Ciência e pandemia

Aprendemos que com tanta tragédia e um presidente obscurantista, a penalidade não cai sob quem pratica o desmatamento e estimula queimadas, por exemplo, mas cai sob o cientista que denuncia tais crimes.

Um pesquisador da graduação recebe uma bolsa de R$400,00 mensais; valor que há anos não tem reajuste, que não conta com décimo terceiro, licença, férias ou quaisquer direitos trabalhistas. Ainda assim, esse pesquisador precisa se resolver diariamente com seus horários – com até 12 horas de laboratório por dia, ou até mais tempo diante de uma tela para organização de dados.

O que alguns chamam de balbúrdia, na realidade significa a sobrevivência de pesquisas sérias para combater diversas doenças ou desenvolver novas técnicas; Mais recente, são esses pesquisadores, diariamente atacados, que tomaram a linha de frente do combate à pandemia – lado a lado dos profissionais da saúde que arriscam suas vidas.

Para além das ameaças mais explícitas dos cortes de bolsas, a cruzada anticientífica realizada pelo atual governo tem dificultado cada vez mais a implementação de políticas sérias e comprometidas com a melhoria da vida do povo. Exemplos não faltam: Do Inpe, à censura da Ancine; do desmembramento do Ibama aos cortes no Censo. Aprendemos que com tanta tragédia e um presidente obscurantista, a penalidade não cai sob quem pratica o desmatamento e estimula queimadas, por exemplo, mas cai sob o cientista que denuncia tais crimes.

Na polarização constante que o Brasil se afundou, a ciência parece estar em um reality show, um cabo de guerra pela disputa da opinião pública, como se método científico se disputasse com opinião. Em meio ao que me ouso chamar de desafio geracional, há ainda quem siga acreditando que há de se escolher entre economia e preservação da vida, como se a primeira não existisse apenas para servir a segunda, aliás não há economia sem vida e nem nação sem povo.

Fala-se muito sobre hidroxicloroquina, como se houvesse uma conspiração internacional entre todos países e órgãos de pesquisa para esconder a cura da tragédia que nos atinge – mais uma vez colocando o cientista como vilão e exaltando o contraditório abertamente. Com a pandemia de fakenews que coloca mais vidas em risco em meio à covid-19, ser pesquisador e combater o anticientificismo torna-se um desafio diário de resistência.

Sobrecarga, angústia, vulnerabilidade e muita coragem, adjetivos que acompanham nossos cientistas em meio ao caos que vivemos.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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