Como participar dos movimentos a favor da democracia?

Se não puder chegar a tempo, encerrando o texto às 17 horas, ausente portanto do maravilhoso protesto, estarei com a consciência em paz?

Há pouco, tentei atravessar este dilema: escrever minha coluna ou sair com todo os democratas para exigir a volta da liberdade ao Brasil?

Sei que muitos democratas poderiam responder: e existe esse dilema? E continuariam: – É sair ou sair, sem qualquer dúvida ou hesitação. Outros, mais ponderados dirão: – Neste 11 de agosto de 2022, não tem dilema. Você escreve e sai. Ou sai e escreve depois…

Antes, esclareço que escrevo esta coluna durante a quinta-feira, porque não quero atrasar a sua publicação na sexta. E a movimentação de protestos no Recife é daqui a pouco, a partir das 15 horas. Então, como achar o ponto de partida do texto e seu desenvolvimento, para concluir o dever de escritor até as 14 horas? O espaço de tempo é miserável e cruel: estamos às 10 e 30 da manhã, perto das 11, e enquanto penso e arrumo parágrafos, teria que partir rumo à Rua da Aurora. Estaria feliz assim, sem terminar o texto que virou uma obrigação religiosa? Por outro lado (e parece existir só um), se não puder chegar a tempo, encerrando o texto às 17 horas, ausente portanto do maravilhoso protesto, estarei com a consciência em paz? Olhem, se me expresso como escritor, devo dizer: essa ausência é o mesmo que uma noite de amor perdida. Não volta mais nunca.

Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Então fico pensando e procuro uma saída, que poderia ser a reabilitação de textos perdidos. Recupero e saio, imagino. Mas não adianta, porque o assunto e o pensamento de tudo é isto: “11 de agosto: atos pela democracia acontecem em todo o país; confira locais. 25 capitais e o DF já tem atos pela democracia marcados nesta 5ª (11); Além das capitais, cidades do interior também estão organizando manifestações em defesa do sistema eleitoral e da democracia”

Então, enquanto penso em participar e cumprir o que devo, comento.

O ocupante infame da presidência, ainda nesta semana, zurrou: “Vimos agora há pouco uma cartinha em defesa da democracia…..”.

Mas a cartinha exigindo o respeito ao voto democrático tem quase um milhão de assinaturas. E possui a eloquência dos justos, de uma onda que cresce nestas palavras:

“Nos próximos dias, em meio a estes desafios, teremos o início da campanha eleitoral para a renovação dos mandatos dos legislativos e executivos estaduais e federais. Neste momento, deveríamos ter o ápice da democracia com a disputa entre os vários projetos políticos visando a convencer o eleitorado da melhor proposta para os rumos do país nos próximos anos.

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Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições.

Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional”.

Mas sabemos todos que bem antes do início da campanha, aquele que assenta o traseiro na cadeira da presidência já faz jogadas eleitorais em tentativas de comprar a consciência dos mais vulneráveis da população brasileira, com uma esmola de 600 reais por mês, para assim manter a massa como gado. Nisso vai o respeito que ele tem pelo povo. Manda pagar uma ração até as eleições, e todo rebanho há de fazer o que ele quiser, pelo que ele espera. Ao mesmo tempo, seus ataques à honestidade das urnas, com o apoio dos militares servis à negação do Brasil, faz boicotes declarados ou ilícitos, desonestos, à votação legítima.

Por isso fala a “cartinha” mais justa dos últimos tempos:

“Nossas eleições com o processo eletrônico de apuração têm servido de exemplo no mundo. Tivemos várias alternâncias de poder com respeito aos resultados das urnas e transição republicana de governo. As urnas eletrônicas revelaram-se seguras e confiáveis, assim como a Justiça Eleitoral”.

Foto: Herton Escobar/USP Imagens

Para isso, o genocida fantasiado de presidente incentiva os seguidores à violência para a matança dos democratas:

“Comprem suas armas. Isso também está na Bíblia”,

Ao que responde a cartinha da civilização brasileira:

“Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar de lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática…

No Brasil atual não há mais espaço para retrocessos autoritários. Ditadura e tortura pertencem ao passado. A solução dos imensos desafios da sociedade brasileira passa necessariamente pelo respeito ao resultado das eleições.

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Em vigília cívica contra as tentativas de rupturas, bradamos de forma uníssona:

Estado Democrático de Direito Sempre!”

É claro, é mais que uma carta, é um roteiro de esperança. Sabemos todos que as vozes do passado da ditadura continuam impunes, os assassinos passeiam e gritam como se fossem bravos heróis. Bem sabemos que a tortura continua a ser praticada nos presídios brasileiros e nas delegacias de polícia, Que a morte é uma sentença permanente contra negros, pobres e humilhados do Brasil. Que a própria existência de um animal como presidente é reflexo da barbárie nacional, que ainda sobrevive.

Mas é com esse roteiro que um clamor de perseguidos vem crescendo, e ganham vulto os protestos contra a fome, a volta dos resistentes de todas as idades, jovens e idosos de volta à rebeldia da juventude. As notícias falam que um eletricista de nome Celestino Conceição Lima, de 81 anos, declarou:

“Em 81 anos de vida, já vivi de tudo. E posso garantir que a democracia é o melhor regime que o Brasil já teve. Sou contra qualquer golpe. Quero deixar pros meus bisnetos um Brasil de liberdade”.

Isso para mim é poesia viva, uma prova de humanidade que Homero não cantou.

Enquanto isso, o escritor não foi às ruas. Diabo, como poderia fugir do impasse de estar presente e não aparecer no maravilhoso ato? Espero que os amigos e leitores me concedam a graça de ter estado entre eles com estas linhas. A civilização pela qual lutamos é a pátria da compreensão. E do mais generoso consolo também.

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