uma justa campanha dos astrônomos que vai reivindicar a racionalização da iluminação nas cidades e lutar por “um céu noturno não poluído, que permita a contemplação do firmamento”, o que “deve ser considerado direito sociocultural e ambiental fundamental”, alertando que “a progressiva degradação do céu noturno deve ser vista como uma perda fundamental”. É o que assinala a resolução final do encontro que pode ser vista, em inglês, acessando http://www.astronomy2009.com.br/.

Como alternativa a esse processo, medida simples como a colocação de tiras de alumínio ao redor das lâmpadas do sistema de iluminação pública, direcionando a luz para baixo, pode impedir aquilo que já é mostrado pelos satélites: 30% da iluminação elétrica jogada (perdida) para o céu. Isso significaria também uma enorme economia de energia.

Tudo isso vem no bojo das comemorações do Ano Internacional da Astronomia (2009), quando comemoramos os quatro séculos desde as primeiras observações telescópicas feitas por Galileu Galilei. É uma celebração global da astronomia e suas imensas contribuições para o conhecimento humano que visa também popularizar essa que é uma das ciências mais antigas da humanidade e que deu origem a campos inteiros da física e da matemática, além de ter tido papel fundamental na organização do tempo e do espaço explorados pelos povos, como bem lembra o manifesto do IYA2009. Outra ação importante que vai ser realizada este ano é a Maratona da Via Láctea.

“Você ainda consegue ver a Via Láctea da cidade aonde mora? Ou pertence à legião cada vez maior de brasileiros que nunca conseguiu divisá-la? Você já reparou que pode ver muito mais estrelas quando viaja para cidades pequenas ou para áreas rurais longe das grandes cidades?”. Se você tem curiosidade de saber como a Via Láctea é vista na sua cidade vale a pena acessar http://www.astronomia2009.org.br/.

Essas perguntas nos fazem refletir sobre o modo de vida da maior parte da população, determinado pela imposição das suas próprias relações de produção, que nos torna cada vez mais alienados e coniventes com um sistema que nos priva até mesmo de contemplar a beleza do firmamento. Estrelas e planetas que por milhares de anos guiaram e inspiraram a humanidade, vão perdendo o encanto.

A essa jornada dos astrônomos brasileiros nos unimos, seguros de que nosso céu voltará a ser risonho e límpido, rompendo a nebulosidade do capital.

A imagem que você verá clicando abaixo, faz a seguinte pergunta: Como você vê a Via Láctea na sua cidade?

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