Contrarrevolução, manifestações populares e diálogo

Sou daqueles que consideram o mundo melhor com a ONU do que sem ela. Mas não sou ingênuo ao ponto de supor que a paz mundial e o multilateralismo, o direito internacional e a democracia nas relações entre os estados nacionais dependem de alguma sorte de “imperialismo benigno”, à moda do velho Wilson, do “multilateralismo assertivo” da era Clinton ou do “soft/smart power” da era Obama.

Agora virou moda que reacionários contumazes, direitistas empedernidos, centro-esquerdistas de ocasião, sociais-democratas num degradê de vermelho ao rosa-choque ocupem espaços midiáticos ou as tribunas próprias do seu ofício para pedir diálogo de governos revolucionários com manifestantes e condescendência “democrática” com a contrarrevolução.

Em meio a manifestações ocorridas na Ucrânia e na Venezuela, autoridades da ONU e especialistas em direitos humanos afirmaram que os governos devem facilitar as manifestações em vez de criminalizá-las, é o que informa um despacho da Agência Brasil da semana passada.

Curioso é que se misturam alhos com bugalhos e se fazem alertas “democráticos” indistintamente em favor de black blocs brasileiros em manifestações contra a realização da Copa do Mundo de Futebol, de representantes das oligarquias pró-imperialistas venezuelanas e de notórios nazi-fascistas ucranianos atuando em prol da União Europeia, da Otan e do imperialismo estadunidense, usando retórica e gestos belicistas, em aventura contra uma Rússia com o poder nacional redivivo para o contragosto dos Estados Unidos e seus aliados.

Especialistas da ONU e seu secretário-geral, Ban ki-Moon resolveram deitar falação sobre o “direito à assembleia, expressão e associação”, garantidos pelo direito internacional. 

Por aqui, alguns creem que podem pressionar o governo venezuelano e torná-lo dócil diante dos desígnios golpistas da oposição.

Tenho a firme convicção de que estão confundindo contrarrevolução com manifestação popular. Como dialogar, no caso da Venezuela, por exemplo, com as hordas incitadas pelo neofascista Leopoldo Lopes? O presidente bolivariano Nicolás Maduro convocou e realizou uma conferência de paz, espaço credenciado para o debate e o confronto de ideias, mas tanto os bandos de Lopes quanto os seguidores do candidato presidencial derrotado Capriles desqualificaram o evento. Nesta quarta-feira, 5 de março, quando toda a Venezuela bolivariana e anti-imperialista, num preito de saudade homenageou o grande líder venezuelano Hugo Chávez na passagem do primeiro aniversário do seu falecimento, grupos direitistas vandalizaram a cidade de Caracas.

A mídia conservadora em toda a América Latina dá mão forte a esses atos e os trata como “manifestações”, o que vale como pressão sobre os nossos sociais democratas.

Na Venezuela e na Ucrânia, não estão ocorrendo manifestações populares a "respeitar" e com que "dialogar". Quando as forças reacionárias levantam a cabeça, os comunistas e revolucionários não podem deixar-se embair por falsos discursos, como se democratas-liberais fossem, em nome de falso diálogo.

Se quisermos ser rigorosos, o desenrolar dos acontecimentos está deixando à mostra as limitações das instituições democrático-burguesas. A transição para um sistema revolucionário requer instituições revolucionárias. Não está distante o momento em que este tema terá de ser deslindado e novas experiências institucionais que assegurem a força e o poder às massas populares e aos partidos que as representam, serão submetidas à prova e prevalecerão.

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