Bolsonaro quer uma ditadura. Qual é a surpresa?!

Bolsonaro está sendo absolutamente coerente. Sempre defendeu a ditadura e a anticiência. E os que servem ao seu governo, em cargos de confiança do 1º ao 3º escalão, ou concordam com isso ou são suficientes cínicos para fingir discordância sem entregarem os cargos.

Bolsonaro - Carlos Latuff

Mas, de onde vem essa vertente autoritária e como ela se alimenta no seio da sociedade?

A humanidade, segundo os estudos de Lewis Henry Morgan, publicados em A Sociedade Antiga (1877), experimentou 3 etapas básicas no processo de desenvolvimento: selvageria, barbárie e civilização, bem como desenvolveu 7 grandes ideias, ou seja, subsistência, governança, linguagem, família, religião, arquitetura e propriedade.

Sinteticamente, pode-se dizer que a selvageria termina com o domínio do arco e da flecha e a invenção da arte da cerâmica; que a barbárie termina com a domesticação de animais, o cultivo irrigado de milho e plantas, o uso de tijolos de adobe e pedras na construção de casas, a manufatura de ferro, o desenvolvimento do alfabeto fonético e o uso da escrita em composição literária; e a partir desse ponto se inicia a civilização, cuja trajetória estamos percorrendo.

Mas o próprio Morgan já chamava atenção para o fato de que esses fenômenos não correm de forma retilínea no conjunto da sociedade, nem mesmo dentro de uma determinada parcela social, o que explica porque, às vezes, temos a sensação de houve um retrocesso civilizacional. Não é isso. É apenas e tão somente a eterna luta dialética de que “o novo nega o velho e o velho nega o novo”. Uma mesma sociedade pode apresentar traços destas distintas etapas de nosso desenvolvimento.

É o que explica porque, às vezes, observamos, ao redor do mundo e no Brasil, numa mesma sociedade, manifestações que muito se assemelham a práticas da barbárie e mesmo da selvageria. Essas ideias existem e estão presentes em certos grupos sociais. Isso é ciência. E se entendermos adequadamente fica mais fácil compreender o que estamos vivenciando no Brasil, nessa etapa atual da nossa história.

As falanges de apoiadores de Bolsonaro expressam, como ninguém, essas contradições. Uma parcela se anima por ideias da selvageria (a negação da ciência), outro segmento faz apologia da barbárie (a violência e o autoritarismo como método) e num terceiro grupo estão os adoradores do “deus mercado” e do fetiche da propriedade privada, que é uma das manifestações mais primárias da etapa atual.

A pregação anticientífica, que vai do criacionismo à grotesca afirmação de que a terra é plana e agora se expressa na negação de medidas preventivas contra a pandemia do coronavírus, guardam traços da selvageria, onde o conhecimento científico era, compreensivelmente, bastante rudimentar.

Já a defesa da ditadura é a expressão de uma das principais características da barbárie, onde o invasor podia escravizar quem a ele fosse subjugado, onde a única regra era o poder da força bruta, desde sempre alimentada pela teoria de outro pensador inglês, Thomas Hobbes, na obra o Leviatã (1651) para quem a única hipótese da população viver em sociedade sem se destruir mutuamente era sob o tacão de um imperador com poderes absoluto. Aí está a base teórica do estado autoritário.

E o estímulo para contaminar as pessoas com coronavírus e, consequentemente, aumentar o número de mortes, expressa, a um só tempo, traços da selvageria (carência de ciência) e da barbárie, em particular o objetivo de diminuir a população pobre por guerras e epidemias, como sugeria Malthus.

E por que, diante dessas barbaridades ele ainda detém algo como 30% de apoio?

Em primeiro lugar, reconheçamos, sendo coerente na defesa do que ele sempre defendeu: a ditadura, a tortura, a anticiência e a ojeriza aos pobres. E, como nós aqui demonstramos, há gente que pensa como ele e outra parcela – a mais simples – é manipulada pelo palavreado e pelo trabalho de destruição moral que os meios de comunicação, o congresso (quanta ironia) e o judiciário fizeram contra a política como um todo e a esquerda em particular. Foi a famosa operação “com supremo com tudo…”.

Em segundo lugar alimentando a sua base com um palavreado eivado de demagogia, mas absolutamente direto, objetivo, subordinado ao seu propósito de sepultar a frágil democracia brasileira e voltar a estabelecer uma ditadura militar, da qual ele sempre foi um ardoroso defensor, incluindo a parte mais abjeta da ditadura, que foram as torturas covardes (o “valente” torturador agride alguém indefeso) e criminosas (não tem amparo em nenhuma arcabouço legal do mundo).

Assim, o que está ocorrendo, era previsível. A vida nos ensina que quando se abre a porta do “inferno” não é razoável supor que de lá saiam arcanjos. O mais provável é que saiam “demônios”. É o que se poderia esperar de um governo que é a resultante do golpe contra a democracia em 2016.

A economia do país está em frangalhos, o desemprego e o subemprego flagelam mais de 40 milhões de brasileiros e o sistema de saúde está colapsado pela crise do Coronavírus.

Mas, ao invés de gastar a energia do governo tentando resolver esses problemas, ele consome recursos públicos fazendo exatamente o contrário: agredindo o Congresso, o STF, a democracia e estimulando o aumento da contaminação por coronavírus para, quem sabe, diminuir a população de pobres “através das guerras e epidemias”, como defendia Thomas Malthus, em An Essay on the Principle of Population (1798).

Bolsonaro já demonstrou que não tem condições de governar o país. Não está à altura da honrosa tarefa que lhe foi concedida. Urge que se busque uma saída, antes que o país como um todo entre em colapso.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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