Bola atrasada

A vitória da seleção feminina brasileira no Campeonato Mundial de Handebol foi resultado de uma brilhante jornada da equipe verde-amarela. Mas é mais um feito localizado na história do esporte brasileiro, que hoje não pode se queixar de dinheiro, mas segue nas mãos de olímpica cartolagem.

As meninas do handebol deram um show de bola, vencendo as nove partidas que jogaram, duas das quais contra a Sérvia, anfitriã e favorita nata neste esporte. Mas não deixa de ser um caso isolado no quadro do esporte olímpico brasileiro, que ano após ano tem sido motivo de quebra de expectativas, de puro desencanto.

As Olimpíadas de Londres, em 2012, renderam ao Brasil magras 17 medalhas, sendo apenas três de ouro. Um resultado pífio, diante do que deveria ser a nova realidade esportiva do país, por vários motivos. Primeiro, porque as leis surgidas no Brasil (Agnelo/Piva, Bolsa-Atleta e outras), a criação do Ministério do Esporte e políticas implantadas a partir de 2002 indicavam rumo mais promissor.

Naquele período, de uma hora para outra, o dinheiro destinado ao esporte cresceu em mais de 30 vezes, administrado principalmente pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB), uma entidade privada, como a CBF no futebol. A Agnelo/Piva é aquela lei que destina 2% da receita das loterias federais aos esportes olímpico e paraolímpico.

Além disso, há também o patrocínio de empresas estatais, como Banco do Brasil, Correios, Caixa Econômica e Petrobrás. É dinheiro é público, só que mal aplicado, pelos resultados que apresenta. E a bolsa-atleta beneficia o desportista que já apresente algum resultado, o que é conseguido por esforço de cada um, não como efeito de uma política massificada, em número de pessoas e modalidades atendidas.

O presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, disse, ao avaliar o desempenho brasileiro em Londres, que “é preciso diversificar as modalidades em que atuamos”. Descobriu a pólvora, o veterano dirigente dos esportes olímpicos, no cargo desde 1995. E o pior é que as previsões são de que o quadro não se altere até as Olimpíadas do Rio de Janeiro, daqui a dois anos.

O ano que vem será um ano eleitoral. É de se esperar que os candidatos tenham a consciência de que o esporte não é um simples penduricalho nas políticas públicas. É, ao contrário, uma atividade essencial, até porque está imbricada com educação e saúde, pelo menos.

O fato é que o esporte de base é relegado a um segundo plano, como demonstram vários indicadores. As universidades brasileiras, por exemplo, jogam no mercado mais de 30 mil novos profissionais de educação física por ano. Ou seja, em tese o Brasil está bem servido de pessoal para atuar na massificação das atividades esportivas.

O problema, no entanto, é que grande parte dos profissionais que se formam atende ao chamado mercado. Eles vão atuar na área de fitness (condicionamento físico), nas academias de ginástica ou no atendimento personalizado a fregueses endinheirados. Prevalece a visão o esporte como privilégio de poucos.

Outros problemas são evidentes, como o uso de espaços urbanos para esporte e lazer. Mesmo em cidades pequenas do interior, é comum vermos áreas que serviam a este fim serem transformadas em estacionamentos de carros ou prédios comerciais. As prefeituras, de um modo geral, investem muito pouco nessas áreas.

Portanto, a equipe de handebol é resultado de empenho de um grupo de atletas abnegadas e do técnico dinamarquês Morten Souback, que levou o grupo inteiro para jogar num time da Áustria. Aliás, a contratação de treinadores estrangeiros é normal em modalidades que ainda não contem com profissionais de ponta no país.

Este feito do handebol, contudo, em nada desfaz a situação geral dos esportes olímpicos no Brasil, que mantêm a bola atrasada, tanto nos modais de equipe quanto nos individuais, de alto rendimento.

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