Bom sinal enviesado

Agenda da reconstrução nacional implica pesados investimentos internos, públicos e privados, especialmente na indústria e em infraestrutura

Agências de avaliação de risco são instrumentos de pressão do capital financeiro internacional sobre os governos.

O economista Carlos Lessa, quando presidente do BNDES, no primeiro governo Lula, sublinhou esse entendimento dizendo, em debate na Federação das Indústrias de Pernambuco, que tapava os ouvidos quando se anunciavam notas dessas agências em relação à economia brasileira.

Toda nação verdadeiramente soberana deve se guiar por projeto próprio.

No mundo atual, com a chamada economia global submetida a instrumentos de regulação monopolizados pelas grandes potências, não é fácil mas é possível .

É o que o presidente Lula tem tentado afirmar no esforço de recuperar o coprotagonismo do Brasil na cena internacional.

Entretanto, vale anotar o anúncio da agência de classificação de risco Fitch, que elevou a nota de crédito soberano do Brasil a BB.

Antes, sob a herança de Bolsonaro, era BB-.

O comunicado assinala “um desempenho macroeconômico e fiscal melhor do que o esperado, em meio a sucessivos choques nos últimos anos, políticas proativas e reformas que apoiaram isso e a expectativa de que o novo governo trabalhará para melhorias adicionais”.

E em termos presunçosos: “a Fitch espera que o pragmatismo e os freios e contrapesos institucionais mais amplos evitem desvios radicais de macro ou micropolítica.”

Analistas da grande mídia tupiniquim se apressaram em advertir que a nota atual do país, B, ainda é de grau especulativo. Acima há BB (também especulativo) e BBB, quando o país é classificado como em grau de investimento. O Brasil está, portanto, segundo a tal agência, a dois degraus de obter grau de investimento.

Mas não deixa de ser um estimulo indireto a investidores externos, que são levados a crer na ausência de risco de calotes decorrentes de medidas governamentais abruptas e arriscadas.

Essa nota de crédito positiva implica redução do custo da dívida de empresas e do país. Uma boa classificação resulta em menor dispêndio com financiamentos.

Estima-se que já há uma avaliação aproximadamente semelhante em relação ao Brasil por parte das três principais agências  mundialmente reconhecidas – a Standard & Poor’s e a Moody’s (que ainda não se pronunciaram) e a própria Fitch Ratings.

Ainda que enviesado, elemento muito positivo em razão de que, apesar do ambiente de crise e incerteza da economia mundial, há uma liquidez razoável e, portanto, margem considerável para investimentos em economias com as características do Brasil.

Sob prisma político, ponto para o governo Lula.

Entretanto, a agenda da reconstrução nacional implica pesados investimentos internos, públicos e privados, especialmente na indústria e em infraestrutura.

O governo percorre uma estrada ainda palmilhada por dificuldades — condicionantes macroeconômicos ultraliberais, sobretudo — e coleciona êxitos como estímulo a seguir no rumo traçado.

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